Pense Num Gibi Ruim: Batman – A Espada de Azrael

3.4

NOTA DO AUTOR

Você já está sabendo que A Queda do Morcego está completando 25 anos agora em 2018. Ou seja, menos de seis meses depois de matar o Superman, a DC Comics colocou o Batman numa cadeira de rodas. A década de 1990 começou animada por lá, não é mesmo? Talvez você não lembre (e com razão), mas essa mega-série do Homem Morcego começou um pouco antes, em 1992, com uma minissérie.

Minissérie esta que, quando saiu aqui, eu não li. Também pudera: em novembro de 1993 eu estava terminando a quarta série, muito tenso com isso de ir pra quinta (tensão essa que se confirmou). E pior: ia sair de uma escolinha perto de casa (voltava a pé, às vezes) pra um colégio gigante, destes de freira, mais distante (nada é distante em Maceió, convenhamos). Só em pensar que eu teria que dizer “estudei no Trenzinho Alegre” quando perguntassem da onde eu vinha já me dava cãibra no cérebro. Certamente iria morar no lixeiro do novo colégio por ter vindo do Trenzinho Alegre.

Azrael, é bem verdade, anda (ou andava) sumido. O seriado Gotham não apenas apresentou uma parte da mitologia do personagem por meio do pai do Sr. Spock, como também ensinou a gente a falar São Dumas corretamente (é São Dumá).

Dessa forma, devo ter lido A Espada de Azrael uns três anos depois, em 1996, quando comecei a comprar toda a quarta série da revista do Batman da Abril Jovem nos sebos. E com menos de 15 anos, óbvio, não tinha o menor senso de descrença que terei daqui uns 20 anos. Sendo assim, adorei esse gibi. Joe Quesada era doideira demais desenhando, admito. E é Dennis O’ Neil nos roteiros, né? Azrael tinha tudo pra falar igual ao Thor, naquele português rebuscado estilo poema barroco do Boca do Inferno (falando em colégio…). Não? Igreja medieval, anjo vingador, padres, blá-blá-blá. Pra nossa sorte, não tem. Pra mostrar qual é a dele, a história já começa com matança: lá vai o anjinho mandar algum malfeitor dessa pra melhor. O que não era esperado era ele mesmo se arrombar:


É o cartão de visitas do gibi: começou na bagaceira, com tiro e sangue pra tudo quanto é lado. Quesada parece não saber se resiste ao padrão Image Comics (que não surgiu com a Image Comics, é bem verdade) ou se segue seu coração. Não se engane com isso: os desenhos são muito bons e os enquadramentos não deixam nossos olhos sangrando.

Bom, é óbvio que o Azrael morreu depois de saraivada de balas. Mas ele não morreu nas ruas ou na Ordem de São Dumas, não. Ele saiu cambaleando até o dormitório do filho na faculdade pra morrer lá, na cama dele. Pai herói. E assim, conhecemos o Kurt Cobain dos gibis: Jean-Paul Valley. Como o Azrael caiu todo ensanguentado de um prédio altíssimo no meio de um desfile, isso chamou a atenção do Batman. Na verdade, o morcegão ficou impressionado como alguém levou tanto chumbo e ainda saiu correndo pelas ruas. Como ela sabe? Na queda (ACHO), o colete do Azrael ficou na rua (o mesmo colete que ele tava se confiando quando foi apagar o ricaço lá).

Claro que o pai dele num foi “só” lá pra morrer. Ele deixou uma caixa com um número de telefone, 40 mil dólares e uma carta. Jean-Paul ligou pro número e vieram pegar o corpo. A carta mandava ele ir pra Suíça, onde foi recebido por alguém misterioso que o levou de carro pra uma aldeia no meio do nada. Você iria? Fala a verdade! Pegaria essa grana e ia torrar em cachaça e dorgas no dormitório da facul. Segundo o recordatório, Jean-Paul estava “intrigado e confuso”. Vale dizer que a aldeia ficava nas montanhas, a seis horas de carro do aeroporto. Pegava esse dinheiro e ia pra Ibiza, bicho. Porra de Suíça.

