100 Anos de Jack Kirby: O Universo Marvel e os Eternos

Como parte de nossas comemorações pelos 100 anos do mestre Jack Kirby, apresentamos abaixo uma livre tradução do texto de Robert Greenberger para o encadernado Eternals by Jack Kirby, Vol. 2.

O UNIVERSO MARVEL E OS ETERNOS

Quando Jack Kirby criou os Eternos, no final dos anos 1970, ele nunca teve a pretensão que suas criações cósmicas fizessem parte do amplo Universo Marvel. Kirby era seu próprio editor e pensou que conseguiria separar a trama dos Eternos e Celestiais do restante do Universo Marvel. Porém, os editores da Marvel sediados em Nova Iorque clamaram pra que a série fosse integrada.

Relutantemente, Kirby permitiu que os agentes da S.H.I.E.L.D. aparecessem, junto a imitações do Hulk e do Coisa. Após o fim da série, em 1978, Kirby parou de trabalhar com a Marvel e os personagens foram abandonados, finalmente permitindo que os editores fizessem o que queriam.

O roteirista e editor Roy Thomas foi o primeiro a integrar a cosmologia dos Eternos e Celestiais com o aspecto cósmico do Universo Marvel. Para Thomas, parecia natural que um conflito se desenvolvesse entre seres de origens opostas: ciência e magia. Começando em Thor nº 280, de 1979, até a edição nº 300, os Asgardianos confrontaram os Celestiais. Os Eternos, prole das experiências dos Celestiais na Terra, ficaram contra seus criadores. Ao fim da batalha, a maioria dos Eternos formou a Uni-Mente (um processo de união mental onde cada Eterno cedia sua individualidade para formar um organismo composto e energizado, em forma de gigantesco cérebro flutuante) e saíram explorando as galáxias, deixando apenas uns poucos remanescentes na Terra.

Uma vez aberta a porta, pequenas e grandes partes da linha temporal da Marvel começaram a exibir envolvimento dos Celestiais, Eternos e/ou Deviantes. Por exemplo, os Celestiais, seres com seis quilômetros de altura, têm um vínculo especial com a Eternidade, o avatar do universo. Eles inclusive realizaram ações a pedido da Eternidade. Sempre que o Tribunal Vivo reúne os seres abstratos do universo, pode-se esperar que ao menos um dos Celestiais esteja observando os procedimentos.

Os Celestiais foram responsáveis por outros eventos que repercutiram por todo o universo que contém a Terra-616, junto com incontáveis universos paralelos. Devron, o Experimentador, e Gamiel, o Manipulador, foram encarregados de monitorar a Terra-78411, lar de Garoto-Lua e Dinossauro Demônio. Os dois jovens Celestiais entraram em conflito que os fez serem realocados para observar outras raças: os Krees e os Skrulls. Historiadores cósmicos especulavam que estes Celestiais teriam sido indiretamente responsáveis pelos eventos que levaram à inimizade entre Krees e Skrulls, que perdurou por milênios. Acredita-se, ainda, que os Celestiais tenham visitado o mundo natal dos Skrulls e realizado experiências. Ao contrário dos resultados na Terra, a versão Deviante dos Skrulls tornou-se a espécie dominante, obliterando as outras duas. Em Hala, o único Kree Eterno sobrevivente foi o guerreiro Ultimus.

Set, do panteão de deuses egípcios, tomou ciência quando a Primeira Expedição Celestial chegou na Terra para começar suas experiências. Set despachou seus semi-humanoides Homens-Serpentes, esperando cair nas graças dos Celestiais e ter seu povo incluído nos experimentos. Os alienígenas se recusaram e, quando os Homens-Serpentes recorreram ao próprio Celestial, foram destruídos. O experimento prosseguiu, criando os Eternos e os Deviantes, ao mesmo tempo que a raça humana.

