O planeta Krypton, Adão e Eva

Não foi a última vez que Krypton foi explorado numa história, mas a minissérie oitentista de John Byrne e Mike Mignola, O Mundo de Krypton, certamente é a mais conhecida dos fãs. Também pudera: Byrne aproveitou o momento para explorar um pouco mais do passado do planeta natal do Superman e desenvolver coisas que ele apenas pincelou em outra minissérie, O Homem de Aço, quando reformulou o personagem depois da Crise nas Infinitas Terras. As mais emblemáticas, ao meu ver, eram sobre como os kryptonianos se relacionavam entre si (ou não se relacionavam) e a forma como se reproduziam.

Antes disso, porém, a DC Comics volta e meia aproveitava e contava histórias passadas no extinto planeta. Boa parte delas bem anteriores ao tempo em que Jor-El e Lara Lor-Van, os pais de Kal-El, viveram como um amoroso casal. Muitas delas, aliás, se passam num passado bem remoto, alguns até “pré-históricos” do planeta. Em uma delas, escrita pelo lendário Elliot Maggin e com desenhos da dupla Bob Brown e Dave Cockrum, ficamos sabendo que Krypton, na verdade, não girava em torno de si: era um planeta sem movimento de rotação. Isso fazia com que o local possuísse um lado totalmente escuro e frio e outro claro e quente. Os habitantes, para sobreviver, viviam na intersecção desses extremos, numa região de temperatura aceitável. No entanto, a alimentação era escassa, pois não havia meio para o desenvolvimento de vida (ainda que existisse kryptonianos).


Essa escassez gerava lutas entre os habitantes pré-históricos e duas tribos resolveram decidir as pendengas escolhendo dois campeões para uma disputa. O prêmio era o próprio planeta, cabendo à tribo derrotada ser condenada à morte. Durante a batalha, os dois lutadores – Hex-Le e Kya-Ta – descobrem que a união de suas armas (um chicote e uma lâmina), em decorrência do material em que eram feitas, gerava um grande poder. Dessa forma, colocam os artefatos juntos em duas cavernas nos lados opostos do planeta: o poder de ambos é tão grande que faz o planeta girar em torno de si mesmo, favorecendo à vida. Daí os kryptonianos poderiam crescer e se multiplicar.

Os exemplos se seguem, em muitos casos com situações análogas à nossa própria história. Uma delas foi escritas pelo grande Cary Bates, com desenhos de Gray Morrow e publicada em Superman #238 (primeiro volume), de junho de 1971. Aqui foi publicada com o título “Nasce um nome” pela primeira vez em Superman Bi #44 da EBAL (maio-junho de 1972. O título da revista era em inglês, mas na história o personagem era chamado de Super-Homem mesmo) e posteriormente em Super-Homem #23 (1ª Série da Editora Abril).

Como o título indica, nessa história conhecemos a origem do nome do planeta. É uma história curta (tal qual as outras que se passam no planeta condenado), de sete ou oito páginas, onde nos deparamos com o início do ano letivo em Krypton e uma professora jovem receosa com esse começo, pois a agitação dos alunos após um longo período de férias é sempre difícil de controlar. Um professor mais experiente a sugere contar uma história, pois com ele sempre funcionou ao tempo em que lecionava para o equivalente ao ensino infantil kryptoniano. É uma parábola sobre a origem do nome do planeta, antes de existir vida por lá.

Antes disso, sabemos porque Krypton era vermelho: o planeta estava coberto por um casulo dessa cor e quando o mesmo desapareceu, o céu continuou vermelho. Nisso, ficamos conhecendo Tomm, uma cosmobióloga que estava presa após sua nave se danificar na aterrissagem. (Na verdade, só no final é revelado que ela é uma mulher.) Sua sorte muda quando um astronauta com jeito de guerreiro também chega ao local: Kryp. Logicamente, ambos não falam a mesma língua e chegam a se desentender por um momento: em sinal de amizade, Tomm oferece ao visitante uma planta que termina por se desenvolver muito rápido diante da atmosfera do planeta.

Isso leva a um embate entre os dois até que Tomm fica presa na vegetação e é salva por Kryp e ambos resolvem dar uma trégua e, quem sabe, se entender. Assim, não temos apenas o começo de uma grande amizade: temos a origem do povoamento de todo um planeta. Um mito de Adão e Eva cósmico e sci-fi?


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