Tornou-se tradição entre escritores britânicos que assumem títulos de super-heróis do mainstream americano recauchutar personagens. Foi assim quando Alan Moore conduziu o Monstro do Pântano, quando Grant Morrison deu uma nova vida ao Homem-Animal e Neil Gaiman criou um Sandman a partir do zero. Ao ser incumbido de escrever Swamp Thing, em 1994, Mark Millar não fez diferente.
Mas, antes, é preciso estabelecer um ponto: deixe de lado o Monstro do Pântano de Alan Moore. Aqui, a pegada é outra. O que Moore fez provavelmente nunca será igualado, o que não invalida os trabalhos de outros autores à frente do título, como a passagem de Charles Soule pela revista, há pouco tempo, e o próprio run de Mark Millar.
A verdade é que a revista do Elemental do Verde não ia bem das pernas. Após a saída de Moore, as vendas caíram com o passar dos anos e, mesmo com o Monstro do Pântano fazendo parte do selo Vertigo e a tentativa da DC de revitalizá-lo com a contratação da escritora de terror Nancy Collins como roteirista, os resultados não foram muito animadores. Lembra que Alan Moore pegou Swamp Thing em situação parecida? Pois o mesmo aconteceu com Mark Millar, que assumiu a partir do número 140, numa parceria com Grant Morrison que se estendeu até a edição 143 (Millar passa a escrever sozinho na 144).
No início deste volume, que compila as edições 140 à 145 de Swamp Thing, a Panini explica que as fases anteriores de Doug Wheeler e Nancy Collins não foram lançadas em coletâneas, mas é possível, sim, iniciar uma leitura tranquila em Raízes do Mal. A história tem início com Alec Holland acordando desmemoriado em algum lugar no Peru, onde pesquisava plantas alucinógenas (com descrições que, com certeza, são cortesia de Morrison). Holland, por algum motivo, não é mais o Monstro do Pântano e, enquanto recupera-se, o curandeiro local, chamado Don Roberto, alerta Alec de que sonhou com Abigail Arcane em perigo. Enquanto isso, nos EUA, um Monstro do Pântano descontrolado segue o rastro de Abigail, que agora vive com outro companheiro.
A leitura é rápida aqui. Morrison e Millar não perdem tempo com muitas explicações nem com as discussões existencialistas típicas das fases de Moore e Rick Veitch. A ação vai de um ponto a outro em passadas rápidas de páginas, deixando muitas perguntas pelo caminho que serão respondidas ao longo dos próximos encadernados. Enquanto vemos Holland lidando com seu novo status, acompanhamos o Monstro deixando destruição por onde passa, até que o caminho de ambos se cruza.
A dupla sabe como criar suspense e deixa ganchos ao fim de cada história, entregando novos coadjuvantes interessantes, como o Roberto citado acima e um homem misterioso que lembra muito a versão de Odin em Sandman (na verdade, John Constantine e Vingador Fantasma seriam utilizados no arco, mas os personagens não foram liberados por algum motivo), e conduzindo subplots que serão trabalhados adiante, como o surgimento do Parlamento das Pedras e a contratação de um mercenário para destruir Holland/Monstro.
Os desenhos apresentam aquele problema típico da maioria das revistas do início do selo Vertigo: erros de anatomia, soluções narrativas que algumas vezes dificultam a condução dos quadros e más escolhas na diagramação de várias páginas. Phil Hester até que se esforça, mas nem de longe lembra o traço que refinaria anos depois. As capas ficam a cargo de John Mueller, que emula algo de Simon Bisley.
Raízes do Mal traz uma boa história e conceitos interessantes, abrindo novas possibilidades para o Monstro do Pântano e que, se peca em alguns momentos (arte e uma resolução preguiçosa do 1º arco), acerta numa trama que instiga à leitura dos próximos volumes.
Roteiro: Grant Morrison e Mark Millar.
Arte: Phil Hester.
Editor: Stuart Moore.
Capa: John Mueller.
Publicação original: Swamp Thing: The Root of All Evil (agosto de 2015) / Swamp Thing #140-145 (fevereiro a agosto de 1994).
No Brasil: abril de 2017.
Nota dos editores: 3.0
Nota dos leitores: 0.9
Faltou a nota
Minha nota: 2.6
Um bom começo. Nada impressionante. Acho a fase do Charles Soule bem melhor.
Foi nessa fase que Morrison e Millar brigaram?
Foi depois, Reginaldo, por volta do início dos anos 2000. Dizem que por divergências nos créditos de histórias, mas parece ser algo mais pessoal.
E sim, a passagem do Charles Soule é bem mais consistente.