A Segunda Expedição dos celestiais chegou à Terra por volta de 16.000 a.C. Os Deviantes, em meio a um ataque contra Atlântida, atacaram a nave Celestial. Em retaliação, os Celestiais bombardearam Lemúria. Ao mesmo tempo, os Atlantes abriram suas fissuras vulcânicas para expulsar os Deviantes. A bomba destruiu Lemúria, e as ondas de choque, combinadas com as fissuras abertas, afundaram Atlântida. Este Grande Cataclismo redesenhou a superfície da Terra.

Cerca de 26.000 anos atrás, houve uma guerra civil Eterna que levou uma facção, liderada por Uranos, para fora da Terra, realocando-se no planeta Urano. Mais tarde, os Eternos renegados usaram tecnologia Kree para construir uma nave espacial, no intuito de recomeçar sua guerra civil. No caminho, os Krees os impediram e expressaram sua ira por terem seu material roubado. Os sobreviventes daquela batalha espacial se mudaram para Titã, lua de Saturno. Seis mil anos depois, quando a terra de Lemúria foi afundada pelo Celestiais da Segunda Expedição, isso permitiu a criação da Coroa da Serpente, que foi o ponto focal de várias histórias titânicas (Vingadores: A Saga da Coroa da Serpente).

Quando a Terceira Expedição chegou, apenas mil anos depois, eles eram cultuados como “deuses espaciais” por várias das culturas em desenvolvimento na Terra, notavelmente os Incas. Esta adoração irritou o panteão de deuses existentes, incluindo Odin de Asgard, Zeus do Olimpo e Vishnu. Os Celestiais entraram em contato com os panteões terrestres, através do Eterno Ajak, que informou que se se houvesse intervenção dos deuses, os Celestiais cortariam a capacidade dos fiéis de contatar seus deuses. Os deuses concordaram, por um período total de mil anos, mas, uma vez que o acordo estava fechado, Odin começou a planejar o inevitável conflito por vir, por isso a guerra vista em Thor. Quando a Terceira Expedição deixou a Terra, o mutante En Sabah Nur apoderou-se da nave e da avançada tecnologia que os seres cósmicos deixaram para trás. Usando-a, Nur acabou evoluindo para a ameaça conhecida hoje como Apocalipse.

Também foi revelado que Zeus finalmente descobriu os Eternos em seu lar de Olímpia por volta de 450 a.C. e, em lugar de fomentar a guerra com seus semelhantes, assinou um tratado com eles. Como parte da reunião, Azura, a Eterna, adotou o nome de Thena. Isto meio que consolidou a noção de que os humanos adoradores facilmente confundiram os Eternos com vários panteões de deuses, ao longo dos séculos.

A Marvel já não era estranha a todas as coisas cósmicas desde que o Vigia foi apresentado, em Fantastic Four. Ainda assim, as coisas ficaram bem intensas nos anos 1970, começando com a apresentação dos Titãs de Jim Starlin, seguido de Starfox e, também, o poderoso titã renegado, Thanos. Tudo isto foi, depois, agregado à cosmologia dos Celestiais, remontando a cerca de 750.000 anos, quando Alars, irmão de Zura, partiu para Titã. Alars descobriu que os Eternos exilados tinha provocado uma guerra civil nessa lua, que deixou apenas uma sobrevivente. Ele se casou com essa sobrevivente, Sui-San, e, juntos, eles reconstruíram o mundo. Alars acabou adotando o nome de Mentor e teve vários filhos, incluindo Eros (vulgo Starfox) e Thanos, um Eterno mutante.

Makkari, o Eterno velocista, foi depois revelado como sendo dois heróis da Era de Ouro, Furacão e Mercúrio, ligando-o a antigas co-criações de Kirby (Golden Age Marvel Comics Masterworks, Vol. 1-2). Foi explicado que Zuras, o Eterno Primordial, o enviou para ajudar a lutar na II Guerra Mundial, assegurando-se de que a humanidade sobreviveria quando a Quarta Expedição chegasse para promover julgamento. Durante os anos 1950, Makkari trabalhou junto com Ulysses Bloodstone para formar os Caçadores de Monstros, uma equipe que incluía Zawadi, Dr. Druida e Namora. Os Caçadores enfrentaram e derrotaram Kro, o Deviante. Em 1958, os Caçadores de Monstros encontraram a equipe de super-heróis A Linha de Frente, que contava com o Eterno Sprite como membro.