Na Suíça, Jean-Paul conheceu Nomoz, uma espécie de Pip, o Troll metido a professor, que explicou sobre O Sistema. Nomoz falou bem rapidamente sobre a Ordem (existe desde o século XIV), sobre os assassinatos cometidos pelo seu pai e que ele será o novo Azrael. Falando assim é mais fácil, né? Nesse meio tempo, Batman foi investigar, e é nesse momento que O’Neil deita e rola, porque de Batman ele entende como poucos. Na Suíça, aos poucos, Nomoz falou mais da Ordem de São Dumas, do que o pai de Jean-Paul fazia, essas merdas! E como o pai dele, supostamente, falou/implantou essas coisas durante os anos, basta um amuleto estilo O Rapto do Menino Dourado pro novo Azrael ir se “lembrando” das coisas. E funciona: ele já sabe caratê.

Nomoz mostrou um medalhão, Jean-Paul ficou doidão e já saiu dando golpes. Mas, calma: ainda não é o anjo vingador. De toda forma, o Sistema é potente, porque ele nem questiona nada. Bastou uns golpes de kung fu pra deixar o rapaz interessado (além do quê, seu pai, seu avô e toda sua família foi anjo vingador. Herança forte). Em Gotham, Batman apelou pra Oráculo:

Fora isso, perdi o fio da meada e quando dei por mim, Bruce e Alfred estavam chegando num chalé na Suíça. De helicóptero. Quem também estava por lá foi o ricaço que o Azrael tentou matar no começo da história. Ele (o ricaço) mete um balaço com b pequeno (by Chiquinha) de um lança-foguetes no chalé, derrubando também o helicóptero. Fim da edição 1!

Apesar da queda, Alfred e o patrão Bruce sobreviveram: Wayne viu um reflexo de luz longe e imaginou… Não, é melhor reproduzir o diálogo pra eu não sair como mentiroso:

Por sorte e roteirismo, o barulho do helicóptero deixou Nomoz desconfiado, arrastando o candidato pra um abrigo antibombas no subsolo do chalé. Obviamente, a explosão gerou uma grande avalanche. O frio começou fazer seus efeitos. O ricaço do lança-foguetes ficou doidão, ouvindo vozes, possuído por algo que ele chama de Biis. Inclusive viu um símbolo desse troço na neve. Por sua vez, Bruce vestiu seu uniforme, que ele sempre leva consigo, sendo que este é especial para encarar o frio.

Como emoção é o nome do meio desse vilarejo, o chão começou a tremer, explodiu e um hovercraft surgiu. Eu não sabia o que diabo é um hovercraft. Googlei pra você: um colchão de ar com um ventilador atrás que serve pra andar em qualquer superfície. E adivinha quem tava nele: Azrael e Nomoz. Assim, temos o primeiro quebra-pau entre os dois. Só que é uma luta bem safada. Um soco de cá, outro de lá, o anjo puxou a espada, levou um balão do Morcego, Nomoz jogou o carro em cima do Batman e ambos fogem, deixando a espada pra trás.

O’Neil aproveita o momento, para a trama e doutrina os jovens de maneira sutil: como o hovercraft se mandou, Batman resolveu investigar o abrigo abandonado. É claro que Nomoz e Azrael estavam observando e o “professor” tem um detonador na mão, pronto pra explodir o lugar. Não seja curioso, jovem. Exceto se você for o Batman: ele achou a bomba mas antes, Nomoz a detonou. Deu errado, né? Deu errado porque tinha um fio solto. O Batman achou que se soltou em decorrência da explosão do foguete. Que sorte do caralho, fala muito sério. Ou, como disse Batman, talvez São Dumas estivesse olhando por eles.

Na página seguinte, após detonar o dispositivo, Nomoz mostrou como funciona o novo traje do anjo. Ao mesmo tempo, o ricaço também já preparou seu traje de Lorde Demônio Biis. A pausa também serviu para ajustar as coisas até aqui: Nomoz explicou sobre a riqueza da Ordem, a serventia do Azrael e como Lehah (o ricaço) entrou na história: tesoureiro da Ordem, ele roubou todo o dinheiro que estava… na Suíça. E o plano de Lehah é bem simples: como tem pouca gente na Ordem hoje em dia, iria matar tudinho e pegar o dinheiro. Com sua astúcia, Nomoz (e não Bruce) deduziu o plano. Essa segunda parte termina com Biis cravando balas num Jean-Paul sem traje.

