Já foi dito antes, mas vale repetir: as liberdades artísticas tomadas “para leitores adultos” (aspas indispensáveis) na coleção Graphic MSP jamais desconsideram a possibilidade de os filhos e/ou irmãos menores desses tais leitores passarem a mão no gibi. Horácio – Mãe respeita esses preceitos. É uma clássica história de amadurecimento que, se não reinventa a roda, entrega uma leitura bastante aprazível.
Depois de um pequeno “choque de realidade” com Jeremias – Pele, a coleção volta seu foco ao personagem mais exclusivo do Maurício de Sousa: é ele quem escreve e desenha quase tudo que se lê do Horácio, desde sua criação, em 1961. O pequeno dinossauro vegetariano é o fiel depositário das inquietações filosóficas do seu criador.
Por sua vez, Fabio Coala, de 40 anos, o autor premiado com a permissão de mexer em personagem tão pessoal, é o dono do site Mentirinhas, onde publica tiras de humor baseado em comportamento e observações do cotidiano. Seu traço é agradável e polido, e seu texto costuma enfatizar valores positivos para crianças e adultos.
Convincente como aventura infantil e fábula moral, Horário – Mãe traz o personagem em busca, claro, da mãe que nunca conheceu. Solitário, Horácio acostumou-se a ser igualmente temido por ser de uma espécie predadora dominante e subestimado por ser gentil e benevolente, num mundo selvagem, em que a força bruta costuma ser a diferença entre vida e morte.
Por outro lado, o inabalável bom caráter de Horácio, também, lhe consegue amigos: ao lado de Napinho, um solenodonte, ele aprende e ensina sobre coragem, autopreservação e liberdade. Entre momentos de perigo, humor e emoção, a jornada dos dois tem seu ápice em uma cratera supostamente inescapável, onde Horácio acredita que pode estar sua mãe e de onde Napinho deseja libertar um irmão perdido.
A trama principal é entremeada com flashbacks do que realmente aconteceu com a mãe do Horácio. O texto de Coala confronta o otimismo idealista do personagem principal com o pragmatismo conformista de outros que cruzam seu caminho – e, claro, toma partido dos determinados e puros de coração.
Apesar do desenvolvimento previsível (ainda que competente), Horácio – Mãe tem um final nada óbvio, num último quadro capaz de desarmar até o mais reticente leitor. A menos que você tenha uma fria bola de chumbo no lugar do coração, a emoção é garantida. Nos extras, além dos já tradicionais detalhes do processo criativo, capas descartadas e comparação com a versão clássica nos gibis da Turma da Mônica, temos os divertidos teasers do próprio Coala, publicados durante a criação da graphic novel.