Gibis que precisam ser publicados no Brasil: Southern Bastards

Quando Southern Bastards começou a ser publicado, Jason Aaron já era um fenômeno moderno. Escalpo (Vertigo), estrondoso sucesso de público e crítica, já estava encerrado até no Brasil. Na Marvel, Aaron aumentava sua importância e prestígio a cada ano. Teve até uma saga anual para chamar de só sua, com desenhos magníficos do Mike Deodato (ouça o 7 Jagunços sobre Pecado Original). Desprestigiado na DC Comics, cujas mudanças na Vertigo espantaram uma leva de autores, encontrou na Marvel um lar. Na Casa das Ideias escreveu praticamente tudo: X-Men, Justiceiro, Motoqueiro Fantasma, Justiceiro, Pantera Negra, Hulk, Thor, Doutor Estranho e até Star Wars. No selo Icon, publicou uma minissérie que praticamente passou em branco. Então resolveu levar suas ideias para a Image Comics, grande celeiro de autores descontentes com os rumos editoriais da dupla Marvel/DC.

Nesse meio tempo, Aaron ascendeu na Marvel, assumiu posto de grande escritor e, com a ida de Brian Michael Bendis para a DC, meio que virou o cara a comandar a nova fase da editora. Isso terminou por ele se dedicar cada vez menos aos trabalhos autorais – Southern Bastards sofreu um pouco com isso. Nascido em Jasper, no Alabama, Aaron conhece muito bem o sul dos Estados Unidos. Esse conhecimento serviu de base para essa HQ violenta, com homens duros, em que alguns dos mais conhecidos “símbolos” do país são o ingrediente principal: futebol americano, carne vermelha e a guerra (em especial, o retorno de uma guerra).

O agora senhor de idade Earl Tubb, a contragosto, retorna à minúscula Craw County, no Alabama, local onde nasceu e saiu décadas atrás. Com grande influência da religião, Craw County é uma das personagens da história, na qual podemos observar os mais diferentes tipos circulando pela cidade, centrados no time de futebol americano da escola – o Runnin’ Rebs -, espécie de orgulho local e liderado pelo treinador Euless Boss, proprietário de outro orgulho da cidade, o restaurante Boss BBQ. Ambos, Tubb e Boss, são mais do que conterrâneos: jogaram no Runnin’ Rebs e são filhos de pais violentos.

Ah, o pai de Earl era o odiado xerife de Craw County, e resolvia boa parte dos problemas com seu bastão de madeira.

Aaron e o desenhista Jason Latour são sulistas (este é da Carolina do Norte) e conhecem muito bem a região. Longe de apenas pontuar esteriótipos bem conhecidos do Sul dos Estados Unidos e aumentar ainda mais a visão negativa que existe de lá (visão essa que não é gratuita, que fique claro), os autores parecem desnudar todo um local, apresentar ao público e este que tire suas próprias conclusões. Os personagens parecem reais, mesmo com uma exagerada violência. Aliás, muita violência. Bem mais assustadora do que aquela mostrada em Men of Wrath, por exemplo, que igualmente trata de família e do Alabama. O medo, a violência e a força física comandam Craw County e parece não haver meios de fugir dessa lógica. Basta que o Runnin’ Rebs vença e tudo mais será esquecido. Não apenas pelo espetáculo: todos na cidade tem suas mãos sujas de sangue, de um jeito ou de outro.

Jason Latour, por seu turno, tem uma arte que se encaixa perfeitamente com o clima da história, com personagens feios e calejados, pois não há espaço para beleza num ambiente tomado pela violência e pelo horror do cotidiano. O autor capricha no vermelho (afinal, são as cores do time) e você vai cada vez mais se afundando naquele mundo, sem qualquer perspectiva. Os machucados são tão visíveis quanto as intenções. Seja nas partidas de futebol americano, seja no embate físico entre homens violentos, a ação é dinâmica. Nos dois últimos arcos lançados até o momento (no total temos quatro encadernados e a edição 20 saiu em maio de 2018, mas a série ainda não foi encerrada), Latour assume os alguns roteiros e não deixa a peteca cair.

Agora só nos resta torcer para alguma editora nacional publicar esse “acerto de contas” de dois Jasons sulistas com sua terra natal. E olha que nem falei o motivo de Earl Tubb voltar para sua cidade, com quem ele fala tanto ao telefone e o que há de tão misterioso na cidade.

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