Se você não conhece a história pregressa de Jeff Dahmer, não estrague a surpresa! Leia a HQ independente de Derf Backderf sem “pré-conceitos”, é a melhor forma de desfrutar esse quadrinho adulto. Aviso isso logo de cara para você ler a HQ e voltar aqui depois.
Já leu? Ótimo.
Jeffrey Lionel Dahmer (21 de Maio 1960 – 28 de Novembro de 1994) foi um serial killer americano que assassinou 17 homens entre 1978 e 1991, sendo a maioria dos assassinatos ocorridos entre os anos de 1989 e 1991. Seus crimes eram particularmente hediondos, envolvendo estupro, necrofilia e canibalismo. Não necessariamente nessa ordem. A mente deturpada de Jeff Dahmer sonhava em criar o escravo sexual perfeito, um zumbi subserviente sem nenhum controle do corpo. Para isso, Dahmer fazia uma abordagem “pseudocientífica”, abrindo pequenos furos com uma furadeira na cabeça das vítimas e jogando ácido dentro.
Porém, antes desse cenário horripilante que nem parece verdade, Jeff Dahmer (o canibal) e Derf Backderf (o autor) estudaram junto no segundo grau. E não eram tão diferentes assim. Ambos eram nerds, deslocados do grupo social da escola e tinham brincadeiras esquisitas. Derf Backderf comenta que foi no cinema, no dia do baile de formatura da escola, enquanto Dahmer não só compareceu como levou uma acompanhante, também. Só não ficou do lado dela, mas isso já é outra história.
A escalada de insanidade de Jeff Dahmer foi gradativa. Ou melhor, progressiva, já que a violência só aumentou com o passar do tempo. Um bom exemplo descrito na HQ é a passagem em que Dahmer demonstra interesse em desmembrar pequenos animais; porém, só fazia isso com os animais que já encontrava mortos, no caminho da escola para casa.
O mais assustador na HQ são, sem dúvida, esses dois ecossistemas: a escola opressora dos anos 70 e a vida tumultuada em família.
O que sobra é uma história forte, com um desenho bem expressivo, um trabalho sincero e honesto, com um pontinha de culpa, como se fosse possível fazer alguma coisa para impedir o horror que viria nos próximos anos. Em algumas páginas, Backderf mostra uma perspectiva do próprio Dahmer caminhando. Por um breve momento o leitor pode se colocar no lugar do jovem confuso e tentar, só por um momento, escolher outra trilha que aqueles pés estavam tomando.
A edição da DarkSide é digna de nota: capa dura, papel de alta gramatura, textos complementares e extras, como num filme. A edição, juntamente com outros dois títulos, é o primeiro trabalho da editora no mercado de quadrinhos, com a criação do selo DarkSide Graphic Novel. A proposta é uma expansão do universo sombrio e fantástico da editora, e pretende trazer histórias de vários gêneros.
“São títulos que fogem do óbvio, obras inéditas, autores consagrados e artistas que estão renovando o mercado. Um verdadeiro panorama do que há de mais dark no mundo dos quadrinhos”, afirma a editora.
Se Meu Amigo Dahmer é um aperitivo do que está por vir, teremos ótimos materiais em breve. Um bom começo!
Roteiro: Derf Backderf
Arte: Derf Backderf
Editor: Bruno Dorigatti
Capa: Derf Backderf
Publicação original: My Friend Dahmer (fevereiro de 2012)
No Brasil: junho 2017
Nota dos editores: 4.7
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