Tom King tem se mostrado um excelente autor de quadrinhos, ainda que tenha muito a provar ao fandom. Está envolvido com a série Batman desde o Renascimento da DC Comics e publicou na Marvel Comics a excelente série The Vision, prometida pela Panini para o segundo semestre de 2017.
Ao publicar uma série no selo Vertigo, inevitavelmente temos uma quantidade muito grande de referências e semelhanças. Xerife da Babilônia não parece algo velho, já visto, ou uma releitura; mas, ao mesmo tempo, não é novo e nem é feito de uma maneira nova. O volume 1 (Bang. Bang. Bang.), publicado pela Panini Comics em maio de 2017, traz basicamente a apresentação do mote da história e dos personagens e toma seis edições para isso. Aqui, há um certo exagero. Não deveria demorar tanto. Há, no mínimo, duas sequências que deveriam ser menores.
Na trama, Christopher Henry é um policial de Los Angeles que atua em Bagdá, treinando a próxima geração de policiais iraquianos. Parte da população odeia a ele e aos soldados americanos terrivelmente e parte apenas os suporta. O Iraque tem que criar um governo de transição e no processo retomar sua própria identidade e aí entram dois personagens coadjuvantes à Henry: Saffiya Al Agani, chamado Sofia, uma mulher em uma sociedade muçulmana capaz de negociar e impor respeito, e Nassir Al Maghreb, um policial que é arrolado para a investigação de Henry.
Sofia, que cresceu nos EUA limpando casas, tem um envolvimento com Henry anterior ao início da história e poder para fazer uma série de favores para pessoas que lhe são caras. Ela tem dinheiro e poder político e, quando isso não resolve, não se furta a utilizar meios mais físicos. Henry pede auxílio a ela para investigar a morte de Ali Al Fahar, a quem misteriosamente ninguém conhece, viu ou falou, mesmo os colegas de treinamento. Ela, por sua vez, cobra um favor a Nassir, um homem que serviu a Saddam e tem segredos tão terríveis quanto possível. Nassir é um personagem complexo, que perdeu suas filhas durante a guerra e algo de amargo em sua essência – ele sim, soa como um personagem que já vimos, seja na literatura, seja em Lost. Uma boa surpresa é sua esposa Fátima, que, junto com Sofia, dá um panorama diferente das mulheres muçulmanas: menos submissas e mais ativas!
A série tenta e consegue passar toda a ideia da opressão política e financeira, do processo de reconstrução de um país e dos diversos interesses dos agentes destes processos. Os personagens são bem caracterizados, ainda que não se entenda realmente as motivações de Henry e seu envolvimento com Sofia – amor, aqui, fica um tanto deslocado e desejo não parece ser o motivo. Talvez, diante de tanta desgraça e caos, Henry tenha eleito a resolução do assassinato de Fahar o seu marco pessoal, a sua contribuição para a reorganização do Iraque. Não fica claro por que ele se importa! Henry, ao contrário de Sofia e Nassir, é um personagem bidimensional, enquanto os outros são mais ricos, com maiores nuances; mas entende-se que uma série escrita por um americano, ex-agente da CIA, não deva ter iraquianos como personagens principais.
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Roteiro: Tom King.
Arte: Mitch Gerads.
Editor: Shelly Bond.
Capa: John Paul Leon.
Publicação original: The Sheriff of Babylon #1-6 (fevereiro a julho/2016)
No Brasil: Maio de 2017.
Nota dos editores: 3.0
Isso é selo Vertigo (ou era?). Não é o tema que mais me agrada, acho que vou deixar passar.