SJA: Dossiê Liberdade

4.0

NOTA DO AUTOR

Faz algum tempo que a Mythos Editora publicou uma compilação chamada SJA: Dossiê Liberdade (JSA: The Liberty Files), que unia sem arroubos luxuosos a minissérie homônima e sua sequência, Trio Profano, do selo Túnel do Tempo. Comprei às cegas e apenas pelo fato de possuir o mesmo artista da série Starman e Ex Machina, Tony Harris, custando módicos R$ 19,90. Para minha surpresa, a oportunidade me concedeu a sorte de ter em minhas mãos uma dos melhores e mais bem escritos contos de realidade alternativa da DC Comics.

O Dossiê Liberdade é uma visão mais realística da Sociedade da Justiça da América atuando no cenário berço do grupo: a Segunda Guerra Mundial. Dentre as grandes diferenças da linha convencional, temos aqui a inclusão de Bruce Wayne, Clark Kent e J´onn J´onzz, figuras estranhas à equipe e ao período. Aliás, em momento algum, o roteiro de Dan Jolley menciona a sigla “SJA”, o que temos na verdade são espiões com atributos nada convencionais, infiltrados em várias partes do globo a serviço dos Estados Unidos, escoando e obtendo informações que possam de alguma maneira facilitar a vida dos militares no embate contra Hitler.

O “Trio Profano” (“The Unholy Three”) é o apelido que o químico, Rex Tyler (A.K.A, Relógio) deu a breve parceria entre ele, o mulherengo, Charles McNider (A.K.A, Coruja) e o misterioso, Bruce Wayne (A.K.A, Morcego).

Sua primeira missão é capturar um contrabandista albino conhecido apenas como Jack Risonho. Há cerca de quatro dias este contraventor havia interceptado uma mensagem nazista e iniciava preparativos para vendê-la pelo melhor preço. Pelo que se sabia, tudo indicava que o comunicado incluía diagramas do protótipo de um novo super-bombardeiro alemão capaz de driblar radares. Caso a dita aeronave entrasse em linha de produção, era de se esperar que a guerra terminaria rapidamente e o papel-moeda americano viria a estampar a face do Führer.

Aos poucos somos levados a crer que o tal super-bombardeiro é na verdade um alienígena com poderes psíquicos e de voo, recém apreendido na iniciativa de pesquisa paranormal do Terceiro Reich. A priori fica a dúvida se estamos diante de uma versão Túnel do Tempo do Super-Homem ou do Caçador de Marte, mas logo tudo, num primor de narrativa, é explicitado em flashback.

Boa parte dos relatos que o leitor toma ciência vem dos diários de Bruce Wayne, o que de certa forma, dá ao texto um viés extremamente paranoico. Bruce em Dossiê Liberdade” é um oficial do exército, e diferente de sua versão tradicional, mata, aliás, não por opção, mas por incumbência. Em algumas páginas do seu diário, percebe-se a própria frustração do personagem: “Se eu pudesse fazer isso em Gotham. Tornar a cidade mais segura, tendo a liberdade de não matar. É uma opção a se considerar. Quando a guerra terminar, é claro”.

Certos momentos são impagáveis, como a definição de McNider para o Morcego: “Trata-se de um tanque desenfreado. Individualista ao extremo e com uma tendência à paranoia”; ou o combate com o Espantalho¹, um amálgama entre Jonathan Crane e Solomon Grundy; e a rixa mais que justa entre Bruce e Terry Sloane – “Sr. Sublime”, ou nas vias normais, Sr. Incrível.

1 Nessa versão, um “Faxineiro”: quando um nazista faz bobagem, é ele quem limpa a sujeira.

E somado a isso ainda temos um grand finale com todos os agentes secretos da SJA em ação. Vale ressaltar que a indumentária de todos os personagens são bem mais funcionais e discretas que as originais.

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A sensação de se ler “Dossiê Liberdade” é similar a que se tem com obras como Entre a Foice e o Martelo e 1602, onde a diversão reside em juntar o quebra-cabeça de referências e interpretações de figurões dos universos tradicionais. Este subterfúgio está presente em figuras ilustres como a de “Robin”, um soldado infiltrado como “camareiro” nas montanhas de Berchtesgaden, o reduto de férias de Hitler; ou Dinah Lance, a “Canária”, uma cantora de cabaré que além de ser uma das muitas amantes de McNider, é uma valorosa informante do bon vivant.

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Leitura obrigatória para os que não a viam como obrigatória e um material que, sem dúvida, merecia ser redescoberto pela Panini. E para mais Sociedade da Justiça, ouça o 7 Jagunços nº 42, no qual falamos de outra série Túnel do Tempo da SJA, A Era de Ouro, de James Robinson e Paul Smith.

 

 

  

Roteiro: Dan Jolley e Tony Harris

Arte: Tony Harris, Ray Snyder e J.D. Mettler (cores)

Editor: Peter Tomas e Stephen Wacker

Capa: Tony Harris, Ray Snyder e J.D. Mettler (cores)

Publicação original: JSA: The Unholy Three (abril e maio de 2003)

No Brasil: SJA - Trio Profano (junho e julho de 2003)

Nota dos editores:  4.0


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