Pantera Negra

4.5

NOTA DO AUTOR

Um rei morre. Seu filho mais velho espera ser coroado, mas precisa lutar pelo seu direito ao trono, enfrentar o retorno de um antigo inimigo e lidar com as consequências de um segredo familiar, ao mesmo tempo em que tenta preservar a unidade de seu reino.

Exposta assim, em linhas genéricas, a trama de Pantera Negra é igual à de muitos outros bons e maus filmes, mas, felizmente, encaixa-se no primeiro grupo. À parte todas as questões raciais que vem suscitando (falaremos disso daqui a pouco), o filme se sustenta muito bem como obra de ação e ganha imediato destaque entre as recentes produções dos Marvel Studios.

O filme de Ryan Coogler (diretor do ótimo Creed) nos apresenta Wakanda, o país do Pantera Negra (Chadwick Boseman), com um esplendor visual inédito no MCU. Um pedaço lindo e orgulhoso de África, fiel às suas tradições e com olhos para o futuro, Wakanda literalmente escondeu-se do mundo graças a (e por causa de) suas cobiçadas reservas de vibranium, o metal mais resistente do mundo. De origem alienígena, o vibranium possibilitou aos wakandanos avanços científicos apenas sonhados no mundo fora dele.

Somos, então, apresentados à corte wakandana: além de T’Challa (o Pantera), conhecemos sua irmã e chefe criativa da divisão científica, Shuri (Letitia Wright); sua mãe, viúva do rei T’Chaka, Ramonda (Angela Bassett); a chefe das Dora Milaje (elite militar e guarda real), Okoye (Danai Gurira); e o interesse amoroso de T’Challa, a espiã Nakia (Lupita Nyong’o).

As informações de Nakia sobre a venda do vibranium em posse de Ulysses Klaue (o Garra Sônica, papel de Andy Serkis) são o estopim da ação em Busan, na Coreia do Sul. Coogler filma muito bem a briga no cassino (com direito a plano-sequência) e as perseguições de carro, que empolgam ainda mais com as surpresas da tecnologia wakandana. Klaue acaba preso e entra em ação Erik Killmonger (Michael B. Jordan): inicialmente contratado de Klaue, Killmonger tem planos muito pessoais contra T’Challa.

Klaue e Killmonger resolvem parte do problema do MCU com vilões apáticos. O esquemático Garra Sônica se beneficia muito do carisma de Andy Serkis, mas Michael B. Jordan como Killmonger é quase uma força da natureza. Tem motivação crível, bons argumentos, força física e habilidade de combate para enfrentar o Pantera. Um nêmese ideológico para o herói e o melhor vilão em um filme Marvel desde, sei lá, o Magneto de Michael Fassbender.

O filme, porém, tem seus percalços. Ramonda parece muito pouco afetada pela morte do marido; o CGI é meio capenga em alguns momentos; há um certo abuso do recurso de “devolução de energia” do traje do herói; e as cenas pós-crédito não acrescentam ou surpreendem. Apesar desses deslizes, não dá para negar a importância extrema de um filme como Pantera Negra – e é agora que começamos a andar em terreno pantanoso; então, pisemos com cuidado.

Os que acham descabido enxergar conotações raciais no “evento” Pantera Negra, analisem comigo:

1) NEGRO É LINDO – Este é um filme que reúne alguns dos astros negros mais populares ao longo dos anos. Dos novatos (os ótimos Letitia Wright e Winston Duke) aos veteranos (Angela Bassett e Forest Whitaker), o elenco é um dream team, um portfolio de negritude bem sucedida. O próprio país é um “bonitão” em si – ou você não percebeu que Wakanda é uma metáfora sobre o que a África poderia ser, sem o jugo da escravidão e colonização? Somente dois dos atores do elenco são brancos. O padrão hollywoodiano costuma ser o contrário.

2) NEGRO É RICO – Pantera Negra não é um filme barato, como foram Blade ou Spawn, os exemplos mais “desenterrados” por aqueles que buscam minar a importância política do filme. É o mais recente produto da maior máquina de fazer dinheiro da atualidade. Custou 200 milhões de dólares e deve beirar (se não alcançar) um bilhão na bilheteria, ajudando a acabar com o prolongado mito de que astros negros (com raras exceções, como Denzel Washington e Will Smith) não são bons chamarizes de bilheteria.

* Tomei puxão de orelha por causa de Blade: filme de US$ 60 mi não é barato, realmente – exceto se comparado aos valores do Pantera.

3) NEGRO É SUPER – Uma triste lembrança que carrego é a de algum amiguinho negro (não me lembro quem) sendo impedido por alguém (Deus, não deixe lembrar, se fui eu!) de ser o Superman numa brincadeira porque, afinal, “não pode, o Superman não é preto!” Se bobear, tem coisa assim acontecendo até hoje. Felizmente, a garotada tem opções: o Falcão, o Cyborg e, agora, o Pantera Negra. Não é legal que todo mundo possa brincar?


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2 comentários sobre “Pantera Negra

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