X-Men + Fantastic Four #1

O roteirista Chip Zdarsky entrou em uma bela encrenca, hein? As duas super equipes mais importantes na história da Marvel nos quadrinhos entraram em rota de colisão essa semana e sobrou pra ele contar essa história que carrega uma responsabilidade enorme, em vários níveis. Depois de muito tempo amargando descaso editorial, alternando boas fases com muitas ruins, a Família Fundamental e os Mutantes da Marvel voltaram a ter destaque, cada um a seu modo. E agora, vivendo situações diferentes, foram conduzidos ao mesmo caminho graças ao inquieto Jonathan Hickman.

Com a minissérie Fantastic Four/X-Men, conceitos criados e desenvolvidos por Hickman estão gerando ótimos frutos. É preciso reconhecer isso tanto no status da raça mutante, graças às recentes minisséries House of X e Powers of X, quanto na evolução e situação atual de Franklins Richards, um personagem da maior importância em todos os aspectos. Filho de Reed e Susan Richards, primeiro “filho” do próprio universo Marvel, um mutante nível ômega que já criou um mundo e, mais recentemente, após os eventos de outra minissérie de Hickman publicada em 2015, “Guerras Secretas”, recriou o próprio Multiverso. Mas além de ser filho do Senhor Fantástico e da Mulher Invisível, de ser um mutante com poderes assombrosos, Franklin é, no final das contas, um adolescente.

E aí precisamos dar crédito ao senhor Zdarsky, que conseguiu escrever uma história honesta sobre um garoto ao mesmo tempo fascinado e pressionado por sua condição fantástica e superior. Assim mesmo, direto e de forma elegante, o roteirista mostra o garoto lidando MUITO bem com o fato de ter poderes (quem não gostaria de voar e fazer coisas impossíveis?), apesar de estar sofrendo com inexplicáveis falhas neles, mas também aborda o peso que o gene mutante traz consigo, quando a agora reorganizada sociedade Homo Superior liderada por Charles Xavier convida o menino a morar em Krakoa, recém declarada nação mutante. É muita coisa para um garoto, é mais ainda para um roteirista, ainda mais com todos os conceitos envolvidos, inclusive editorialmente.

Quarteto Fantástico e X-Men possuem toda uma história juntos, com destaque para dois dos melhores momentos desse universo compartilhado. A trágica participação de Franklin (já adulto) na história “Dias de um Futuro Esquecido”, de Chris Claremont e John Byrne e a comovente minissérie de Claremont e Jon Bogdanove, Fantastic Four vs X-Men, na qual Franklin ainda criança foi crucial para impedir um desfecho onde os heróis acabariam uns com os outros, mas, ainda mais importante, ao salvar a vida de Kitty Pryde. E aí, voltamos para a mini que começou a ser publicada essa semana.

Esse elo emocional entre Kitty, agora se chamando Kate, com Franklin, é retomado com os devidos ajustes ao amadurecimento de cada um dos dois. Uma ausência, aos olhos dos leitores veteranos, foi sentida. Rachel Grey Summers, filha de Scott e Jean Grey, vinda da mesma realidade de “Dias de um Futuro Esquecido”, foi namorada da versão adulta de Franklin. Inclusive, na virada dos anos 80/90, Claremont escreveu uma das mais belas e tristes das interações entre Quarteto e X-Men, mostrando a despedida final de Rachel à essa versão de Franklin. A diferença de idade entre os dois, hoje, obviamente é um tema espinhoso e não seja abordada nessa história. Veremos.

Mas depois de todo esse converseiro, se perdendo na cronologia dos personagens, o que falar da primeira edição que acaba de ser lançada? É tão boa quanto esperávamos e melhor do que imaginávamos. Os personagens soam autênticos, a narrativa flui, existe espaço nas sutilezas pra questionarmos as motivações, presumir subtramas, torcer por um dos lados e ficar agarrado até a última página querendo saber o que vai acontecer à seguir. A enrascada em que Zdarsky se meteu foi grande. A primeira super equipe da Marvel, a super equipe mais querida, toda uma carga cronológica importante para os leitores veteranos, a necessidade de ser acessível aos recém chegados, dar voz e credibilidade às dúzias de personagens… E ainda ter de contar bem uma história. Mas está aí o resultado. Chip Zdarsky conseguiu tudo isso e já na primeira edição. Dá pra dizer “esse garoto tem futuro”, tanto para ele quanto para Franklin.

  

Roteiro: Chip Zdarsky

Arte: Terry Dodson, Rachel Dodson e Laura Martin

Editor: 

Capa: Terry Dodson

Publicação original: X-Men + Fantastic Four #1 (fevereiro de 2020)

No Brasil: em breve

Nota dos editores:  5.0


  iTunes   Fale com a gente!

Deixe uma resposta