Jornada nas Estrelas: Uma Cidade à Beira da Eternidade

5.0

NOTA DO AUTOR

Toda série de TV mantém sempre uma espécie de equilíbrio entre episódios: em geral, 50% deles são bons, uns 25% são razoáveis, e uns 25%, excelentes. No caso de Jornada nas Estrelas – Série Clássica, o episódio “The City on the Edge of Forever” (“A Cidade à Beira da Eternidade”) é um clássico absoluto.

O episódio venceu o prestigiado prêmio Hugo Award de Melhor Apresentação Dramática (1968); e o roteiro original, de Harlan Ellison, venceu o Writers Guild of America Award (1968) de Melhor Roteiro de Uma Hora. O roteiro original sofreu algumas transformações quando da filmagem, o que rendeu críticas do próprio Ellison, um consagrado escritor de ficção científica. O fã brasileiro de ficção científica pode ter acesso ao roteiro original de Ellison desde o final do ano de 2016, quando foi lançada no Brasil a história em quadrinhos Jornada nas Estrelas: Cidade à Beira da Eternidade, com a adaptação para essa mídia do roteiro original de Harlan Ellison, realizada pelos quadrinistas Scott e David Tipton, com arte de J.K. Woodward e capas de Juan Ortiz.

Na versão para a televisão, o doutor McCoy, médico-chefe da Enterprise, tem uma overdose acidental com o medicamento cordrazina, no momento em que a nave passa por um quadrante espacial em que é afetada por desconhecidas radiações temporais. McCoy foge, tendo alucinações e mania persecutória, e se teletransporta para um planeta desconhecido. Kirk e Spock, junto com uma equipe de busca, descem para a superfície do planeta, em que se descobre um portal do tempo em meio às ruínas de uma antiga civilização.

O portal é uma entidade biomecânica viva, que começa a transmitir imagens da Terra. Nesse momento, McCoy atravessa o portal, indo parar nos anos trinta nos Estados Unidos, em plena crise econômica mundial de 1929. Nesse ínterim, a história humana se modifica, com a nave Enterprise desaparecendo, o que leva Kirk e Spock a adentrarem o portal em busca de McCoy e com a intenção de impedir mudanças temporais.

Já na Terra da primeira metade do século XX, Kirk e Spock tentam se adaptar à cultura local, e nesse ponto o roteirista trabalha inclusive com a questão do racismo, já que Spock é apresentado como um chinês. Já no roteiro original, quadrinizado, Spock é confrontado por populares por o considerarem como um estrangeiro que pode estar roubando seus empregos. Coincidentemente, Kirk e Spock encontram Edith Keeler, uma mulher que podemos classificar como uma cosmista, por defender que um dia o mundo alcançaria a paz universal, e os recursos humanos seriam dedicados à ciência e exploração espacial, e não a guerras.

Kirk se apaixona por Edith, mas logo Spock descobre que ela é o ponto focal da mudança temporal: ela sofreria um acidente de carro (um atropelamento) que a levaria à morte. Caso o acidente ocorra, não haverá transformação alguma na história, mas, se McCoy a salvar do acidente, o movimento pacifista comando por Edith ganhará proporções nacionais no pior momento possível. Seu movimento acabará por impedir que os Estados Unidos entrem na II Guerra Mundial em 1941, e, quando isso finalmente ocorrer, os nazistas já teriam desenvolvido os foguetes V2 e a bomba atômica, levando à vitória nazista. Por fim, Kirk impede McCoy de salvar Edith, e a história não é alterada. Mas a perda de Edith gera intenso sofrimento no capitão.

A versão original do roteiro, agora quadrinizado, apresenta algumas diferenças. Vamos a elas! Primeiramente, não ocorre nenhum acidente com McCoy, mas existe a bordo da Enterprise um tripulante que faz tráfico de uma droga narcótica-onírica. Um tripulante, viciado na droga e sem condições de manter o vício, ameaça entregar o traficante e acaba sendo assassinado. Na fuga, o traficante entra no teletransporte e se transporta para um planeta próximo. Tráfico de drogas e assassinato a bordo da Enterprise certamente são elementos que o criador da série Gene Roddenberry não consideraria adequados naquele momento da série; por isso é que o roteiro pode ter sido alterado.


Ao chegar à superfície do planeta, ao contrário da série, não é com um portal vivo e com ruínas que Kirk e Spock entram em contato, mas com seres cósmicos antiquíssimos e com uma verdadeira cidade à beira da eternidade, e não apenas ruínas. Logo Beckwith (o traficante) passa pelo portal, e inicialmente Kirk e Spock não o seguem, mas retornam à nave com a equipe de segurança. A bordo da Enterprise, que nessa versão não desaparece, mas está ocupada por piratas espaciais, Kirk e Spock retornam ao planeta após um confronto, deixando seus subordinados resistindo a bordo da nave.

A história segue mais ou menos semelhante, com Kirk e Spock seguindo Beckwith no passado da Terra, o estabelecimento do relacionamento entre Kirk e Edith, até o derradeiro final, em que Kirk tem de impedir que o traficante salve Edith. Uma história realmente surpreendente, seja na versão televisiva ou na versão em quadrinhos (esta última adaptada fielmente do roteiro original), “A Cidade à Beira da Eternidade” é um clássico eterno da ficção científica.

Por fim, a história em quadrinhos conta com um prefácio e um posfácio de Harlan Ellison, além de artes da capa e um anexo contando o processo de criação de uma página da HQ — além das anotações dos artistas. Vale a pena conhecer essa edição, ler essa história e, se possível, assistir ao episódio clássico.

 

  

Roteiro: Harlan Ellison adaptação de Scott Tipton & David Tipton

Arte: J. K. Woodward

Editor: Mythos Editora

Capa: Paul Shipper

Publicação original: Star Trek: the city on the edge of forever

No Brasil: 2016

Nota dos editores:  5.0


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