Com um atraso injustificável (estavam esperando a data simbólica de 2018? Então, que venha uma enxurrada de publicações, finalmente a Panini publicou essa minissérie. Para mim, é simplesmente a melhor coisa que saiu do Superman desde 2011 (convenhamos, não foi muito difícil). Talvez seja a melhor história/mini do personagem desde Grandes Astros Superman, da dupla Grant Morrison e Frank Quitely.
Quando ela foi publicada lá fora, quase ninguém sabia quem raios era Max Landis. O sobrenome não lhe é estranho à toa: ele é filho do John Landis, o diretor dos maiores clássicos da Sessão da Tarde ao longo dos anos 1980 e começo dos 1990 (Os Irmãos Cara de Pau, Três Amigos, Um Príncipe em Nova Iorque etc.), ao lado do Ivan Reitman (Caça-Fantasmas, Irmãos Gêmeos, Pare! Se Não Mamãe Atira etc.) e dos finados John Hughes (Curtindo A Vida Adoidado, Mulher Nota 1000, Clube dos Cinco etc.) e Harold Ramis (Férias Frustadas, Feitiço do Tempo, Máfia no Divã, etc.). Certo, legal, mas e daí?
Max Landis ficou mais conhecido, talvez, por um vídeo épico (clique aqui) em que ele DESCASCA O Homem de Aço (o filme) sem dó nem piedade. Fez o que quase todos nós fizemos ao sairmos do cinema: foi lá xingar muito na internet. Se você fez isso, deve ter ouvido dos defensores algo como “vai lá e faz melhor, então”. Você não quis responder a esse grande argumento, né? Não precisa: Landis foi lá e fez. No entanto, Landis não é nenhum paraquedista. Antes, ele escreveu umas três histórias do Azulão. Um delas saiu em Action Comics Annual #1, bem no comecinho dos Novos 52.
Fã declarado do personagem, ele postou outro vídeo no YouTube, gigantesco, sobre uma ideia que teve pra uma história do Superman. A DC Comics gostou, chamou o cara, e cá estamos nós.
Por preguiça, não farei comentários edição por edição. Pra ser bem honesto, cada edição por si só valeria um post em separado, tamanha minha empolgação com essa minissérie (li umas três vezes). Vamos simplificar e dar motivos pra você comprar isso agora. Ou então, faça melhor: ouça o 7 Jagunços que fizemos desse material, nosso primeiro programa.
Primeiro de tudo: faça uma busca no Google Imagens (já fiz pra você: clique aqui) e veja que coisa linda é essa minissérie. Landis cercou-se de sete grandes artistas (e mais uma penca pra fazer as capas variantes), um pra cada edição, encaixando a proposta do roteiro na arte dos escolhidos. Ficou perfeito. A edição que tem mais ação? Jae Lee e Francis Manapul. A primeira, com Clark criança? Nick Dragotta e as belas cores do brasileiro Alex Guimarães. Porradaria insana pra você ler em pé? Jock. E por aí, vai.
Depois, entenda o seguinte: é um gibi sobre Clark Kent. Tem uma estrutura até bem simples, com a história que avança linearmente: na primeira, ele ainda é criança; na segunda, já é adolescente e, da terceira em diante, vai avançando mais lentamente nessa fase maluca chamada de “adulto jovem”. Sim, é uma espécie de “história de origem”, mas sem a parte do foguete, Krypton explodindo, essas coisas. Nunca leu nada do personagem? Tá há séculos sem ler? Então, essa é a sua história.
Talvez uma coisa ou outra te cause estranheza. A mudança mais brusca que posso indicar aqui é a idade dos pais. Jonathan e Martha Kent não são dois velhinhos, como você viu em Superman: As Quatro Estações, e bem mais novos do que em Origem Secreta e O Legado das Estrelas (não que eles fossem muito velhos nos dois últimos). Os quatro primeiros números têm, ao final da edição, uma página escrita pelo Landis com outros desenhistas convidados. Na primeira, é sobre o casal Kent e tem informações que podem ser novidade pra muita gente. Um olhar mais, digamos, atual.
O talento do Max Landis está mesmo na ideia de Clark Kent que ele te passa. Esqueça o bobão desengonçado. O escritor tem a verve do pai e de seus colegas diretores pra falar sobre jovens. Um talento único. Enquanto criança, Clark é esperto, gosta de brincar e, ao mesmo tempo, fica tímido perto da Lana Lang. É um pivete igual a qualquer outro que exista no mundo. Igual a você. Na fase adolescente, é que o talento do cara transborda: seu Clark é justamente o oposto daquilo que talvez você esteja acostumado: ele até bebe, mas não deixa de ser gentil e de ajudar as pessoas. Ele se diverte, conta piadas e fica tímido quando o assunto é garotas, como qualquer outro. É tudo muito crível, sobretudo os diálogos.
Fique logo sabendo (caso não tenha deixado claro) que o Superman quase não aparece aqui. É uma história sobre Clark Kent, não esqueça, e o autor usa os coadjuvantes (Pete Ross, em especial, mas aparecem Oliver Queen, Abin Sur, Batman, Dick Grayson e, claro, Lois Lane e Lex Luthor) para desenvolver o personagem principal. Não é das coisas mais revolucionárias, mas não deixa a história maçante. Tem muita coisa voltada pros tempos atuais aqui e ali, coisas pequenas, mas bem necessárias. A ideia do primeiro uniforme é divertidíssima e pra lá de lógica.
Falando em Batman, temos aqui, na minha humilde opinião, um Top 4 da vida no quesito “grandes primeiros encontros entre Superman e Batman”. São míseras cinco páginas desenhadas pela Jae Lee, com cores da June Chung. Veja essa página abaixo e diga se não!
Em resumo, para não me estender muito e pra você correr logo atrás desse gibi (te ajudo: clique aqui), fique sabendo que a última edição tem as seguintes palavras-chave: Superman (e não Clark Kent); Lobo (o único que vale); Jock (Top 3 desenhistas da atualidade). Se isso não te fizer ir correndo atrás desse material, desista dos quadrinhos. Vá pro cinema, que você ganha mais.
Roteiro: Max Landis
Arte: Nick Dragotta (cores de Alex Guimarães), Tommy Lee Edwards, Joëlle Jones (cores de Rico Renzi), Jae Lee (cores de June Chung), Francis Manapul, Jonathan Case e Jock
Editor: Alex Antone e Brittany Holzherr
Capa: uma galera
Publicação original: Superman: American Alien (novembro de 2015 a maio de 2016)
No Brasil: agosto de 2018
Nota dos editores: 4.8