Os Incríveis 2

4.8

NOTA DO AUTOR

Selado o acordo que garante aos Marvel Studios os direitos sobre os personagens que estavam sob controle da Fox, a esperança de ver um filme decente do Quarteto Fantástico está novamente acesa. Todavia, se você prestou atenção ao mundo à sua volta, já foi possível ter alguns vislumbres do que ele poderia ter sido (ou pode vir a ser): no começo do ano, a série Perdidos no Espaço (Netflix) mostrou como fazer ficção científica familiar de qualidade, com noções exemplares de drama, suspense e ação. Outra “versão” bastante feliz do Quarteto está presente nos dois filmes de Os Incríveis.

Os Incríveis 2 é um pequeno milagre em sua mera existência. O diretor Brad Bird não gosta de continuações, e a encheção de saco para ele já confirmar um terceiro filme da série só há de aumentar a birra. Se for preciso mais uma década e meia pra gente rever (se é que vamos) a família Pera (Parr, no original), temos que torcer para que a Marvel faça uns dois ou três bons filmes da Primeira Família, pra gente se distrair até lá.

Apesar do intervalo de 14 anos entre as produções, a história de Os Incríveis 2 começa exatamente onde acaba a do primeiro, com a família Pera enfrentando o Escavador. A destruição deixada pela perseguição apenas reforça a opinião do governo de que os heróis devem continuar banidos. Depois que o governo encerra um programa de realocação de ex-supers, os Pera se veem forçados a abandonar de vez o uso de poderes – para tremendo desgosto de Violeta e Flecha, que mal acabaram de aprender a usar os seus.

As coisas começam a melhorar quando surge um magnata das comunicações, Winston Deavor, disposto a reconquistar a simpatia do público para os superpoderosos. Saudoso da Era de Ouro dos heróis (em parte patrocinada por seu falecido pai), ele conta com ajuda de sua irmã, o gênio tecnológico (e beberrão) Evelyn Deavor para reabilitar a imagem dos superseres. Para surpresa de Bob, o Sr. Incrível, não é ele o escolhido para abrir o projeto, mas sua esposa, a Mulher-Elástica. Para cada esforço de Helena, porém, acontece um perigoso e sofisticado ataque de um novo vilão, o Hipnotizador.

Brad Bird não queria fazer um filme focado em proezas heroicas, pois, segundo ele, essas coisas envelhecem rápido. Boa parte do filme é gasta, então, com as dificuldades e o crescimento dos Pera como família. Enquanto sua mulher trabalha fora, Bob é deixado em casa pra tomar conta dos filhos – e administrar o próprio ciúme da nova condição de “estrela” de Helena. O momento é conturbado: Flecha vai mal na escola, Violeta tem uma decepção amorosa e Zezé está desenvolvendo inúmeros poderes. Bird tem razão: é nessas horas que o público mais se identifica com o que vê na tela (o tom pouco infantil me leva a pensar que Os Incríveis 2 foi desenvolvido, propositalmente, para o público que assistiu ao primeiro filme no cinema, em 2004).

Por mais que os dramas e comédias familiares sejam interessantes, porém, Os Incríveis continuam sendo super-heróis e a gente quer muito vê-los em ação. Considerando as habilidades da família Pera (principalmente as de Helena e Violeta, análogas às de Reed Richards e Susan Storm, do Quarteto), a Marvel pode extrair daqui lições valiosas sobre dinâmica familiar e uso criativo dos poderes. Apesar de todo o humor que pontua a trama, existe um senso de perigo real que deixa a gente roendo as unhas. Quando Violeta, Flecha e Zezé são atacados em casa, por exemplo, a gente não consegue deixar de imaginar que aqueles caras querem machucá-los pra valer.

Previsivelmente, Zezé se torna o “Baby Groot” da vez, um alívio cômico fofo e cheio de talentos letais. Seu duelo com um guaxinim ladrão de comida é um clássico instantâneo, um dos poucos momentos realmente dedicados às crianças menores no filme. Os Incríveis 2 traz questionamentos sociais que a gurizada só vai entender, de verdade, daqui a alguns anos – e torçamos para que entendam, porque o filme faz um belo trabalho no plantio da semente.

Os Incríveis 2 é inferior ao primeiro por muito pouco. Talvez a única coisa que realmente falte a ele é aquele “cheirinho” de novidade que o primeiro teve. Ainda é cedo para saber se um dia teremos Os Incríveis 3, mas, considerando a dinheirama que o filme vem fazendo (US$ 700 milhões mundialmente, com apenas 30 dias em exibição), é certo que, quando as merecidas férias de Bird tiverem chegado ao fim, a Disney/Pixar certamente vai juntar-se ao coro de pidões para buzinar em seu ouvido.


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