Dylan Dog #1: Retorno ao Crepúsculo

3.5

NOTA DO AUTOR

A Editora Lorentz já disse de antemão, no editorial da revista, que serão lançados apenas três edições, trimestralmente. Ao menos por enquanto, o intuito é comemorar os trinta anos de Dylan Dog. O futuro do personagem no Brasil segue incerto e gera outras questões. Vamos a elas.

Você não precisa ser leitor veterano para ter esbarrado, em algum momento, com algum fã que resolveu dar um passo além e abrir sua própria editora para publicar seu quadrinho preferido, geralmente ignorado pelas outras “casas do ramo”. Os exemplos são bem conhecidos e os resultados também. Via de regra, significa de cara algumas coisas (certezas): tiragem baixíssima, distribuição ainda mais limitada, preços exorbitantes e uma insegurança quanto ao futuro da revista. Como erros editorais e de revisão são uma constante até mesmo nas grandes e já estabelecidas, eu prefiro nem comentar sobre.

No caso em tela, para complicar ainda mais, a notícia surgiu por uma página do Facebook, com os leitores tomando conhecimento aos poucos. Do nada, a Editora Lorentz dava as caras. Pelo expediente, você logo percebe que trata-se de uma empresa familiar (excetuando aí o tradutor – o veterano em fumetti Júlio Schneider – e o diagramador – que cometeu um errinho bem pequeno num balão lá pelo fim da história). Veja, não estou fazendo qualquer juízo de valor aqui. Pelo contrário, estou tentando te “explicar” o motivo de um gibi de 100 páginas em preto e branco, capa cartonada e do tamanho da palma da sua mão custar R$16 reais. Isso, se você o encontrar aí na banca de sua cidade.

Aliás, essa informação da distribuição está presente no site deles (que também não vai te ajudar muito, veja aqui ou aqui) e para sanar esse problema, estão vendendo o gibi pelo Mercado Livre. Sim, você leu certo. E novamente não estou fazendo qualquer julgamento. Não deixa de ser um caminho válido para quem está começando. É melhor do que não ter a revista. De toda forma, aqui no exterior eu até encontrei vários exemplares na banca que frequento.

Posto isso, vamos a história. No expediente é informado que o objetivo é lançar nessas três revistas apenas histórias inéditas, sendo uma de cada fase do personagem. Essa daqui tem roteiro do criador da série, Tiziano Sclavi, sendo uma típica história do personagem, ideal para leitores novos saber logo de cara do que se trata. Quer dizer, em partes. (Esse texto está cheio de senões.)

Como o título indicado na capa deixa claro (“Retorno ao Crepúsculo”), a história se passa num universo já explorado. Não chega a ser uma continuação direta, mas todos os personagens apareceram numa história pregressa, publicada no Brasil pela Record em março de 1992. (Não sei se você sabe, mas Dylan Dog foi publicado aqui por Record, Globo, Conrad e Mythos antes dessa nova encarnação.) Há outras passagens que fazem referência a tramas anteriormente publicadas aqui, algo que não chega a comprometer o andamento da leitura, mas desperta a dúvida se não seria melhor escolher algo “livre de amarras”.

Então, tentarei fazer aqui o advogado do diabo: “Retorno aoCrepúsculo” é uma saborosa história de terror sobrenatural, como todos os elementos que você deve conhecer de filmes do gênero ou do próprio Dylan Dog. Aqui com um tempero a mais de ficção científica. Então tem a cidadezinha interiorana com seus mistérios, um cientista do passado, alucinações/viagens dimensionais, proposições científicas e até um pequeno conto dentro da história, protagonizado por ninguém menos que Edgar Allan Poe.

Outro ponto alto é o fato de Sclavi abusar do terror gráfico em sua história, algo que a dupla Giuseppe Montanari e Ernesto Grassani tenta fazer jus, ao longo das quase 100 páginas. Por outro lado, os mesmos Montanari e Grassani dão várias escorregadas aqui e ali. Não é um traço dos mais agradáveis na minha opinião, sem falar dos problemas com as expressões faciais. Não chega a comprometer o resultado final, mas deixa aquele gostinho de “poderia ser melhor”. Sobretudo se o capista Angelo Stano fosse o responsável pela arte.

Enfim, e apesar dos vários pesares, o que vale no final é a história: um ótimo conto de terror, algo que nem sempre vemos por aqui nos gibis. Se até nos filmes as safras (não tão) recentes já não andam essas coisas todas, é sempre um prazer ter em mãos um material que honre esse tão sofrido gênero.

 

  

Roteiro: Tiziano Sclavi.

Arte: Giuseppe Montanari e Ernesto Grassani.

Editor: Guido Nolitta / Adriano Lorentz.

Capa: Angelo Stano.

Publicação original: Dylan Dog #57 (junho de 1991).

No Brasil: Abril de 2017.

Nota dos editores:  3.5

 

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2 comentários sobre “Dylan Dog #1: Retorno ao Crepúsculo

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