Gibi de Menininha – Historietas de Terror e Putaria

3.0

NOTA DO AUTOR

Em poucas linhas, no texto que serve de prefácio, a radialista Dane Taranha demonstra que a mulher sempre foi vista como algo a ser temido. Elas são o verdadeiro horror. Dessa forma, nada mais óbvio que um grupo de mulheres produzisse, editasse, escrevesse e desenhasse uma revista com seis contos de terror (formato 17 x 26 cm, 80 páginas em preto e branco). O resultado é uma revista que une três de nossas mais antigas tradições quadrinísticas: mix de histórias, terror e, como elas mesmas deixam claro, putaria.

Gibi de Menininha nasceu no Catarse no meio de 2018 e no final do mesmo ano foi enviada para os apoiadores. De forma oficial, foi lançada na CCXP 2018, com o selo da Zarabatana Books. Todas as histórias abrem com um desenho da Germana Viana e uma biografia rápida de cada uma das autoras – tenho certeza que você já se deparou com alguma delas por aí.

O primeiro conto, “Por eras e eras te amarei”, tem roteiro da Carol Pimentel juntamente com a Roberta Cirne, responsável pela arte. Na Rússia, vemos uma história de vingança. Um vampiro muito sedutor encontra um jovem numa festa e o atrai para uma noite por tabernas da cidade. Ao fim do passeio, o leva até sua casa, onde a crueldade e o terror assumem o controle. O roteiro segue os conceitos bem conhecidos do gênero. Há poucos diálogos (nas primeiras páginas não há balões), dependendo bastante da narrativa visual. O problema é que os desenhos da Roberta Cirne são bem irregulares e o traço não passa o temor e o perigo que se avizinha.

Em “Fome”, Clarice França (roteiro) e Mari Santtos (desenhos) nos mostram outra história de vampiro, bem mais contida. Se passa quase que inteiramente num apartamento, com uma jovem vampira explicando sua necessidade de saciar a fome por sangue. Com um namorado que não é vampiro, o casal tenta levar uma vida normal, apesar dos hábitos noturnos e da fome insaciável da moça. O final você já deve ter imaginado.

“Para sempre ou um marinheiro que me contou…” é escrito pela Germana Viana com desenhos da Renata CB Lzz. Aqui, Viana demonstra como sereias podem ser assustadoras e cruéis. O desenho da Renata encaixou como uma luva no roteiro: é todo rabiscado, suas criaturas conseguem ser assustadoras e serenas quando precisam e o fundo do mar é um lugar sombrio. O horror começa a aparecer com mais ênfase a partir desse conto.

Ana Recalde escreve “A última comitiva”, desenhada pela Talessa K. A arte segue um padrão semelhante à história anterior, com um lápis mais “duro”, rabiscado, sujo. Passada no interior do Brasil, vemos uma comitiva viajando com uma rebanho bovino até se deparar com uma casa abandonada. Na escuridão da noite, coisas estranhas começam a acontecer, os viajantes somem e animais sedentos surgem. Recalde explora um pouco esse tipo de história bem típica do interior, mas sem os nossos seres fantásticos típicos. Porcos carnívoros e uma cobra gigantesca dão o tom do horror, com muita sangue e violência.

“Doce inocência” é escrito por Milena Azevedo e ilustrado pelas Senhoritas de Patins (Fabiana Signorini e Kátia Schittine). A dupla vem com um traço limpo, em contraste com as duas histórias anteriores, o que casa bem com o clima do roteiro da Milena Azevedo. Uma história que começa bem despretensiosa, ainda que deixa claro o rumo que seguirá. E quando o clímax vem, Fabiana e Kátia dão um show nas texturas, fazendo um contraste muito bom entre o traço limpo e o horror do roteiro.

Por fim, “Amarrados”, da dupla Camila Suzuki (roteiro) e Germana Viana (arte). A putaria, que deu as caras nos dois primeiros contos, é retomada. O horror é bem mais cotidiano, deixando aquele incomodo pelo rumo que a história toma. É o conto com mais texto da coletânea, o que é ótimo: os diálogos da Camila são muito bons. O desenho é econômico e encaixa como uma luva.

O balanço final é positivo. As história, no geral, são muito boas, explorando várias facetas do gênero. A arte é o ponto fraco, com alguns desenhos bem aquém dos roteiros, deixando a revista bem irregular quando ao seu visual – algo muito comum nesse tipo de coletânea. O destaque da arte é a capa da Camila Torrano, um desenho lindo, perturbador, daqueles que você não consegue encarar por muito tempo. Gibi de Menininha é um trabalho muito bem-vindo e espero que mais iniciativas como essa (quem sabe novas edições) apareçam brevemente.

 

  

Roteiro: Carol Pimentel, Clarice França, Germana Viana, Ana Recalde, Milena Azevedo e Camila Suzuki

Arte: Roberta Cirne, Mari Santtos, Renata C B Lzz, TalessaK, Senhoritas de Patins (Katia Schittine e Fabiana Signorini) e Germana Viana

Editor: Germana Viana

Capa: Camila Torrano

Publicação original: dezembro de 2018

No Brasil: 

Nota dos editores:  3.0


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