X-Tudo Superior #5

Inteligência Artificial. Viralizou. Viral. Vírus. Essas palavras, em pleno 2020, fascinam e assustam. Mas quando se trata do mundo fictício dos X-Men, são termos que fornecem matéria-prima para altos conceitos e muitas histórias. Hoje o foco do X-Tudo Superior é todo voltado para máquinas e vírus na mitologia mutante!

NO BRASIL

Ainda sobre X-Men #2… Sim, a edição 3 já está em algumas bancas do Brasil, mas tem gente que só agora está lendo a segunda edição. Portanto, vamos esticar mais um tantinho a conversa sobre o gibi que trouxe Dinastia X #2 e Potências de X #2 e #3, assim X-Men #3 fica pra semana que vem. E vamos falar especificamente sobre máquinas, inteligências artificiais e robôs fissurados em pegar mutantes.

Sentinelas, Molde Mestre, Nimrod, Bastion, Tecnarcas, Falange. Jonathan Hickman foi longe. No passado e, muito mais, em direção ao(s) futuro(s) onde conseguiu interligar todos esses personagens e conceitos a outros que normalmente não tem associação com os mutantes da Marvel, a exemplo da Inteligência Suprema dos Krees e a Mente Global da Tropa Nova.

Uma reinterpretação, em especial, elevou um certo conceito X ao nível de protagonismo. Os Sentinelas, vistos originalmente como instrumentos a serviço do preconceito humano contra os mutantes, agora passam a ser descritos por Hickman como uma inevitabilidade na evolução humana. Na verdade, ele diz que inteligências artificiais são inevitáveis, não apenas os Sentinelas. E o conflito está aí, em vários níveis e ângulos. Como foi dito em Dinastia X #2, “Quando duas espécies agressivas dividem o mesmo ambiente, a evolução exige ADAPTAÇÃO ou DOMÍNIO”, o que sempre foi aplicável ao embate Homo Sapiens versus Homo Sapiens Superior. Os Sentinelas apenas estavam lá perdidos no meio. Até agora…

O que vemos no decorrer das 3 histórias em X-Men #2 é mais uma costurada competente, feita por Jonathan Hickman. Ao considerar, de certa forma, as inteligências artificiais como uma nova espécie, a mitologia foi ampliada para explorar um potencial que já existia desde a estreia dos robôs caçadores de mutantes ainda nos anos 1960. Eles sempre demonstraram a capacidade de decidir por si mesmos, principalmente sua unidade matricial, o Molde Mestre. Outro de seus “descendentes”, o sentinela futurista ultra adaptável conhecido como Nimrod, já tinha um comportamento sugerindo essa autonomia, desvinculando bastante a inteligência artificial das vontades da raça humana. Quando Chris Claremont e John Romita Jr. o criaram, ainda nos anos 1980, como um inimigo direto de Rachel Summers, caçando a pobre coitada mesmo através do fluxo temporal, havia algo mais nele do que a simples programação anti mutante feita pelos humanos. Nimrod via nos Homo Superior uma ameaça.

Tempos depois, o Molde Mestre original retornaria e sofreria uma inexplicável experiência METAFÍSICA junto com Nimrod. Os dois foram jogados no Portal do Destino, um artefato dado pela então guardiã do Omniverso, Roma, aos X-Men. Máquinas não estão vivas nem possuem almas, certo? Então como explicar que os dois robôs, Molde Mestre e Nimrod, tenham sido não apenas afetados pela passagem através do Portal, mas também fundidos e mesclados para formar uma nova entidade, denominada Bastion, uma inteligência artificial que causou o evento conhecido como “Operação Tolerância Zero”?

Pois agora Hickman pegou tudo isso, alinhou e extrapolou, fazendo com que a guerra HUMANOS VERSUS MUTANTES ganhe oficialmente outro fronte, com as máquinas assumindo papel de raça superior aos humanos. Claro, isso já havia sido apontado em histórias como Dias de um Futuro Esquecido e outras, mas essa abordagem atual foi bem além. Além MESMO.

