O Legado de Júpiter

4.8

NOTA DO AUTOR

Por anos a fio, me deixei levar pelo hype sem-vergonha feito pelo Mark Millar e a cada gibi seu publicado, eu lia, gostava (quase sempre) e não dizia pra ninguém. Era muito espalhafatoso, queria chamar a atenção e nem sempre funcionava (Nêmesis, para ficarmos no mais óbvio). Mas não adianta: mais uma vez li outra obra do escocês falastrão. E mais uma vez, li de uma tacada só.

De antemão, aviso-lhe que não perderei o nosso tempo (o meu e o seu) deitando loas à arte do Frank Quitely e as cores lindas e saborosas do Peter Doherty (você lembra dele em Seaguy? Que tal essa fixação do Millar com seu antigo mentor hoje desafeto Grant Morrison?). Se você conhece o cara (pergunta retórica, porque se você não conhece nada do Quitely, por favor, vá embora), saiba que aqui ele humilhou. Os atrasos se justificaram mais uma vez. Ele pega narrativa e coloca no bolso, é uma aula, um tratado de como fazer gibis. Para mim, é o melhor trabalho dele na vida e faz toda diferença na forma como você vai encarar (e amar) esse gibi.

Agora vou justificar a furada de fila que O Legado de Júpiter vai dar na sua pilha de leitura. Para não haver decepções: é uma história bem batida, desde os temas abordados (crise econômica estadunidense e mundial, pais ausentes + filhos problemáticos, os problemas trazidos pela fama, poder sem limites etc.), passando pela execução da história (apresentação de poderes, problemas, conflitos, perspectivas) aos personagens. Sim, personagens.

Veja uma sinopse rápida pra entender: Super-Homem casou com a Mulher-Maravilha, ambos salvaram o mundo inúmeras vezes juntamente com seus amigos e familiares heróis e nos dias de hoje tem um casal de filhos na faixa dos seus vinte e poucos anos, ambos bem problemáticos (são eles na capa). Só que o mundo continua uma bagunça, muito devido aos políticos e o mundo da política parlamentar (falei que é atual , não falei?).

O Super-Homem, no caso, é o Utópico, só que barbudo e nascido nos EUA. Talvez você já esteja meio que de saco cheio dessa tara interminável do Millar na Trindade da DC Comics, né? O que tem de versão do Batman, Mulher-Maravilha e Superman nesse “Millarworld” não é brincadeira. Mas, dane-se o seu abuso: dê mais uma chance. Não que o Utópico tenha algo MUITO diferente. Não espere um Super-Homem mauzaum doideira. É o mesmo de sempre: idealista, obstinado, forte pra caralho, que salva as pessoas, seja quem for, sem pedir nada em troca, mas sem a inocência do interior do Kansas. Já a Lady Liberdade (a Mulher-Maravilha) não é desenvolvida: mal aparece na história, ainda que protagonize um dos momentos mais fodas do gibi.

Assim, sobra espaço pra Chloe e Brandon, os filhos do casal, ambos com poderes imensuráveis. Na conta, ainda tem outros personagens importantes, como Walter Sampson (irmão do Utópico e que tem um dos poderes mais FODAS que vi num gibi), seu filho Jules e Hutch, namorado da Chloe, que não tem poderes: apenas um bastão que o faz viajar pra qualquer lugar.

Contar qualquer coisa mais que isso vai gerar spoilers pesados, nesse arco frenético que mais parece um rolo compressor. Millar não perde tempo com bobagens e vai direto ao ponto para contar sua história. Como eu disse, porém, não tem nada de excepcional aqui. Nada revolucionário que vá mudar sua vida. Mas tem umas críticas pontuais e gerais bem ácidas, que vão na veia, que te fazem pensar em uma série de coisas – e ainda que os vilões e mocinhos estejam bem definidos desde o começo (e só fica mais óbvio no decorrer das partes), tudo está muito bem encaixado. Millar não te trata como um imbecil.


Mas, se você não tá ligando muito para nada disso e para o mundo ao seu redor, não tem problema: na pior das hipóteses, é um gibi muito divertido, desses que você não consegue largar até terminá-lo. Leitura gostosa, sabe? Ação frenética, diálogos empolgantes e uma arte linda, não custa repetir. A edição tá daquele jeito que você já deve saber (apesar de umas bobeiras na tradução): capa dura, cinco edições no encadernados, com um prefácio sem sal do Levi Trindade e várias capas no final, além de uma biografia curta dos envolvidos.

Se você tiver com má vontade, talvez ache o começo meio enfadonho e bobo, mas siga adiante, porque é um roteiro cheio de camadas, travestido numa história supostamente bem simples de super-heróis. As referências do Millar são intermináveis e o cara apontou a arma até pra própria indústria de quadrinhos.

 

  

Roteiro: Mark Millar

Arte: Frank Quitely

Editor: Nicole Boose

Capa: Frank Quitely

Publicação original: Jupiter's Legacy vol. 1 (abril de 2015)

No Brasil: agosto de 2016

Nota dos editores:  2.4


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