Longe da dualidade cinema/TV + quadrinhos, a Legião dos Super-Heróis (LSH) permanece, também, longe das bancas brasileiras.
Criada em Adventure Comics #247 (abril de 1958), a Legião dos Super-Heróis está próxima dos sessenta anos e continua viva na memória de seus fãs. Criada originalmente como um cenário para as aventuras do Superboy, onde o garoto de aço teria influenciado as ações de adolescentes com super poderes mil anos no futuro, a equipe logo ganhou sua própria série em Adventure Comics.
Os fãs da equipe têm vários períodos para recordar. Seja no clássico período às mãos de um iniciante Jim Shooter (que tinha 14 anos quando assumiu o título em 1966), seja nos anos 1970, com algo da moda disco influenciando os costumes e o traço de Dave Cockrum e Mike Grell. Neste período, a equipe de heróis do futuro deixou Adventure Comics e rumou para a série solo do Superboy que primeiro alterou seu nome para Superboy and the Legion of Super-Heroes, alterando mais uma vez pouco depois para simplesmente Legion of Super-Heroes.
Em minha pouco humilde opinião, o fator decisivo foi a contratação de Paul Levitz: primeiro, para narrar o casamento de Satúrnia e Relâmpago e, depois, regularmente, a partir de Legion of Super-Heroes #284 (fevereiro de 1982). Levitz, duas edições após sua estreia, passou a ter como artista Keith Giffen, que ficaria irremediavelmente ligado à equipe de heróis. Neste período eles produziram uma das maiores sagas da DC Comics em 1983 que foi A Saga das Trevas Eternas, mostrando o retorno de um inimigo do passado e que realmente poderia fazer frente à equipe!
No Brasil a equipe estreou em Superman #79 (EBAL, julho de 1962) e foi transferida para Superboy e Superboy BI e posteriormente a série Legião dos Super-Heróis (38 números, 1968-1971). Retornou para Superboy e Superboy BI, indo depois para Superboy Em Formatinho (7 números, 1977) e ainda em Superboy (5ª série). Quando a Abril Jovem assumiu os personagens, primeiro, reeditou algumas histórias como fez com praticamente todos os personagens da DC Comics, e depois saltou para Legion of Super-Heroes #284, publicada em Super-Homem #10 (abril de 1985). Mas se sabia que o principal editor da Abril não gostava da equipe! Os achava infantis!
Quando terminou a publicação de A Saga das Trevas Eternas em SuperPowers #01, uma publicação trimestral que procurava emular o sucesso de Grandes Heróis Marvel, a equipe começou a ter uma pausa maior entre a publicação de seus títulos. Ganhou um novo SuperPowers, o número 7, que trouxe Legion of Super-Heroes #307-309 e mais algumas histórias saltadas aqui e ali.
Em 1984 a Legião ganhou um novo título nos EUA, reiniciando a numeração, mas, com a reformulação do Universo DC, a Abril decidiu não publicar isto e só começou a publicar esta nova série em Super-Homem #47 (maio/1988) que trouxe Legion of Super-Heroes #32. Como era essencial que se apresentasse a equipe para entender a trama do “Universo Compacto” do Superman de John Byrne, a Abril publicou regularmente a partir daí e levou a equipe para a segunda fase de DC 2000, já com 160 páginas (edições 17 a 24, maio a dezembro de 1991), voltando a Super-Homem nas edições 95-98 (maio a agosto/1992), que traz o arco “Guerras Místicas” (Legion of Super-Heroes #60-63), que também encerra esta passagem da equipe e a série de então.
A partir daí, a porca torce o rabo!
Os anos perdidos
A nova série americana Legion of Super-Heroes, iniciada em 1989, que começa com o arco “Five Years Gap”, é inédita no Brasil! Em 1993 surge uma série irmã da LSH, chamada Legionnaries e as tramas passavam a circular quinzenalmente, mas voltadas para um público adolescente, com direito a selo na capa indicando a numeração, exatamente como era feito com as quatro séries mensais do Superman.
E a Abril Jovem ainda perderia outra oportunidade de ouro para publicar os personagens: Zero Hora!
