Mulher-Maravilha: A Verdadeira Amazona

4.0

NOTA DO AUTOR

Quantas vezes é possível contar a origem de um personagem sem cair na mesmice? É possível subverter uma história de origem e manter o personagem fiel aos seus conceitos primordiais?

A Mulher-Maravilha é uma personagem que, vez por outra, tem sua gênese recriada. Na década de 80, George Pérez aproximou Diana de Themyscira de suas origens gregas como nenhum autor havia feito antes. No começo desta década, no advento d’Os Novos 52, Brian Azzarello apresentou novos conceitos, dando a Diana uma origem mais “mundana” e uma visão arrebatadora dos deuses olimpianos.

Mulher-Maravilha: A Verdadeira Amazona não é uma história que pretende vender a “nova verdade” da vez sobre Diana. A história de Jill Thompson respeita elementos importantes da(s) origem(ns) clássica(s), mas exclui outros consagrados: não tem Steve Trevor, não tem qualquer associação do uniforme à bandeira americana. Ah, e, importante: saiba antes pra não se frustrar, pois não tem Diana em ação já como heroína.

Diana: o capeta em forma de guri!

É uma história focada no crescimento de Diana, única criança numa ilha de mulheres feitas, fato que, automaticamente, a transforma num tipo de bibelô. Por anos, a menina é paparicada pelas amazonas e jamais ouve um “não”. Sabemos bem o que acontece quando crianças não recebem limites, e não é diferente aqui: Diana cresce como uma criança tirânica, irreverente e insensível.

Tendo toda a ilha a seus pés, é natural que ela se incomode em perceber que uma única amazona, a cuidadora de cavalos Alethea, não se ocupa de dar audiência aos seus constantes “showzinhos”. Dobrar Alethea torna-se uma espécie de Santo Graal para Diana, uma obsessão que se estende até o fatídico dia do desafio do Tributo às Guerreiras que a transformará na heroína que conhecemos… ou pensamos que conhecemos.

É no dia do desafio que a história atinge seu ápice dramático. Diana ainda não é uma pessoa moralmente amadurecida e, num momento de vaidade, toma uma atitude impensada, com graves consequências.

“Manto sagrado”? Não… As vestes da vergonha.

Não que a tragédia seja exatamente um elemento estranho à sua mitologia, mas ela costumava estar presente apenas ao redor de Diana, que funcionava como um tipo de farol em meio às trevas. Jill Thompson (vencedora de sete Eisner Awards), por sua vez, explora as trevas dentro da personagem – e elas são de um tipo bem humano, nada divino. Até que possa tornar-se a maior das heroínas, a princesa amazona terá muita culpa a expiar.

Admirada por Neil Gaiman (para quem chegou a desenhar Sandman, entre 1992 e 1993), dona de uma arte agradável e ligeiramente cartunesca, Thompson revela pulso firme como contadora de histórias, escrevendo uma história cativante para uma personagem que, se a gente analisar bem, ainda não tem uma história definitiva – qual obra você chamaria de “O Cavaleiro das Trevas da Mulher-Maravilha”? Difícil prever se A Verdadeira Amazona alcançará tal status com o tempo, mas é impossível negar suas qualidades.

 

  

Roteiro: Jill Thompson

Arte: Jill Thompson

Editor: 

Capa: Jill Thompson

Publicação original: outubro de 2016

No Brasil: fevereiro de 2019 (Panini Books)

Nota dos editores:  4.0


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