O Homem que Passeia

5.0

NOTA DO AUTOR

O ano mal começou e eu, na minha empolgação juvenil, estou ansioso para eleger O Homem que Passeia como o melhor gibi que li em 2018. Lançado em setembro do ano passado pela Devir, por meio do selo Tsuru, o mangá foi escrito e desenhado por Jiro Taniguchi, um mangaká que teve alguns trabalhos publicados no Brasil: O Livro do Vento (apenas com roteiros seus), Seton (apenas com desenhos) e Gourmet (apenas desenhos). Confesso que todos passaram em branco por mim, sobretudo os dois primeiros.

O Homem que Passeia deve ser o título mais literal de uma obra que li na vida. É exatamente isso: um homem andando por aí, pela sua cidade, apreciando a vista, contemplando os espaços, conhecendo novos caminhos e lugares e usufruindo de tudo que o lugar oferece: biblioteca, parques, piscinas públicas, rios, ruas estreitas. Como você já pode imaginar, a obra quase não possui diálogos. Acontece que Taniguchi desenha uma barbaridade. Seu traço é lindo, bem diferente dos mangás mais conhecidos publicados por aqui. Taniguchi possui muita influência de autores europeus, sobretudo Moebius e Hergé.

E ao contrário do que possa parecer (uma crítica áspera ao nosso cotidiano moderno, de correria, de ignorar tudo ao redor), em O Homem que Passeia temos, na verdade, uma sugestão. Pare e olhe ao seu redor e veja tudo que sua cidade tem para oferecer. Em mais de um caso, o protagonista desce uma estação antes do habitual apenas para ir caminhando até o trabalho ou sua casa. Sem qualquer motivo aparente, apenas porque deu vontade. E por gostar de caminhar. Jiro Tanigucho apresenta, aqui, a caminhada como algo mais básico ao ser humano (e isso fica expresso de forma clara numa entrevista ao final do volume).

Ao todo, são cerca de 20 histórias curtas, com 10 páginas em sua maioria. Em suma, uma leitura bem rápida, mas que pede um retorno e fica um convite à reflexão. No mínimo, você se deliciará com a arte do autor, que é linda, além de sua narrativa fantástica e das opções tomadas em algumas cenas. Por exemplo, ele explora bastante o clima, visto que o Japão possui as quatro estações bem definidas e isso vai influenciando no roteiro. Ao final, com duas histórias um pouco mais longas e complexas (curiosamente com mais balões), Taniguchi muda seu traço, deixando o mais sério, pesado. É uma outra pegada, outro clima, outra proposta, tudo dentro do mesmo volume.

A edição da Devir tá bem caprichada. Tem um curto texto introdutório do jornalista Hermano Viana, apresentando o autor e a obra. Ao final, temos a citada entrevista, que é bem esclarecedora sobre o ponto de vista de Taniguchi, e um perfil biográfico. O formato é um pouco maior dos mangás habituais (a arte pede isso) e a capa é bem mole, talvez incomode quem espera algo mais luxuoso devido ao preço (veja pelo lado bom: facilita bastante a leitura).

Em resumo, é o tipo da obra que você vai querer ler e reler anualmente. Seja com o intuito de refletir em cima da proposta do autor, seja para apreciar uma arte linda, detalhada, e que exprime bem porque gostamos tanto de histórias em quadrinhos. Por fim, vale dizer que a Devir, ao contrário da Panini e JBC, não deixa aquele aviso de leitura oriental e usa a quarta capa de forma “normal”, ao invés de repetir a belíssima capa. Os mangás já fazem parte da nossa realidade.

  

Roteiro: Jiro Taniguchi

Arte: Jiro Taniguchi

Editor: Kodansha

Capa: Jiro Taniguchi

Publicação original: Aruku Hito (1990)

No Brasil: setembro de 2017

Nota dos editores:  5.0


  iTunes   Fale com a gente!

2 comentários sobre “O Homem que Passeia

Deixe uma resposta