Zero Hora foi um evento para recauchutar a continuidade da DC Comics, já com problemas em 1994. Parece que foi feita de encomenda para corrigir o problema da Legião, que tinha se inspirado em um Superboy que, naquele momento, nunca havia existido! Explico: desde a reformulação de Byrne, o Superman nunca havia agido quando adolescente. A história já havia sido explicada com o conceito do “Universo Compacto”, mas a sensação de gosto ruim na boca continuava.
A DC decidiu reiniciar verdadeiramente a Legião dos Super-Heróis do zero, usando as suas duas séries mensais de então. Já li grande parte deste material de Legion of Super-Heroes e Legionnaries (após 1994) e achei bastante aceitável! Boas tramas, colaboração de autores competentes como o Roger Stern, Tom Peyer e Tom McCraw e um clima real de histórias inteligentes para adolescentes.
Em dezembro de 1999, Peyer e McCraw passam o bastão para Dan Abnett & Andy Lanning, que fazem um arco chamado “Legion of the Damned”, que concluiu em março de 2000 e encerra as duas séries de então. Passando primeiro para uma série chamada Legion Lost (12 números, 2000-2001), parte da LSH se vê perdida no espaço, sem contato nenhum com espécies ou parte do universo conhecido. Com o final de Legion Lost a equipe ganha The Legion (2001-2004) que dura 38 números e leva a Legião para um novo reboot!
Todo este material é inédito no Brasil e, mesmo com o sucesso inicial de The Legion, a Panini Comics, então já detentora dos direitos, preferiu concentrar-se em material que tivesse relação com a cronologia dos personagens. Mas, como publicava Teen Titans do Geoff Johns, a Panini publicou o especial Teen Titans/Legion of Super-Heroes, que rebootou o universo da equipe – de novo!
Com o novo reboot, a equipe que passou a ser conhecida como “Legião Threeboot”, ganhou uma nova série em 2005, escrita por Mark Waid, e que, no 15º número, passou a chamar-se Supergirl and the Legion of Super-Heroes. Nesta fase, a série passou a ser publicada no Brasil em Os Melhores do Mundo (#1-14, 2007-2008).
Com Crise Final, tivemos uma pequena obra-prima chamada “A Legião dos 3 Mundos”, por Geoff Johns e George Pérez, publicada no Brasil em Superman & Batman #52-55 (outubro/2009 a janeiro/2010). Com Geoff Johns à frente da série do Superman, ele corrigiu alguns erros em Superman e a Legião dos Super-Heróis, publicado na série regular do personagem e coletado em capa dura em 2014. Com a casa em ordem, parte das novas aventuras da Legião dos Super-Heróis que saíram na nova Adventure Comics foi publicada em Superman #101-106 e Universo DC a partir da edição 14.
O estado atual da Legião
Em 2013, com o lançamento de “Os Novos 52” pela Panini a equipe ganhou dois encadernados: um dedicado à série Legion of Super-Heroes e outro à Legion Lost, onde parte da equipe do futuro está presente em 2011, ano do “reboot branco” da DC Comics. Os encadernados não venderam bem e não houve continuidade. De qualquer modo nos EUA a equipe encerrou sua série mais recente em outubro de 2013, com o 23º número da série Legion of Super-Heroes.
Como é muito comum dizer na DC, há muito material bom da Legião… mas no passado!
A série de 1989, o “Five Years Gap”, a divisão em duas equipes com histórias juvenis, o reboot de Zero Hora, a fase pós-Zero Hora com a construção de uma nova Legião, a fase Legion Lost/The Legion e mesmo o início da fase de Mark Waid dão material para dezenas de meses de publicação, mas dificilmente serão publicados no Brasil nos próximos 10/20 anos! Por quê? Adivinhação?
Não! Não existe nenhum projeto atual envolvendo séries de TV e cinema com a Legião dos Super-Heróis. As histórias são antigas, dependem de material digital e não tem nenhum peso na cronologia adotada neste momento! Especialmente neste momento, em que estamos limpando a cronologia para o Renascimento e somente agora nos EUA é que estamos começando a reapresentar a Legião neste novo contexto, pois Satúrnia, um dos membros fundadores detêm o conhecimento de um segredo ligado a quem manipulou o Universo DC! Ainda ouviremos falar muito da Legião, mas, no momento, nada de série regular!
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Um comentário sobre “Saudades da Legião!”