Vagabundos no Espaço

5.0

NOTA DO AUTOR

Acredito que os gibis nacionais ganharam ainda mais destaque em 2018. Os eventos estão lotados de quadrinistas experientes e novos talentos, sempre com algum lançamento. Do que vejo (e sinto), as principais reclamações são quanto à divulgação (mea culpa) e locais de venda. Editoras como a Draco, Avec e a Balão estão ampliando os lançamentos nacionais, seja trabalho inédito ou campanhas que começaram no Catarse. Com isso, você consegue comprar material nacional em grandes pontos de venda, como a Amazon (ou diretamente com as editoras e autores). Em que pese esses problemas, a qualidade e o profissionalismo também vem evoluindo constantemente.

Raphael Salimena faz e publica quadrinhos há mais de dez anos. Tenho certeza que você já trombou com alguma tira sua pela internet (local onde são publicadas originalmente). Esse ano a citada Draco compilou algumas (muitas) dessas tiras e lançou o sensacional Linha do Trem: The Best Of. Nesse volume, você pode conferir o humor ácido e inteligente do autor, mas também é possível ver toda sua versatilidade de estilos, num material em que Salimena não teve medo de ousar e experimentar. Então, por que não lançar uma história longa? Não se preocupe, ele também pensou nisso e assim nasceu Vagabundos no Espaço.

O autor tem um Padrim, onde você pode apoiá-lo mensalmente e contribuir com a sua produção (conheça aqui). Lá nasceu esse projeto e agora sai publicado pela Draco, num volume lindíssimo, com papel especial (mas não é capa dura, tá? Gracas a Deus. Mas tem uma lombada bonita) e tão colorido que chega a ser um deleite visual. Sério: esse foi um dos gibis mais coloridos que li esse ano (e um dos melhores também, antes que eu esqueça).

E do que se trata, afinal? Vagabundos no Espaço é uma ficção científica brasileira. Bem brasileira. Zix, um dos protagonistas, é um quarentão viciado em vídeo game e numa série antiga que assistia quando era mais jovem. Um saudosista, desses que sabe tudo sobre seu programa preferido da TV e vive das lembranças das coisas de sua juventude. Além de gostar de comer. Ele mora com a irmã e esta descobre a oportunidade perfeita de se livrar do parasita: um reality show. Para conseguir entrar, Zix precisaria apenas responder várias perguntas sobre a tal série, coisa que ele faz com maestria. A partir daí, embarca numa nave lotada de câmeras para ser o capitão da mesma.

Salimena não perdoa nada, apontando sua metralhadora para algumas de nossas maiores bobagens cotidianas, sempre com muito humor, sacadas geniais e muitos conceitos científicos absurdos e hilários. Zix é o protagonista que não nasceu para tal tarefa, um Kleber Bam Bam que caiu de paraquedas numa nave espacial. É feio, desajeitado, preguiçoso e tem a maior pinta de capitão de nave estelar de seriado sessentista. E isso é só o começo! A história ainda tem mais dois personagens principais: Margo, a robô de cabelo rosa e Soha, o bichinho amarelo da capa. No entanto, como o autor deixa claro, ambos vão se conhecer e se encontrar ao longo desse primeiro volume, com três histórias (uma para cada protagonista) num total de 100 páginas, no que ele chamou de “maior introdução dos quadrinhos”. A última história, quando conhecemos Soha, é daqueles exemplos de ficção científica que reforça o motivo pelo qual tanto amamos esse gênero e como ele funciona perfeitamente na linguagem dos quadrinhos.

Eu já cravei sem medo de ser feliz: esse gibi é uma das melhores coisas que li neste ano. Um gibi nacional que utiliza um gênero que parece ser tão alheio à nossa cultura, mas que não se deixa enganar por essa falsa “incongruência”, aproveitando-se daquilo que de melhor a ficção científica tem para explicar o presente, mesmo se passando num futuro tão distante (impossível não amar a casquinha de sorvete). Zix não está longe de nós; e a forma como lidamos, enxergamos e criticamos o “herói” só demonstra nossa aproximação e reconhecimento. Resta agora esperarmos pela continuação desse primeiro volume.

 

  

Roteiro: Raphael Salimena

Arte: Raphael Salimena

Editor: Raphael Fernandes

Capa: Raphael Salimena

Publicação original: dezembro de 2018

No Brasil: 

Nota dos editores:  5.0


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