Em uma das vidas de Moira MacTaggert, vemos um futuro cerca de 100 anos depois da derrota dos mutantes, no qual a humanidade louva e idolatra as máquinas, reconhecendo sua superioridade. Nimrod está no controle, com o auxílio de uma personagem que, ironicamente foi “criada” por ele. Karima Shapandar, a Sentinela Omega, uma humana transformada em ciborgue/sentinela na tal Operação Tolerância Zero, por Bastion, que é/era metade Nimrod. Ela já foi inimiga, aliada e amiga dos X-Men. Mas, tanto no presente onde Krakoa se tornou nação mutante, quanto nesse futuro dominado por Nimrod, está do lado das máquinas contra os Homo Superior. Atente para um detalhe que será importante mais adiante, nessa saga: Karima é uma humana aperfeiçoada. Isso terá grande peso no desenrolar dos fatos e no panorama geral. Eis que tudo está ficando cada vez mais complicado, portanto, o que seria de bom tom? COMPLICAR MAIS!

Mil anos no futuro, os mutantes são apenas uma curiosidade mantida em cativeiro, os humanos tornaram-se versões aprimoradas de si mesmos e as máquinas dividem a Terra com eles. E por serem quem são, almejam mais. Hickman juntou os tais conceitos não relacionados com mutantes, Inteligência Suprema dos Krees e Mente Global da Tropa Nova, resgatou uma espécie alienígena criada por Chris Claremont, os Tecnarcas e puxou pro bolo seus ‘descendentes”, a Falange. Misturou, buliu e chacoalhou, criando uma situação inesperada, com potencial absurdamente gigantesco.

Agora, a Falange foi revelada como genitora dos Tecnarcas, não o contrário. Uma raça tão avançada que existe apenas para absorver outras inteiramente ou descartá-las para que os Tecnarcas as devorem e eliminem do universo. E o que as máquinas terrestres, junto com os humanos aprimorados decidem? Chamar a atenção da Falange para se tornar parte da tal raça tecno-orgânica. Pra isso recorrem ao expediente dos Krees e dos Xandarianos que criaram a Tropa Nova. Copiam, salvam e fundem dezenas das mais geniais mentes humanas em uma máquina, um construto Nimrod, jogam em um planetoide, onde uma década depois emerge uma mente global/inteligência coletiva, que serve de isca para atrair a Falange. Admita, é algo tão ambicioso que poderia servir ao universo Marvel como um todo, mas bora deixar quieto na franquia X.

A história termina, nesta segunda edição, com as duas raças dominantes da Terra interagindo com a Falange e pedindo para ascender ao seu coletivo, mil anos no futuro. Já nos anos 100 e uns trocados, depois da criação de Krakoa, a nona vida de Moira MacTaggert termina para dar a chance de levar o conhecimento sobre a ativação precoce de Nimrod na estação Orchis, mais ou menos no ano 10 após a criação dos X-Men.

Em toda essa vertiginosa trama, Nimrod está presente. Karima, no presente e no futuro próximo, serve como um elo quase paradoxal tanto para garantir a existência de seu “co-criador”, quanto para o que pode simbolizar a junção humano/máquina que contribuirá para a expansão da humanidade aprimorada. É muita trama, subtrama, especulação e potencial inexplorado, até mesmo para as histórias dos X-Men. Jonathan Hickman foi longe, talvez até demais para si mesmo. O desafio (para ele) é ver se tudo isso será usado corretamente…

NOS EUA

Wolverine #5

Logan versus vampiros. Bem qualquer nota, talvez agrade quem gosta de violência angustiada. Mas a arte do rapaz que imita o Greg Capullo, o suiço Viktor Bogdanovic, tá cada vez melhor. Em alguns momentos lembra até mesmo a bela parceria de Marc Silvestri e Dan Green nos anos 1990. Então, se você quer um gibizinho pra ler enquanto mata tempo, leia esse.

New Mutants #12

Enquanto uma subtrama se desenrola em Nova Roma, envolvendo o uso de bichos esquisitos e escrotos sendo colocados no bucho do povo, temos também uma pequena história na boa e velha tradição mutante. Um embate contra humanos preconceituosos que causaram danos e mortes aos mutantes, bem situado no contexto atual de uso das redes sociais para disseminação do ódio, ironicamente acaba se tornando uma oportunidade para vermos o lado, digamos, “humano” de Illyana e Glob. História simples, de certa forma envolvente e que na certa vai se tornar uma daquelas pequenas referências quando falarmos de contos e dramas dos nossos mutunas. Ed Brisson merece ficar por um longo tempo na franquia X.

