Acabei de Ler #04

THE IMMORTAL HULK #25

O gibi do ano. Não, nem venha pra cá com papinho de que esse ou aquele foi melhor. 2019 acabou oficialmente, já pode começar a escolher o melhor de 2020.

ACTION COMICS #1016

Você pode criticar muita coisa nas duas mensais do Superman escritas atualmente por Brian Michael Bendis. Verborragia, a velha mania de esticar uma história por mais edições do que deveria, enfim, os vícios que o sujeito sempre teve. Mas um ponto merece ser aplaudido: ele escreve e descreve o Superman como ele é e deve ser. O caso em questão: em uma edição que serviu para aumentar a escalada do conflito entre o herói e a Nuvem Vermelha, além de fazer um jabazão de outro gibi do próprio Bendis, que é estrelado pela heroína adolescente Naomi, temos também um sentimento que permeia toda a história. Usando um recurso narrativo que poderia se mostrar cansativo ou até dispersivo do foco principal, Bendis mostra a população de Metrópolis narrando o confronto e, no processo, mostrando a visão que todos têm do Azulão.

Superman não é um valentão superpoderoso que range os dentes e cobre de porrada quem aparece pela frente. Pode parecer algo simples, mas não é. Desde o começo da fase Bendis, existe um esforço do roteirista pra enfatizar que a reação física de Kal-El acontece apenas em casos extremos, nos quais não há opção. Isso é algo que merece um destaque e consideração especiais.

Em tempos de tanta violência no mundo real, ter o super-herói original e tradicionalmente mais poderoso de todos se comportando como alguém que evita ser violento, representa muito para nós, leitores. E, mais ainda, para os novos leitores. Pare e pense por um momento… Você pega um gibi, mostra para a sua filha ou filho, irmã ou irmão, que está descobrindo as HQs e ela/ele pergunta “O que o Superman faz?”, ao que você pode responder “Ele ajuda as pessoas” ou “Ele bate nos bandidos”. Que tipo de exemplo você escolheria para a criançada?

BLACK ADAM: YEAR OF THE VILLAIN #1

Existe uma tradição misteriosa nos grandes crossovers e megaeventos anuais da DC e Marvel. Poucas dessas sagas funcionam plenamente, quase sempre decepcionam ou desagradam. Deixam muitos leitores frustrados. MAS… Aqui e acolá eles aparecem, de onde menos se espera. Os tie-ins que surpreendem com uma boa ou ótima história.

Foi assim na Marvel com “Pecado Original” (ruim de doer) e o tie-in do Hulk escrito por Mark Waid, com arte de Mark Bagley. Também na DC com Crise Final de Grant Morrison, que embora não tenha sido ruim, sofreu com atrasos e troca de desenhistas, mas gerou o sensacional tie-in Superman Beyond. Agora, em meio à um punhado de eventos simultâneos na DC, eis que um deles produziu um sub evento, trouxe de volta um roteirista que estava meio desacreditado e um personagem que teve muitas chances desperdiçadas. Uma mistura aparentemente fadada ao fracasso, mas que rendeu um surpreendente e inesperado bom gibi.

Year of the Villain é uma ideia implementada por Scott Snyder a partir de seu run na mensal Liga da Justiça, em que Lex Luthor turbina e coopta os vilões do universo DC, o que permitiu ao Batman Que Ri, uma versão de Bruce Wayne vinda do Multiverso Sombrio, “infectar” heróis com sua loucura e perversidade, gerando o sub evento “Infected”. Em Black Adam: Year of the Villain, o infectado da vez é Shazam e sobra pro Adão Negro bancar o herói. Mas ao invés de termos um simples quebra-pau, o roteiro explora muito mais, graças ao rico material que cerca o Adão. Sua terra natal e seu povo, o dilema que se tornou sua marca registrada desde os tempos em que Jerry Ordway (e depois Geoff Johns) passaram a tratá-lo com mais complexidade, explicando os motivos que levaram o primeiro campeão do Mago Shazam a se tornar violento e inclemente.

A maior surpresa, no entanto, é ver quem pegou essa história obviamente editorial e extraiu um gibi dos bons. Um roteirista que produziu um dos melhores quadrinhos da década de 1990, mas que nas décadas seguintes foi perdendo o gás e escrevendo histórias cada vez mais chatas e desinteressantes. Paul Jenkins, que junto com Jae Lee nos trouxe a irretocável maxissérie Inumanos em 1998, não fez mais nada digno de nota e era dado como um caso perdido. Em Black Adam, Jenkins não apenas nos faz lembrar de seu forte nos roteiros, a humanidade dos personagens, como desenvolve um ritmo ágil e sem falhas para prender a atenção do começo ao fim. Uma pequena história que é positiva tanto em seu mundo fictício quanto em nosso mundo real.

Portanto, caro leitor, entenda esse review gigantesco e otimista. Ver um roteirista que parecia estar fora do jogo retornando e mostrando que consegue escrever uma história honesta e empolgante, é motivo pra comemorar. A trama e os spoilers? Ora, vá ler, sinta a experiência você mesmo, preguiçoso!