Já estamos na terceira parte da minissérie. Eu odeio as terceiras partes em minisséries de quatro partes! É sempre a mais fraca, porque é só enrolação, os roteiristas colocam o pé no freio valendo e tudo mais. E aqui também é assim. Era pra Jean-Paul ter morrido. Fato. O cara foi cravado de balas e caiu da janela (do primeiro ou segundo andar). Na verdade, eu estava pensando em outra coisa: acho que ninguém ainda falou o nome dele. Fui olhar de novo e o pai só o chamou de “filho”. Nomoz também disse nada.

Bom, coincidência ou não, Alfred e patrão Bruce estavam chegando no hospital no EXATO MOMENTO em que Jean-Paul estava voando pela janela: ele se esborrachou todo no chão; mas antes bateu no teto de uma ambulância. Se bem que o pior não foi isso: Bruce reconheceu o cara! Tô falando: em duas páginas, essa terceira parte já é a pior. Como ele reconheceu o cara no chão? Achou pouco? Bruce mandou Alfred tomar conta do coitado do Jean-Paul e foi atrás do Biis como Bruce Wayne. Segundo ele, tem gente demais olhando pra ele trocar de roupa e, como ninguém o conhece, foda-se, ele pode ir como civil. Calma que tem mais: quando ia matar Nomoz, a arma do Biis enguiçou e ele saiu em disparada.

Seguindo minha recomendação de poupar-lhe dos detalhes sórdidos, saiba que Biis sequestrou o Bruce e os outros (Alfred, Jean-Paul e Nomoz) foram pra uma casa qualquer curar o rapaz. Sim, ele sobreviveu: como segurava seu traje contra o peito, as balas não o atingiram. É mole? Lehah (o ricaço, não esqueça), obviamente, conhece o Bruce, sabe que ele é bilionário e, agora, que ele é o Batman. Mas só tá interessado no dinheiro mesmo. Só isso. Julgando pelo diálogo, ele quer que Bruce vá num caixa eletrônica e faça uma transferência. Ou dê seu cartão e senha. Mas os perigosos jogos mentais não funcionam com o Batman.

Na casa de mais um membro da Ordem, Azrael estreia seu novo traje sem dó nem piedade. Mata logo um cachorro e um segurança do local, com uma espadada em chamas no meio da caixa dos peito. Um Alfred assombrado não acreditava que aquele cabação nerd pudesse massacrar os seguranças, matando todos. Esqueci de falar que Lehah vestiu a roupa de Batman quando foi matar o outro membro da Ordem. Não faço a mínima ideia do motivo. Vai ver, só pra vermos um cacete entre alguém vestido de Morcego e o anjo vingador, já que a briga anterior foi bem bestinha.

Acabamos na Europa, de volta aos Estados Unidos. Ao Texas, onde Lehah tem uma refinaria de petróleo que anda mal das pernas. Seu erro foi ter levado Bruce Wayne a tiracolo: o morcegão começou seus perigosos jogos mentais. Quer dizer, fica até engraçado. Porque Wayne tá debochando do cara na maior. Ele não se soltou porque não quis. E o tabacudo caiu no papinho, falando merda atrás de merda. Na porta da refinaria, Alfred enfim perguntou nome do rapaz e ele disse que não se lembra. Satisfeito? Depois disso, vem os finalmentes: Azrael invadiu, acertou Lehah e o prédio começou a pegar fogo. O anjo salvou Bruce (tava acorrentado), deixando Nomoz puto da vida (mimimi você não salva, você vinga). Eles saíram, Nomoz deu um esporro e Azrael tirou a máscara, se lembrando de seu nome (que é o mesmo de seu pai). Agora só na Queda do Morcego.

 

  

Roteiro: Denny O' Neil

Arte: Joe Quesada e Kevin Nowlan

Editor: Bill Kaplan

Capa: Joe Quesada e Kevin Nowlan

Publicação original: Batman: Sword of Azrael #1-4 (outubro de 1992 a janeiro de 1993)

No Brasil: novembro de 1993 e abril e março de 1996

Nota dos editores:  1.7


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