X-Men: Fênix Negra

2.0

NOTA DO AUTOR

Desprestigiados nos quadrinhos e desmoralizados no cinema, os X-Men devem “renascer” para o público em ambas as mídias, em breve: no papel, ainda este ano, o escritor Jonathan Hickman promete uma simplificação radical do confuso universo mutante, que será reduzido a dois títulos: House of X e Powers of X; já no cinema, a esperança é de que a reconquista dos direitos de adaptação pela Marvel os faça ressurgir na tela grande da maneira sonhada pelos fãs. Deve levar algum tempo, mas já estamos na torcida.

Não é que a gente queira simplesmente esquecer os filmes da Fox. Eles tiveram seus momentos. Pelo menos três deles têm entrada garantida em qualquer lista decente de melhores adaptações de quadrinhos: X-Men 2 (2003), X-Men: Primeira Classe (2011) e Logan (2017). O restante variou entre o esquecível (X-Men: Apocalipse, 2016) e o indesculpável (X-Men Origens: Wolverine, 2009).

Por conta de sucessivas refilmagens e adiamentos, X-Men: Fênix Negra chegou ao cinema com expectativas baixíssimas – e eu saí dele com a sensação de ter visto um espetáculo sem precedentes de oportunidades perdidas.

O filme tem uma história até decente, juntando elementos que já renderam boas histórias nos quadrinhos, como as manipulações mentais “bem-intencionadas” de Charles Xavier, os X-Men conhecendo e perdendo prestígio público e enfrentado uns aos outros. Há diversas boas situações criadas pelo roteiro, mas elas são parcial ou totalmente desperdiçadas, devido à direção preguiçosa de Simon Kinberg.

Se você não se lembra, Kinberg foi o responsável pelo roteiro de X-Men: O Confronto Final (2006), que já continha elementos da Saga da Fênix Negra. Antes, Kinberg podia jogar a culpa do fiasco crítico no diretor Brett Ratner, mas, agora, ele tem um fracasso completo pra chamar de seu. Fênix Negra é um ponto muito baixo entre os filmes mutantes na Fox.

Depois de salvar uma equipe de astronautas do que parecia ser uma explosão solar, os X-Men retornam à Terra com Jean Grey trazendo, dentro de si, a Força Fênix. Com o brutal acréscimo de poder, Jean descobre bloqueios psíquicos erguidos por Xavier – e os derruba. Decepcionada e furiosa, ela sai em busca da verdade, mas, além de seus amigos, há um misterioso e perigoso grupo em seu encalço.

Parece legal, certo? Como disse antes, o filme tem boas ideias (principalmente durante a missão de salvamento, com boa dinâmica de equipe), mas elas são executadas de maneira pífia ou simplesmente terrível, com poucos momentos capazes de tirar o espectador da letargia. Contribuem para essa sensação a trilha sonora modorrenta, a edição que beira o amadorismo e a direção sem qualquer pulso. Nem mesmo o elenco, com exceção de Sophie Turner (que entrega uma atuação sofrida e honesta como Jean Grey), brilha como antes. James McAvoy e Michael Fassbender garantem o dinheiro de pagar os boletos do mês de forma displicente, enquanto Jennifer Lawrence é simplesmente irritante (chega a dar um alívio saber que nunca mais a veremos como Mística; dei até um sorrisinho quando ela morreu – e não é spoiler, isso já era óbvio pelos trailers).

Nas mãos de um diretor um pouquinho só mais hábil, X-Men: Fênix Negra poderia ter sido um belo filme. Nem estou falando de Irmãos Russo ou gente de$$e calibre. Chamava o Matthew Vaughn. Ele abriu os trabalhos desta geração da melhor maneira possível com Primeira Classe. Seria até uma forma de compensá-lo por ter sido chutado da franquia, em favor do ego inchado de Bryan Singer. Chamava o Doug Liman (No Limite do Amanhã), o Edgar Wright (Baby Driver), o Christopher McQuarrie (Missão Impossível: Efeito Fallout), qualquer um com o mínimo domínio de cenas de ação, porque as vistas aqui estão entre as mais patéticas e confusas que tive o desprazer de testemunhar – nem mesmo a aguardada “cena de Mercúrio” tem qualquer graça.

Do jeito que está, porém, o filme é apenas uma despedida melancólica, desinteressada e desinteressante. Uma pá-de-cal nada honrosa numa franquia de grande valor histórico – afinal, foram os X-Men que inauguraram, no já distante ano 2000, a era que transformou os super-heróis no filão cinematográfico mais rentável da atualidade. Uma pena. A esperança, agora, é a de vê-los ressurgir, tal como uma fênix, das cinzas deste fiasco.


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