Sim, o raio caiu duas vezes no mesmo lugar. O Flash conseguiu emplacar um seriado de TV pela segunda vez. Tudo bem, da primeira vez não emplacou em termos de longevidade. A primeira série, estrelada por John Wesley-Shipp no começo dos anos 1990, durou apenas duas temporadas. Ainda assim, conseguiu se firmar no imaginário coletivo de uma geração. Vinte anos depois, uma versão mais jovem, trágica e com apelo maior junto ao público adolescente, consegue restabelecer o velocista escarlate de Central City como ícone da telinha. O Barry Allen interpretado por Grant Gustin tem pouco em comum com a versão noventista. Na verdade tem menos ainda a ver com o Barry dos gibis.
E tem feito sucesso por isso, possivelmente. A DC Comics lançou uma revista baseada nesse seriado atual, para servir ao telespectador que, eventualmente, sinta aquele impulso de ver no papel outras aventuras desse Allen quase Peter Parker.
Voltando aos gibis, além dessa adaptação, teve a mensal do Universo DC regular, ressurgida com os Novos 52. Que começou muito bem visualmente, com a arte de Francis Manapul e com roteiros bem fraquinhos desse mesmo artista em parceria com Brian Bucellato. Esse Barry Allen não tem os mesmos dramas românticos adolescentes da versão televisiva, nem a inexperiência, compartilhando apenas, durante um tempo, a angústia de tentar inocentar o pai, acusado injustamente de assassinar a esposa, mãe de Barry. Ser pai ou mãe de super-herói no Universo DC é profissão de risco.
As aventuras do Flash nesse gibi, nos últimos anos, não fizeram jus ao sucesso alcançado na TV. Seja em termos de qualidade criativa, seja de planejamento comercial. Nenhum arco ou história conseguiu ir além do razoável. Não escalaram roteirista ou artista inovador, motivado, em evidência ou, sendo bem realista, com o bom e velho apelo comercial. É, um Jim Lee ou algum outro daqueles que, se não é artista completo, ao menos consegue criar rebuliço nas redes sociais, atrair leitores veteranos e também os ocasionais. O tipo que compra o gibi pela capa ou pelos “desenhos bonitos”.
Dane-se o fato de que Jim Lee mal consegue entregar seis edições sem atrasos. Ainda assim teria impacto pra capitalizar em cima do momento vivido pelo personagem na TV.
Mesma coisa em relação ao roteirista. DC e Marvel já fizeram suas jogadas puramente comerciais, vide Batman: Silêncio escrito por Jeff Loeb e Homem-Aranha: Caído Entre os Mortos de Mark Millar. Gibis que, ao final, se revelaram grandes enrolações, ainda assim, conseguiram atrair atenção e manter o escopo até a última edição. Imagina só algo assim com o super-herói mais popular da TV hoje em dia?
Durante a WonderCon 2016, a DC Comics anunciou mais uma tentativa para revitalizar seus personagens e conceitos. DC: Renascimento foi uma saga que marcou uma nova fase onde elementos clássicos e novas ideias estariam entrelaçados, com um mix de roteiristas e artistas das antigas junto com novos criadores. No caso do Flash, Joshua Williamson assumiu os roteiros (e se mantém firme e forte) e os desenhos, no início, ficaram a cargo de Carmine Di Giandomenico. Williamson fez vários trabalhos para a DC, com Batman, Voodoo e outros, além de coisas na Image, Marvel, IDW e Onipress. Carmine (o segundo artista com esse nome à ilustrar as aventuras do Flash) tem duas décadas de experiência na indústria e fez bons trabalhos em All New X-Factor, Justiceiro e Hellblazer, entre outros. Uma equipe com potencial… Em uma revista que merece mais. O resultado? Bem, isso fica para uma outra oportunidade.