Cable #4

Primeiro arco concluído e, infelizmente, Gerry Duggan não conseguiu ter nessa mensal o mesmo resultado positivo alcançado em Marauders. Ao invés de termos um equilíbrio agradável entre ação, perigo, drama, humor e subtramas, o que vimos foi tudo isso desabando pelo caminho, deixando uma sensação desconexa, gerando desinteresse no final das contas. Se o envolvimento dos Cavaleiros Espaciais de Galador serviu pra alguma trama vindoura, além da possibilidade da tal espada que ficou com Cable ter a ver com o crossover X of Swords, foi uma escolha bem besta, é torcer pra que seja algo bem melhor do que foi nessa estreia da nova mensal do Nathan. É um conceito legal, que merece ser melhor explorado. No mais, fica a piada que já está cansando, do Cable namorador e pegador. Nhé.

ARQUIVOS DA MANSÃO X

E já que falamos tanto sobre os Tecnarcas e a Falange, nada mais adequado que futucar o passado dos mutantes com essas raças alienígenas. Começando pelo começo, obviamente.

Quando MagusWarlock foram criados para uma história em Novos Mutantes, na metade dos anos 1980, Chris Claremont e Bill Sienkiewicz certamente não imaginavam o quanto esses conceitos seriam expandidos, nem o quanto seriam usados em pontos cruciais da história dos mutantes, nas décadas seguintes.

Em suas estreias, os dois foram apresentados como pai e filho de uma raça tecno-orgânica, semelhante às máquinas, mas vivos e com uma biologia condizente. Predadores por natureza, se alimentavam de outros seres vivos ao transmitir um vírus que convertia suas presas em entidades tecno-orgânicas, permitindo assim que a energia vital fosse absorvida. Eles podiam atingir estaturas absurdamente colossais, viajar pelo espaço, destruir planetas e até mesmo consumir estrelas inteiras em sua idade adulta avançada. Eis que um deles, ainda garoto, desenvolveu consciência ao ponto de questionar e rejeitar esse imperativo predatório. Warlock optou por não ser um destruidor. E isso deixou seu pai, Magus, pra lá de revoltado.

Depois disso o garoto veio pra Terra, foi acolhido por Charles Xavier e seus Novos Mutantes, teve sua cota de aventuras, se tornou o melhor amigo de Douglas Ramsey, o Cifra, depois foi morto por Cameron Hodge durante o Programa de Extermínio. Algum tempo depois, voltou de certa forma como um amalgama com a aparência do (na época) também falecido Doug Ramsey. Teve até mensal própria em uma linha chamada M-Tech, por volta do ano 2000. Mas já nessa época, o vírus tecno-orgânico ou transmodal, como também era chamado, tinha se alastrado como recurso usado à exaustão pelos roteiristas.

Apocalypse, por exemplo, usou o vírus para infectar Nathan Summers, filho de Scott Summers e Madelyne Pryor, o que levou o garoto a ser acolhido e cuidado pela Irmandade Askani em um futuro distante. Nathan aprendeu a controlar o vírus, depois em uma viagem temporal ao Egito antigo encontrou Apocalypse em seus primeiros anos de vida mutante como En Sabah Nur e acabou infectando o sujeito com o vírus, o que lhe conferiu poder ainda maior nos séculos seguintes. Eventualmente, o drama de Nathan foi usado para explicar a origem de Cable, um personagem que originalmente nem seria mutante ou ligado ao vírus Transmodal. O braço mecânico foi retconeado como a manifestação física visível do vírus em Cable, mantido sob controle graças ao seu poder, a telecinesia.

Outra derivação do conceito dos Tecnarcas foi a Falange, originalmente descrita como uma raça gerada a partir do contato do vírus tecno-orgânico com outras espécies do universo. Gerou uma saga simpática em 1994, a Aliança Falange, estabelecendo uma ameaça que voltaria quase vinte anos depois com certo destaque em outro mega evento, Aniquilação – A Conquista, quando Ultron e a Falange uniram forças para tomar o controle do império Kree.

O vírus transmodal foi usado também na mensal da X-Force, para trazer de volta à vida vários inimigos humanos dos mutantes, a exemplo de Bolivar Trask, criador dos Sentinelas. E o vírus também serviu de base para outra saga, Necrosha, quando a mutante maligna Selene o utilizou para trazer de volta à vida inúmeros mutantes mortos na ilha de Genosha. Agora, com a revisão feita por Jonathan Hickman, o que já era um conceito bem firmado na mitologia X acaba alcançando um potencial gigantesco. A Falange e os Tecnarcas se tornaram maiores do que seu criador poderia imaginar, nos idos de 1980.


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