Sangue no Olho

4.5

NOTA DO AUTOR

Lançada no final de 2019, Sangue no Olho é mais uma coletânea temática da Editora Draco. São oito histórias de 20 páginas cada, todas com roteirista e desenhista (e não apenas o desenhista fazendo todo o trabalho, como é quase de praxe nos gibis nacionais), algo bem comum nos trabalhos da editora. Caso você tenha tido contato ou lido algum trabalho assim, sabe mais ou menos o que vai encontrar. O editor e roteirista Raphael Fernandes juntou um time variado para contar histórias de faroeste passados no Brasil e com temática nacional, sem soar ufanista, nacionalista ou se perder em clichês típicos (ainda que, aqui e acolá, eles apareçam). Para mim, o que muda em relação às outras coletâneas que li é o equilíbrio entre as oito histórias de Sangue no Olho: normalmente, os trabalhos oscilam entre os muito bons e os muito ruins e/ou roteiro bom com arte ruim ou o contrário. Aqui está tudo mais equilibrado.

No caso específico dos roteiros, todos estão muito bons e englobam o Brasil de norte a sul, com temáticas atuais entrelaçadas com questões que pairam sobre nossa sociedade desde muito tempo. As camadas marginalizadas da nossa população – pobres, negros, indígenas, moradores da periferia, pessoas humildes do interior, gays, imigrantes – estão bem apresentadas nos contos. A variedade dessas camadas, aliás, mostra bem o tamanho continental de nosso país e como culturas muitas vezes distintas convivem no mesmo espaço geográfico; por isso, encontramos até mesmo lendas urbanas e rurais, juntamente com casos verídicos pouco conhecidos da população em geral.

Como amante de filmes e histórias westerns (o bom e velho faroeste), Sangue no Olho veio bem a calhar. Alia-se a uma série de produções (em especial) norte-americanas que revitalizam e revigoram o gênero, que andou um tempo esquecido e que vem ganhando folego sobretudo no cinema, com clássicos modernos citados no prefácio, como Onde os Fracos Não Tem Vez (excelente filme dos irmãos Ethan e Joel Coen baseado no igualmente excelente livro de Cormac McCarthy, um dos grandes responsáveis por essa revitalização do faroeste. Os Coen também refilmaram um clássico protagonizado por John Wayne, Bravura Indômita, baseado em romance do mesmo título e lançado no Brasil. Esse faroeste moderno tira de cena os clássicos duelos ao meio-dia e insere elementos atuais, envolvendo justamente essas camadas marginalizadas da população. Portanto, Sangue no Olho, além de urgente pelas temáticas que aborda, mostra que temos ótimos cenários a serem explorados pelo gênero.

A arte, por fim, segue o equilíbrio dos roteiros, exceto por um único conto, que destoa bastante da qualidade geral da obra. Todo em preto e branco, o visual do gibi funciona dentro da proposta apresentada. Roteiro e arte casam perfeitamente em praticamente todas as oito histórias. Como o título entrega, a violência física permeia todo o volume e está muito bem representada graficamente, com muito sangue e vísceras páginas afora. A morte, o medo, o cheiro de sangue, enfim, a violência passeia pelas quase 200 páginas de Sangue no Olho. E se você conhece alguma edição da Draco, sabe do esmero gráfico deles. Dessa forma, dê uma chance a esse gênero renovado e perceba que um faroeste, para ser bom, não precisa empreender fuga para o México. Ele pode ser bem contado por aqui mesmo.

 

  

Roteiro: Gustavo Whiters, Felipe Cazelli, Raphael Fernandes, Leonardo Melo, Thaïs Kisuki, Alexey Dodsworth, Caio H. Amaro, Eduardo Kasse

Arte: Weslley Marques, Chico Silverio, Vitor Wiedergrün, Jader Corrêa, Paloma Diniz, Sandro Zambi, Má Matiazi, Messias Tartini

Editor: Raphael Fernandes

Capa: Ericksama

Publicação original: dezembro de 2019

No Brasil: 

Nota dos editores:  4.5


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