Superman: Identidade Secreta

4.8

NOTA DO AUTOR

Confesso, de antemão, que não sou dos maiores fãs do escritor Kurt Busiek. Isso influenciou negativamente a primeira leitura que fiz dessa minissérie lá atrás, quando a Panini a lançou no Brasil no (agora) distante ano de 2005. Naquele ano, encadernados ainda eram coisas raras (ainda que já fosse visível uma mudança) e Superman: Identidade Secreta saiu em quatro fascículos mensais (igual aos Estados Unidos).

No ano seguinte, foi republicada num encadernado que vendeu como água, esgotou e ficamos nisso: quem comprou, teve; quem não, sofreu na mão dos especuladores do Mercado Livre. Por anos (12, para ser preciso), os fãs pediram, solicitaram, imploraram para que a Panini republicasse o material aqui no Brasil. Com o avançar dos anos e a consolidação (definitiva) dos encadernados capa dura, parecia uma questão de tempo para que o material voltasse às livrarias. Os 80 anos do Superman, completados agora em 2018, mostrou-se o momento ideal (aliás, que venham mais publicações do personagem, seja qual for o formato). Os fãs, que são muitos, agradecem.

E o que essa história tem, que faz a cabeça até daqueles que não são fãs do Superman? Em Identidade Secreta conhecemos o jovem Clark Kent, nascido e criado no interior do Kansas. Mais uma origem do personagem? No caso em questão, estamos falando do mundo real, do nosso mundo, onde o Superman é um personagem dos quadrinhos. Dessa forma, uma família do Kansas, cujo sobrenome é Kent, viu a oportunidade perfeita de homenagear esse grande personagem, batizando o filho de Clark. Fala a verdade: quantos John Lennon você conhece? E Roberto Carlos? No começo dos anos 1980, o Papa João Paulo II fez uma visita ao Brasil. Quantos João Paulo, na casa dos 30 e poucos anos, você conhece? É mais ou menos isso, com o adicional do cara também ter nascido no Kansas! Isso faz com que Clark seja alvo de piadas não só na escola, como também em casa, ganhando presentes com a estampa do maior super-heróis de todos.

Até que um dia, ele sai para acampar e começa a voar.

A principal discussão proposta por Busiek é mostrar a grandeza de Clark Kent. O seu Clark tem grandes poderes (e a origem desses poderes é levemente sugerida, não há uma explicação e, acredite, não faz a menor diferença) e resolve, com isso, fazer o bem, salvar vidas. Porque ele é assim, ele sente que precisa fazer isso. Ele poderia utilizar a seu favor (como o Clark “ficcional” fez várias vezes, como, por exemplo, conseguir um emprego no Planeta Diário), para fazer o mal, ou simplesmente deixar para lá. Ao contrário: em um diálogo preciso com sua esposa (Lois Lane), ficamos conhecendo o que é o Superman, o que faz dele o maior heróis de todos, um grande exemplo. Busiek não floreia e por meio de ótimos diálogos, demonstra tudo isso sem soar piegas ou sentimental.

Além disso, explora outras facetas do personagem e mostra como fazer uma grande história do Superman sem grandes vilões, invasões alienígenas, monstros poderosos ou um magnata ciumento. Da mesma forma, demonstra como seria se Clark e Lois se casassem, tivessem filhos, a passagem do bastão e, o mais óbvio: o envelhecimento. E repito: tudo isso muito bem escrito, com ótimas interações e sem forçação. De ruim (tem que ter algo), o miolo é um pouco arrastado em alguns momentos e Busiek abusa nos recordatórios em primeiro pessoa. Entendo a necessidade para o tipo de história que ele está contando e as razões de utilizar o recurso, mas poderia maneirar um pouco e não pesar tanto a mão.

 

Por fim, creio que seja válido falar um pouco da arte do Stuart Immonen. Comentamos no Pilha de Gibis o fato dele não ser dos desenhistas mais badalados, citados ou mesmo hypados pelos leitores. Pelo contrário: quase não o vemos sendo citado, compondo listas dos melhores ou até mesmo idolatrado pelos fãs. No entanto, ainda que não estivesse no seu auge, em Identidade Secreta vemos Immonen mostrar seu valor e seus dons (inclusive nas cores, que também ficaram a seu cargo). Uma narrativa da melhor qualidade (numa história com muito texto e recordatórios), painéis lindíssimos e um esmero que não se vê todo dia. Achando pouco, ele também ficou a cargo das capas, que são um pedaço importante da história, além de serem sóbrias e muito significativas.

Em resumo, é uma história marcante, belíssima em seus detalhes e no que tem de mais destacado, além de ser uma grande ode ao Superman, ao seu legado e o que ele representa para todos nós. Indispensável em qualquer coleção.

 

  

Roteiro: Kurt Busiek

Arte: Stuart Immonen

Editor: Joey Cavalier

Capa: Stuart Immonen

Publicação original: Superman: Secret Identity (janeiro a abril de 2004)

No Brasil: janeiro a abril de 2005; julho de 2006; julho de 2018

Nota dos editores:  4.9


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