Em outra das muitas ligações com os trabalhos de Kirby, foi revelado que o Monolito Negro, que apareceu durante momentos cruciais na história do homem, foi uma criação dos Celestiais. A verdade é que esta é uma conexão com 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Arthur C. Clarke, um filme adaptado para a Marvel por Kirby (leia nossa resenha aqui). Após o fim da licença, a série evoluiu para uma nova entidade, focada em em outra criação de Kirby, o Homem-Máquina. No final da edição de X-51, esta revelação foi feita, explicando que o Monolito era um dispositivo de gravação, usado durante o julgamento de um mundo.

 

Outros ajustes à continuidade determinaram que muitos dos amados monstros da Atlas Comics – tais como Gorgilla, Grottu, os Homens-Coisas Derretidos, Gigantus e os Homens-Lagartos, Giganto, e Tricephalous – eram Deviantes em mutação, agora vivendo na Ilha Monstro do Doutor Toupeira. Exemplares de genética Deviante, tais como o personagem Blackwulf, tinham sido encontrados tanto na Terra quanto por toda a galáxia.

Quando a Quarta Expedição chegou e o período de mil anos havia passado, Odin estava pronto. Assim como os Eternos formavam a Uni-Mente, Odin invocou os espíritos dos asgardianos e os alojou no construto conhecido como O Destruidor. Agora do tamanho de um Celestial, a máquina asgardiana estava pronta para a batalha, brandindo a legendária Espada de Odin. O Celestial venceu e isso levou os esforços combinados dos outros panteões a restaurar os asgardianos mortos à vida. Uma vítima do conflito, porém, era o Eterno Primordial, Zuras. O conflito foi finalmente encerrado quando Gaia, o espírito da própria Terra, ofereceu doze homens e mulheres, representando o melhor da humanidade, a Arishem, o Juiz. Ele aceitou o presente e deu à humanidade um salvador polegar positivo. O Celestial partiu, levando os “Jovens Deuses” com eles.

Outros Celestiais foram vistos por todo o Universo Marvel, como na ocasião em que Thor encontrou a Quarta Expedição em Pangoria. O Deus do Trovão entendeu errado as intenções de Exitar, o Executor, e eles lutaram, até que ficou claro que Exitar pretendia limpar o mundo de seus elementos negativos, permitindo que ele florescesse como um paraíso.

De volta à Terra, os experimentos deram errado e os humanos sofreram mutação, dividindo-se entre Eternos e Deviantes. Essa Expedição de Celestiais convocou a nave que foi deixada na Terra durante o evento da Segunda Expedição, aquela usada por Apocalipse. Àquela altura, Apocalipse já tinha terminado de saquear sua tecnologia e ela havia se tornado lar para a equipe mutante X-Factor. A equipe viajou pelo espaço e acabou envolvida no conflito. Quando Arishem estava pronto para promover o julgamento, apesar dos esforços unificados de Eternos e Deviantes, Jean Grey invocou a Força Fênix e destruiu sua mão, tornando o julgamento impossível.

Um experimento Celestial na Galáxia Negra, assim batizada devido à ausência de vida, graças a Ego, o Planeta Vivo, chamou a atenção do Alto Evolucionário, da Terra. Este humano avançado viajou pelas estrelas para testemunhar algo desde então nunca mais visto: o nascimento de um novo Celestial. O Alto Evolucionário entendeu que um mortal e um imortal seriam essenciais para os esforços dos Celestiais e trouxe consigo Hércules e Eric Masterson (na época, o hospedeiro humano do Thor). Quando os Celestiais de fato precisaram de participantes, escolheram Hércules e Masterson, e não o humano mais evoluído. O novo Celestial nasceu, mas acabou consumido, junto com Ego, pelo bioverso que deu vida a Ego.