STRIKEFORCE #2

Se a estreia dessa revista foi simpática e promissora, a segunda edição só confirma que Tini Howard tá no rumo certo. Tem algo de reconfortante em ver uma série de superequipe, com uma proposta aparentemente desinteressante, funcionando bem apenas com o básico: a ação, as personalidades dos protagonistas e as situações decorrentes dessa pequena soma de fatores. Blade segue como o casca-grossa, Bucky é o elemento sobre a linha fininha do anti-heroísmo, Spectrum é a peso-pesado superpoderosa, Angela acaba sendo o alívio cômico involuntário, Wiccano representa bem o cara normal que por acaso tem poderes, enquanto a Mulher-Aranha tem sido mostrada de forma diferente do que estamos acostumados, como alguém que vive tirando sarro de tudo e de todos. A dinâmica de grupo por si só já está valendo a leitura. A trama é apenas uma desculpa, mas não ofende. Se a roteirista cristalizar um tom definitivo e distinto pro gibi, teremos uma daquelas mensais despretensiosas e que dão gosto de acompanhar com regularidade.

AVENGERS #25

O grande problema de ter Jason Aaron em um gibi como Vingadores é que se torna inaceitável algo menos do que o próprio padrão elevado criado pelo escritor em seus melhores trabalhos. Ou, sei lá, no mínimo algo bem criativo e divertido. E não tem sido o caso nessa mensal. Já chegamos à vigésima quinta edição e se tivemos 5 edições boas, foi muito. Nesse arco dos Motoqueiros Fantasmas (personagens e conceitos que Aaron trabalhou MUITO bem na mensal do Johnny Blaze há 11 anos, o que torna ainda mais triste o que ele fez agora), fica a sensação de que o camarada até se esforça, mas não consegue escrever algo decente. É chato. Arrastado. Não convence em nada. E ainda criou o constrangimento de botar um dos hospedeiros do Espírito da Vingança, o que é vingador atualmente, pra dar discurso e lição de moral pro outro, que tá ocupando a gerência dos quintos dos infernos. Aaron, rapaz… COACH FANTASMA?!? Ao final da edição, Bruce Wayne aparece na pré-história e agora cabe aos Mestres do Tempo cuidar de seu resgate. Eita, não, pera, é o Tony Stark. Aaron deve ter esquecido que leu Crise Final e o Retorno de Bruce Wayne. Que coisa, hein…

MARAUDERS #1

Se X-Men #1 não empolgou o quanto deveria, Marauders #1 superou as expectativas e conseguiu ser melhor que a anterior em vários aspectos. Gerry Duggan acertou 100% nas caracterizações, soube equilibrar com perfeição a seriedade e a leveza da história, além de ter usado com domínio pleno as ideias e conceitos que obviamente vieram de Jonathan Hickman.

Da explicação pros machucados no nariz e no olho de Kitty, ops, Kate Pryde, ao “trabalho” oferecido por Emma Frost, passando pelo novo status quo dos mutantes ao redor do mundo, tudo tem algo micro e macro. Uma cena ou sequência tem força própria, isoladamente, mas faz parte de uma trama ou subtrama maior, criando aquela expectativa massa que havia nos velhos tempos, quando pequenas sementes de roteiro eram plantadas sutilmente e sabíamos que, mais dia, menos dia, teríamos desenvolvimento e desfecho. E com apenas uma edição, vemos alguns X-Men finalmente interagindo de forma natural, como velhos amigos que são, sem ignorar todas as mudanças que sofreram ao longo dos anos.

Ver Kitty se tornando Kate, pros leitores de longa data, é algo especialmente importante. Tanto pela promessa que ela sempre representou, pro bem ou pro mal, desde Dias de um Futuro Esquecido, quanto pelo fato de que a moça já passou por todos os perrengues pra deixar de ser vista como uma adolescente. Inclusive ter sobrevivido à fase Marc Guggenheim, coitada. Aliás, a sequência onde ela enfrenta um camboi de soldados russos e esbagaça os caras, deixa claro qual vai ser a abordagem daqui pra frente. Já em se tratando do que esse canto da franquia mutante significa e do que começou a revelar… TEM MESMO ALGO DE PODRE ACONTECENDO EM KRAKOA! EU SABIA! EU AVISEI! VAI DAR MERDA! Ah, também tem a continuação das Fofocas Sinistras, indicando um bocado legal de histórias que vão acontecer nos próximos meses.

Por último, vale mencionar o conceito básico da série, subverter e converter conceitos perversos em ideias benéficas. Piratas em libertadores e o próprio nome Marauders (no original, saqueadores, no Brasil adaptado pela editora Abril como Carrascos) que foi usado pelos executores do Massacre de Mutantes, agora servindo como nome de um grupo de resgate de mutantes. Desculpa, Hickman, o Duggan te passou a perna dessa vez. Melhore.

 

Acabei de Ler é apenas uma amostra rápida do que li. Os melhores lançamentos da quarta-feira, você já sabe, podem ser conferidos no Gibis da Semana.


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