O legado Mar-Vell (Parte 4)

Para conhecer as origens do Capitão Mar-Vell e de todos os seus sucessores, viajamos praticamente por todas a décadas da Marvel, nas 3 primeiras partes dessa matéria. Agora, é hora de falar sobre a primeira Capitã Marvel nos quadrinhos. E seu nome NÃO é Carol Danvers

Nos anos 1980, Roger Stern era o roteirista de uma das melhores fases dos Vingadores. E o cidadão quis aproveitar um nome dando sopa por aí, embora não quisesse mexer com o legado propriamente dito. Surgiu a primeira heroína a usar o nome Capitã Marvel. Nada de muito criativo, na verdade, sobre essa origem. O legal mesmo é a personalidade da mulher. Mônica Rambeau, membro da guarda costeira, afroamericana, enfrentava um aspecto do preconceito não ligado ao racismo, pois seu chefe também era negro. O problema (dele) era o machismo. Mesmo com toda a competência demonstrada por ela, o camarada se recusava a lhe  conceder promoção na hierarquia da corporação. Por ela ser… mulher.

Nesse contexto, ocorre a saída fácil gibizística. Ela se envolve em uma situação não relacionada, na qual um cientista (que, brincando, a chama de capitã) e seu invento são ameaçados. Ao ajudar, Mônica sofre um acidente, do qual ganha o poder de se transformar em energia. Ou energias, já que ela vai descobrindo que pode mudar sua massa para quase todo tipo de energia conhecida. Uma testemunha, admirada com a coisa toda, manda um “A Capitã… Ela é uma maravilha”, em francês. Maravilha. MARVEL.

Pronto. Tá criada a Capitã Marvel. Uma boa personagem que se tornaria Vingadora, até mesmo líder do grupo por um tempo, perderia seus poderes, os recuperaria e faria parte de uma intensa e fenomenal série escrita por Warren Ellis e desenhada por Stuart Immonen, nos anos 2000, chamada Nextwave, mas que nunca ascenderia além do papel de coadjuvante, infelizmente.

Mas volte um pouco no texto (e no tempo), lembre que citamos uma mulher chamada Elysius e que ela seria responsável por perpetuar o legado de Mar-Vell. Pois agora é o momento de falarmos da Família Mar-Vell. Literalmente.

Nos anos 1990, quando jaquetas e mullets dominavam os quadrinhos de super-heróis, foi criado Genis Vell, o segundo Capitão Marvel. Graças à ciência de Titã, lar de Elysius, o material genético dela e de Mar-Vell foram combinados, um bebê gerado e, pouco depois, trazido ao mundo já em idade equivalente à de um adulto. Esse menino não tinha como ser normal, coitado. Logo, ele estava metido em confusões, usando o codinome Legado, arrumando encrenca com terrestres e raças alienígenas, em histórias não tão memoráveis. Sua sorte melhorou um pouco quando Kurt Busiek o utilizou em sua saga Vingadores Eternamente, mostrando que no futuro ele seria um vingador de respeito. Ao final da história, ele fica no presente, com uma complicação: Genis Vell e Rick Jones estavam enganchados na mesma situação que papai Mar-Vell esteve! Braceletes, Zona Negativa, um lá outro cá.

Mas isso gerou uma das melhores séries da virada dos anos 90/2000. Peter David e Chris Cross conduziram uma mensal digna de aplausos, com ação e humor da melhor qualidade. Infelizmente, era uma época complicada para os gibis e para a Marvel Comics em especial. As vendas de quadrinhos estavam em baixa, os mandachuvas queriam estancar a sangria e qualquer mensal abaixo das metas ia pra vala. Mesmo uma bem escrita e desenhada. Veio a ameaça de cancelamento. Nisso, aconteceu um período bizarro. Lembra quando o pai de Genis passou um tempo igual a papel na ventania, sem muito rumo? Não? É, eu sei, essa matéria já se alongou demais. Pois teve isso. Era uma bagunça. Genis viveu algo quase parecido, só que a nível editorial MESMO.

Bill Jemas, então maioral da Marvel, queria cancelar o gibi de Genis e Jones. Peter David argumentou contra. A saída encontrada foi um desafio. Sim, isso mesmo. David escreveria uma série com numeração reiniciada, Joe Quesada faria uma segunda no Universo Ultimate e Jemas uma outra, em paralelo, para ver qual venderia mais e, ao final, qual continuaria. Foi uma loucura. Não, sério. Foi mesmo. David endoidou o Genis em sua história e fez dele um vilão cósmico. Jemas criou uma versão chamada Marville. E Quesada alopraria em uma versão Batman e Robin (!!!). Olha, você precisa ler isso tudo pra entender. Vai no Comixology e perca o amor por uns trocados. Pra fechar a bagunça, o resultado é que nenhuma delas foi longe e as três séries foram canceladas.

Mais à frente, Genis se separou de Jones. Reapareceu tempos depois com um uniforme diferente, se chamando Photon, nome que também foi usado pela Monica Rambeu (Genis era preguiçoso, hein), fez parte dos Novos Thunderbolts e, aparentemente, foi morto pelo Barão Zemo. Nunca mais voltou. E só quem deve ter chorado por ele foi sua irmã. O que? Não falamos da irmã dele?? Ops.

Ok, conheça Phyla Vell. Ela foi Capitã Marvel por uns 5 minutos, depois se tornou Quasar, Martyr, namorou com a Serpente da Lua (filha do Drax), fez parte dos Guardiões da Galáxia na mensal escrita por Dan Abnett e Andy Lanning no pós Aniquilação – A Conquista e é gente fina. É isso. Falar menos do que isso, só se for do outro irmão deles, filho do Mar-Vell com a princesa Skrull Anelle. Teddy, o Hulkling de Jovens Vingadores, considerado o salvador destinado a unir Krees e Skrulls, namorado de Billy Kaplan, o Wiccano.

Agora diga aí se o legado do Mar-Vell não é o sinônimo da diversidade nos quadrinhos?

E olha que ainda nem falamos da moça muçulmana que, por tabela, homenageia o capitão kree, ao usar o primeiro codinome de Carol. Kamala Khan, praticamente o símbolo do esforço pela diversidade nos quadrinhos recentes, a nova Miss Marvel.

Só não vamos forçar a barra e incluir Noh Varr, o Marvel Boy de Grant Morrison (embora Norman Osborn o tenha nomeado Capitão Marvel durante a fase “Reinado Sombrio” da Marvel), nem Sharon Ventura, a Miss Marvel/Coisa de Steve Englehart ou mesmo o Marvel Boy dos anos 1950. Aí já seria abusar da amizade.

E agora, depois de todo esse arrodeio, vamos finalizar falando da única personagem a usar o título do finado, nos gibis e no cinema, atualmente. A sortuda Carol Danvers.

Mas por hoje a conversa já tá boa e amanhã continuamos. Até lá.


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