Supergêmeos: uma grata surpresa da Wonder Comics na DC

3.4

NOTA DO AUTOR

Este mês terminou talvez uma das maiores surpresas positivas da linha de quadrinhos DC desde que Brian Michael Bendis instituiu o selo Wonder Comics na editora em sua chegada. Trata-se da revista dos Supergêmeos, Wonder Twins, com roteiro de Mark Russell e Stephen Byrne nas ilustrações. Inicialmente programado como minissérie em 6 partes, a aceitação das aventuras de Zan e Jayna foi tão positiva que a DC estendeu a revista para 12 edições fechando praticamente 4 mini arcos completos de histórias que conversam com praticamente qualquer tipo de leitor, apesar de não parecerem.

Quando Wonder Twins foi anunciada boa parte dos leitores teve a impressão que seria somente mais um título para encher catálogo usando personagens que tiveram certa popularidade nas décadas de 1980 e 1990 por conta do desenho dos SuperAmigos. Eis que entra na equação o fator Mark Russell. O autor, que ainda não se consagrou entre boa parte dos leitores como um nome de peso da indústria, já ostenta um currículo bastante expressivo na editora desde a iniciativa DC YOU, quando foi contratado pela primeira vez para escrever o subestimado (e inovador) título Prez. Desde então Russell usa todo seu arsenal de experiente romancista sociopolítico em títulos como Os Flintstones e Leão da Montanha, chegando finalmente ao convite do próprio Bendis para escrever o quadrinho de Zan e Jayna.

Como fã confesso dos personagens desde sua infância, Russell não escreve simplesmente um quadrinho de aventura infantil em sua Wonder Twins. O autor usa principalmente o fato dos personagens de segundo escalão da editora serem jovens, serem alienígenas e terem habilidades não tão poderosas para construir uma de suas analogias críticas que desta vez engloba desde a escola na qual os protagonistas estudam quanto a própria Liga da Justiça e seres da mitologia cósmica da DC.

O tema que permeia quase todo o quadrinho ironicamente acaba sendo a nostalgia e os males que o sentimento pode causar em pessoas muito apegadas a um certo período de tempo quando há mudanças de status quo. Nas 12 edições ainda vemos pinceladas críticas em temas como encarceramento massivo, racismo, xenofobia e questionamentos sobre a natureza de heróis e vilões. Usando de um elenco central que é essencialmente nostálgico para o leitor mais antigo (quem não lembra dos gêmeos nos desenhos dos SuperAmigos?), o autor faz um preciso contraste entre o velho e o novo e ataca pontualmente de forma muito inteligente e sempre bem humorada o sentimento tóxico de que “na minha época era melhor” tão comum em tempos de “Make qualquer coisa great again”. O tema, que afeta tão frequentemente tanto leitores jovens quanto antigos, é o pano de fundo perfeito para as aventuras dos dois irmãos como estudantes e estagiários da Liga da Justiça.

Quem já leu algo de Russell na DC talvez não se surpreenda com a impressionante capacidade do autor em dar vozes específicas a seus personagens. Cada figura em Wonder Twins tem um jeito muito próprio de se expressar em seus balões e talvez esse seja um dos maiores desafios para um elenco tão abrangente e cheio de participações especiais ilustres. Com roteiros leves e esse tipo de diálogo aguçado, sucinto e bem definido toda a agenda crítica (que é extensa) de Russell em Wonder Twins acaba sendo muito facilmente digerida e em momento algum sente-se um tom panfletário mais exacerbado na leitura das 12 edições.

Stephen Byrne ficou bem conhecido por suas ilustrações coloridas, caricatas e divertidas em redes sociais, mas em quadrinhos sequenciais ainda não havia deixado sua marca. Tudo isso muda em Wonder Twins. O enquadramento sóbrio e os traços limpos com expressões corporais exageradas além de uma colorização muito brilhante é ideal para o tom de roteiro de Russell. Byrne consegue transitar entre os confins do espaço e um refeitório de colégio com naturalidade extrema e sua caracterização tanto dos protagonistas quanto de bastiões da editora como Batman e Super-Homem é perfeita para a pegada de Russell neste título.

Wonder Twins, visto de longe, pode não parecer o gibi que um leitor de mais idade se interesse em ler. As capas coloridas e o visual Archie com certeza não convidam um fã do Justiceiro ou da Vertigo a gastar seu dinheiro com isso. No entanto os tema centrais dos arcos da revista conversam diretamente com boa parte destes leitores o tempo todo. Isso tudo através de um roteiro extremamente fluído e uma arte agradável e 100% compatível com esta proposta.

 

  

Roteiro: Mark Russell

Arte: Stephen Byrne

Editor: Brian Cunningham

Capa: Stephen Byrne

Publicação original: Wonder Twins #1-12 (fevereiro de 2019 a fevereiro de 2020)

No Brasil: inédito

Nota dos editores:  3.5


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