Corpos

3.0

NOTA DO AUTOR

Desde a saída de Karen Berger, em 2012, a Vertigo tem procurado viver à altura de um legado que inclui algumas das histórias em quadrinhos mais importantes de todos os tempos: Sandman, Fábulas, Hellblazer, entre tantas outras. Não é tarefa fácil, tanto que a chefia do selo já passou por três trocas (Shelly Bond, Jamie S. Rich e, atualmente, Mark Doyle) e nenhuma série publicada desde então parece destinada à Eternidade. Corpos, infelizmente, segue o mesmo (des)caminho.

Lançada aqui em junho, pela Panini, em encadernado que compila as oito partes da minissérie (originalmente, publicada entre setembro de 2014 e abril de 2015), Corpos segue um mistério que atravessa 160 anos de história em Londres. Nas quatro eras em que a trama se desenrola (1890, 1940, 2014 e 2050), um cadáver masculino aparece com sinais de tortura e mutilação. Sempre no mesmo local, e sempre acompanhado de um misterioso sinal, que pode indicar a identidade do assassino.

Em 1890 (arte de Dean Ormston), quem investiga o corpo que aparece na Longharvest Lane é o obstinado inspetor Edmond Hillinghead, que desconfia da imediata conexão estabelecida pela polícia com os crimes de Jack, O Estripador – matar um homem, afinal, contraria seu modus operandi. Conforme chega mais perto da verdade, porém, Hillinghead se vê mais perto de ser exposto por seus próprios pecados.

Em 1940 (arte de Phil Winslade), numa Londres assolada pela guerra com a Alemanha, o surgimento do cadáver envolve o corruptíssimo policial Charles Whiteman – na verdade, Karl Weissmann, judeu polonês fugitivo. Dizer que Whiteman investiga o assassinato é um tremendo elogio: ele está muito mais interessado em fazer crescer seus ganhos com extorsão a comerciantes e os desdobramentos do crime praticamente caem em seu colo.

Em 2014 (arte de Meghan Hetrick), é a policial muçulmana Shahara Hasan quem, em meio a protestos de radicais racistas supostamente patrióticos, depara-se com o defunto e descobre que os assassinatos rituais vêm de longa data. Sua investigação aponta, também, para podridão dentro da força policial.

Por fim, em 2050 (arte de Tula Lotay), após um pulso eletromagnético ter destruído a memória de todos no planeta, lembrar das coisas mais elementares ou recentes é um trabalho hercúleo. Na desolação que se seguiu, vive a “detetive” Maplewood, que mal sabe o que está fazendo com o corpo que achou. Ou quando o achou. Ou qual é seu verdadeiro nome.

A história de Si Spencer (com passagem por Hellblazer) sustenta uma leitura minimamente interessada, mas falha em realmente prender nossa atenção no mistério à nossa frente. Quando o óbvio componente temporal/sobre-humano entra em cena, em vez de fortalecer, parece enfraquecer a história, cuja pegada policial é bem mais legal, ainda que longe de surpreendente. Não vejo motivo para o tratamento hiperbólico dos reviews encontrados na contracapa.

Devo dizer, também, que fiquei levemente irritado com o recurso (embora compreenda seu uso) da linguagem confusa e fragmentada nas partes de 2050. Peguei birra com isso desde O Homem do Espaço, de Brian Azzarello. Pronto, era só um desabafo. Já passou.

Com as bancas e livrarias inundadas de lançamentos, a menos que dinheiro curto não seja um problema para você, convém guardar estes quase R$ 30 para um quadrinho mais interessante. Apesar da evidente pretensão (o artifício das histórias, inicialmente desconexas, que se interligam; sociedades secretas; rompantes de violência tarantiniana), não é com Corpos que a Vertigo voltará a ser a editora favorita do seu coração sombrio.

 

  

Roteiro: Si Spencer.

Arte: Dean Ormston, Phil Winslade, Meghan Hetrick e Tula Lotay.

Editor: Shelly Bond.

Capa: Fiona Stephenson.

Publicação original: Bodies #1-8 (setembro de 2014 a abril de 2015).

No Brasil: junho de 2017.

Nota dos editores:  3.0

Nota dos leitores:  1.9

 

  iTunes   Fale com a gente!

3 comentários sobre “Corpos

Deixe uma resposta