Green Lantern: Blackstars #2

Hipercompressão. O termo indica um acúmulo e uma acomodação maciça de conteúdo dentro de um espaço limitado, no caso uma narrativa tão densa que, ao final da leitura, causará apenas duas reações possíveis: prender a mente do leitor em um loop inescapável e parcialmente voluntário ou repelir as mentes que instintivamente se defendam dessa armadilha belíssima. Pronto, a vontade de querer ser Grant Morrison passou, bastou tentar emular remotamente o estilo do sujeito após ler a segunda edição da minissérie em três partes para ver que é uma pretensão ridícula. Vamos ao review.

Em meras vinte e duas páginas, Morrison comprimiu e narrou o equivalente a cerca de um ano de histórias. Não é exagero. A sensação é de estar lendo pelo menos dois arcos de seis capítulos cada, pela quantidade de temas, conceitos, ideias e possibilidades.

Não, desconsidere o parágrafo acima. Em vinte e duas páginas, Morrison conseguiu criar um hiperconto, se é que esse termo existe, no qual contou uma história, a trama onde a Condessa Belzebeth e Hal Jordan orbitam um ao outro enquanto o destino do Universo DC está em jogo, mas foi além e tratou da situação dos personagens DC nas últimas quatro décadas, do próprio cenário no qual a indústria dos quadrinhos de super-heróis vive, brincou com metalinguagem e questionou a relação editorial/leitores, mergulhou no que só podemos chamar de Morrisonverso, pela retomada e continuidade conceitos explorados e desenvolvidos pelo careca escocês nesses últimos quarenta anos, inseriu a origem da Condessa ao mesmo tempo em que expandiu e costurou a história de seu pai, o Vampiro Cósmico inimigo da Liga da Justiça do satélite, com a existência de um conceito magnífico que é bem conhecido dos fãs da Legião dos Super-Heróis.Aliás, a própria minissérie está embasada em um outro conceito vindo da Legião, a Máquina Milagrosa, já utilizada em outro trabalho do autor, a Crise Final. Mas essa segunda edição não se prende aos gibis ou as autorreferências do próprio Morrison. Tem referências às questões político-sociais que assolam o mundo já há uns bons séculos e, mais ainda, em nossos dias de embates online. Tem aparição dos parentes e aderentes da Condessa, das mais variadas mídias além dos quadrinhos. Tem questionamento do eterno dilema liberdade versus ordem.

E ao final, faz o leitor lembrar que é uma história de Hal Jordan, independente dele estar usando anel e insígnia da Tropa dos Lanternas Verdes ou armadura e nome dos Blackstars. A última página QUASE te faz esquecer da viagem pelas inúmeras histórias das vinte e uma páginas anteriores. Vai ser difícil Morrison superar a si mesmo na próxima e última edição dessa minissérie. Mas o sujeito, quando quer, consegue criar verdadeiras singularidades em forma de quadrinhos. Vamos ver o que acontece agora…

A história em si, nesse segundo capítulo, muda bastante em relação à primeira edição (aproveite e leia nosso review AQUI). Acompanhamos Hal Jordan enquanto ele interage com os super-heróis da Terra, especialmente o Superman, mostrando as diferenças dessa realidade “resetada”. Mas logo depois tem a origem da Condessa Belzebeth, o que eventualmente leva às motivações dela, também à revelação de como o Controlador Mu a conheceu e como tudo isso resultou na trama que começou em The Green Lantern #1. Tudo converge para o gancho no final da edição de forma magistral. A arte continua belíssima, embora não tenha o mesmo impacto da edição anterior, o que é compreensível, já que dessa vez não é uma narração tão épica, mas algo mais pessoal, na falta de termo melhor.

 

  

Roteiro: Grant Morrison

Arte: Xermanico com cores de Steve Oliff

Editor: Brian Cunningham

Capa: Liam Sharp

Publicação original: Green Lantern: Blackstars #2 (dezembro/2019)

No Brasil: ainda inédito

Nota dos editores:  5.0


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