Tina – Respeito

4.0

NOTA DO AUTOR

Você chega na banca, enxerga o desenho na capa deste gibi e já entende as intenções dele. Vê o nome, Respeito, e sua certeza é reforçada. Estando a edição lacrada, resta apenas virar e ler a contracapa, onde se espalha um texto da vlogueira e escritora Jout Jout, que não deixa mais dúvida: Tina – Respeito é um manifesto feminista.

E tudo bem com isso, sabe?

A gente está vivendo tempos horríveis – enquanto escrevo, ainda estou espumando de ódio com a treta Crivella x Bienal – e é fácil prever um temporal de críticas a esta adaptação da personagem de Maurício de Sousa, principalmente da parte de quem não leu este gibi, não lia Tina clássica dos gibizinhos e, muito provavelmente, não lê coisa alguma, mas se sente no direito/dever de opinar sobre praticamente tudo.

Esta Graphic MSP, porém, “chega chegando”, com a mão e a expressão da protagonista meio que “desconvidando” o leitor. A autora Fefê Torquato, o Maurício e, quem sabe, toda a MSP, enquanto organização, talvez tenha desejado deixar bem claro: a gente não tolera mesmo essa parada; machistas podem comprar, só não podem passar.

Engana-se, porém, quem pensa que Tina – Respeito é afrontoso em demasia, como se fosse um folheto prensado por gente que descobriu ontem o ideário feminista. A escrita da catarinense Fefê Torquato não tem firulas, mas as situações são todas bastante críveis, com diálogos espertos e cheios de intervenções “internéticas”. Respeito talvez seja a primeira MSP realmente pensada para o público adulto (mais até do que a já espinhosa Jeremias – Pele). Exceto por pequenas interações no cotidiano, não há sinal de infância ou inocência verdadeira aqui. Tina é uma jovem adulta, jornalista recém-formada, tendo que sobreviver ao primeiro emprego, à humilhação do assédio e à sensação de perigo que permeia a vida das mulheres, seja nas grandes ou nas nem tão grandes cidades.

Tina: a barra de ser mulher

Há um grande acerto em não deixar que o sofrimento de Tina a imobilize. Ela fica furiosa e frustrada com o que passa, mas isso só lhe serve de combustível para dar o troco. Acuada pelo homem (literal e figurativo), ela não se isola (oferecendo e buscando empatia entre as mulheres que a cercam) e muito menos se cala. Sua revanche, embora previsível, é, também, redentora. A gente já viu isso tudo antes, em filmes, séries e novelas, mas Respeito tem uma serenidade que falta a muitas dessas obras prévias.

Com arte delicada e muito rosa espalhado pelas páginas da história de uma jovem mulher forte, Tina – Respeito faz parecer que esta coleção, afinal, ainda tem muita lenha pra queimar. Quando o ponto mais baixo entre as últimas edições foi o preguiçoso trabalho de um superstar (deixo o nome pra imaginação de vocês), você entende que o grande trunfo da coleção está em sua intenção original, de revelar e divulgar gente que está ralando pra ter um nome no mercado.

  

Roteiro: Fefê Torquato

Arte: Fefê Torquato

Editor: Sidney Gusman

Capa: Fefê Torquato

Publicação original: 

No Brasil: Panini, Agosto 2019

Nota dos editores:  4.0


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Um comentário sobre “Tina – Respeito

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