Quando vou à banca sempre bato o olho em algum fumetto (menos Zagor porque há limites). E quando vejo que a revista é escrita por Gianfranco Manfredi (criador do Mágico Vento e Face Oculta) compro sem fazer cerimônia e sem perguntar o preço. Imagina então a alegria de folhear a edição 601 de Tex e descobrir que a história continua na edição seguinte! Quase 230 páginas de história por um dos meus escritores favoritos de todos os tempos. Presentaço de Natal. Nem todo o pessimismo de Kit Carson daria conta da minha empolgação e, ao final da leitura, constatar que Manfredi acertou mais uma vez.
Se você já leu um punhado de histórias de Tex Willer e seus pards, a chance de topar com uma aventura com pitadas de horror e sobrenatural é grande. Então, não estranhe o clima de “A Rainha dos Vampiros” e sua continuação, “O Templo na Selva”, Aliás, o título da primeira já entrega o que vem pela frente. No meio da floresta mexicana, entre ruínas de templos astecas, arqueólogos do mundo inteiro (sobretudo estadunidenses) buscam pelos tesouros e relíquias de uma das maiores sociedades pré-colombianas da América. (Manfredi aproveitar para criticar, com fineza e elegância, especuladores de todo tipo e falsos cientistas que roubam e comercializam tais tesouros, sem o menor escrúpulo. Pense no tanto de objetos do Egito Antigo espalhados em museus pela Europa.) Nisso, topam com uma seita que envolve rituais de sacrifício humano, morcegos-vampiros e uma rainha/sacerdotisa que mete medo pelos vilarejos próximos.
É nesse contexto que Tex, seu parceiro de sempre Kit, seu filho Kit Willer e o companheiro navajo Jack Tigre partem para descobrir o que está acontecendo do outro lado da fronteira. Manfredi entrega uma história eletrizante, com altas doses de horror, cientificismo, mistério e muito tiroteio e sangue. É uma chacina atrás da outra, envolvendo rangers, rurales e indígenas. As mais de 200 páginas passam voando, pois a escrita de Manfredi é uma delícia. O artista Alessandro Bocci, vindo de outros fumetti de sucesso, se mostra a altura do roteiro. Entrega uns quadros maiores belíssimos, alguns deles da altura de dois quadros. Seu traço é dinâmico, dando o movimento que a aventura pede, utilizando bem as sombras e deixando todo aquele ar de mistério nas inúmeras cenas noturnas ou no meio da densa floresta. A parte do horror, especificamente, ele não deixa a peteca sair, dando o clima ideal.
Em resumo, se procura uma boa história, essas duas edições de Tex são ideais. Vários elementos clássicos do personagem estão presentes nas duas edições, sendo uma boa porta de entrada para quem nunca leu nada do septuagenário personagem italiano. Tem todo heroísmo (forçado, não estranhe) do protagonista, seus três principais parceiros tem boas participações e tem MUITO sangue. Sério, morre mais gente aqui do que em Crises nas Infinitas Terra.
Roteiro: Gianfranco Manfredi
Arte: Alessandro Bocci
Editor: Mauro Boselli
Capa: Claudio Villa
Publicação original: Tex #701 e #702 (março e abril de 2019)
No Brasil: novembro e dezembro de 2019
Nota dos editores: 5.0