Em uma escala ainda maior, estavam os bilhões de anos de inimizade entre os Celestiais e os observadores cósmicos da raça do Vigia. O Primeiro é o Vigia a quem todos os demais Vigias trazem suas observações. O Primeiro tinha sido criado para sobreviver ao eventual fim deste universo e trazer suas informações ao universo que o sucedesse. Após incontáveis eras, os Celestiais determinaram que o inevitável fim do universo esteva sendo acelerado pelo Primeiro, permitindo que ele cumprisse seu destino. Os Vigias, jurados à não-interferência, e seus intrometidos opostos, os Celestiais, finalmente se viram em guerra. Arishem havia concluído que os Vigias não poderiam continuar existindo, por isso Exitar assassinou o Primeiro. Momentos depois, a Mulher Invisível adentrou o hiperespaço e canalizou suas energias praticamente infinitas para matar Exitar, reequilibrando o universo. Assim permanecerá o equilíbrio, por incontáveis milênios, até que novas encarnações do Primeiro e de Exitar sejam recriadas.

O mundo dos super-heróis e o mundo dos Eternos finalmente colidiram, em uma história de três partes, de The Avengers 246 a 248, onde um dos representantes de Sersi foi derrotado por Starfox e a Vespa. A ação rapidamente saiu de Manhattan para Olímpia e, ao fim da história, os leitores souberam que Starfox era um Eterno que vivia em Titã, filho de Alars, nada menos. A conexão entre Alars e Zuras também foi revelada aqui. Muitos dos Eternos residentes em Polar deixaram a Terra, enquanto suas contrapartes Deviantes permaneceram, rastejando nas sombras, após estes eventos que levaram a uma maxissérie de 12 partes, inicialmente escrita por Peter B. Gillis e completada por Walt Simonson.

Enquanto isso, a voluptuosa e hedonista Sersi foi adicionada às fileiras dos Vingadores por um período e, depois, em fase escrita por Simonson, o enigmático Esquecido também juntou-se aos Heróis Mais Poderosos da Terra. Kirby confessou que seu Esquecido era conhecido pelos homens como Gilgamesh e até mesmo Hércules, mas, na nova interpretação, a conexão com este último foi suprimida, já que Hércules já era um popular personagem à parte.

Em uma atitude sem precedentes, Arishem e os Celestiais retornaram para julgar a Terra mais uma vez, depois que os poderes mutantes de Franklin Richards criaram uma Terra alternativa. Franklin fez isso para encontrar abrigo para vários dos maiores heróis da Terra, após um confronto devastador com Massacre. Ashema, o Ouvinte, que entendia melhor as ações de Franklin, e em seu aspecto humano, sentiu empatia por seu dilema. Com sua ajuda, o mundo alternativo foi poupado da destruição e colocado do lado oposto do sol, agora chamado de Contra-Terra. Ashema ficou neste planeta recém-batizado e, na verdade, viu-se aliada a Victor von Doom para impedir um recém-desperto Celestial Sonhador de causar devastação.

Os Eternos fixados na Terra restantes lutaram para encontrar um lugar tranquilo, em um mundo cheio de humanos, mutantes, Deviantes e os errantes Inumanos, entre outros. Mais recentemente, En Sabah Nur, mais conhecido como Apocalipse, usou os Deviantes como peões, esperando uma guerra com a humanidade. Então, Zuras, de volta dos mortos, retornou à Terra e expressou seu desprazer com os esforços de Ikaris como Eterno Primordial. Ikaris, tendo visto outros humanos evoluídos temidos ou caçados, tentou impedir os Deviantes, sem apresentar os Eternos ao conhecimento público. Ele adotou o nome de Soberano e apresentou seus irmãos como uma equipe de super-heróis, a Nova Raça. Contando com o hesitante apoio de seus “colegas de equipe”, a Nova Raça conseguiu frustrar os Deviantes e, em seguida, se separou.

Desde então, os feitos dos Eternos têm, em sua maioria, carecido de registro. Tudo isso mudou quando Neil Gaiman e John Romita Jr. reinterpretaram estes personagens arquetípicos, em sua minissérie de 2006, que continua em uma nova série escrita por Daniel e Charles Knauf, e desenhada por Daniel Acuña.


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