Ronin – Edição Definitiva

4.5

NOTA DO AUTOR

Deve ser difícil ser Frank Miller e ter atingido o auge criativo tão cedo (há mais de 30 anos!) sendo obrigado a passar o resto de seus dias esforçando-se para produzir algo minimamente comparável à sua “era de ouro”. Entenda que talvez esta nem seja uma preocupação real do velho Frank; apenas conjectura minha*. Talvez ele esteja confortável em viver das glórias (e dos royalties) daquele período em que seu nome era sinônimo de inovação e diversão.

* Dada sua prolongada fixação em espremer cada gota – leia-se centavo – possível de O Cavaleiro das Trevas (o que, em minha opinião, apenas esvazia seu próprio legado), talvez não seja uma conjectura totalmente descabida.

É neste período (que compreende, basicamente, a década de 80 inteira) que Miller protagoniza pequenas e grandes revoluções nos quadrinhos: leva suas influências de mangá e noir para o Demolidor; cria a Elektra; dá ao Wolverine laços com o Japão que se tornaram essenciais ao personagem; escreve as duas histórias mais importantes do Batman (O Cavaleiro das Trevas e Ano Um) praticamente em sequência.

Foi na introdução de Ronin – Edição Definitiva, escrita pela editora da DC à época do lançamento original (1983), Jenette Kahn, que fiquei sabendo que, embora pouco celebrada, a série também faz parte do pacote de mudanças no status quo provocadas por Miller. Num tempo em que a arte sequencial americana ainda engatinhava no que viria a se chamar graphic novel, Ronin foi a primeira publicação da DC a almejar o padrão gráfico e narrativo dos quadrinhos europeus.

Com liberdade e ganhos sem precedentes à época, Miller escreveu a história do samurai sem mestre (é isso que significa “ronin”) que é amaldiçoado por um demônio, morre e desperta num futuro em que máquinas autorreplicantes e próteses cibernéticas são comuns dentro do complexo Aquarius, uma organização que tenta tornar mais agradável e segura a vida num planeta Terra quase totalmente degradado. Com ele, desperta o demônio Agat, que o amaldiçoou e persegue, com ímpetos de vingança.

Tenho uma história complicada com Ronin. Comprei a primeira das seis edições em sua primeira publicação no país (1988), pela Editora Abril, quando morava em uma cidade muito pequena no interior da Bahia, onde a chegada dos gibis era extremamente irregular. Nem sinal das edições seguintes (embora tenha vaga lembrança de ter visto a quarta edição chegar por lá, mas, então, o interesse já havia esfriado). A história voltou às prateleiras durantes os anos seguintes, por editoras e em formatos diferentes, mas sempre contou com minha dedicada indiferença – fosse por temer dificuldades com a distribuição ou com os preços proibitivos praticados. Da primeira vez que a Panini a publicou encadernada, a edição esgotou-se antes que eu pudesse comprá-la. Recentemente, adquiri a Edição Definitiva, lendo-a praticamente de um só fôlego e pagando este “débito” que tive comigo mesmo por mais de 30 anos.

E, olha, valeu a espera! Nos anos 80, Frank Miller era um cara que valia cada centavo que investissem nele. O desenho, inspirado por Kazuo Koike (de Lobo Solitário) podia não ser o mais agradável para alguém acostumado às linhas apolíneas de, por exemplo, um George Pérez, mas o homem sabia compor páginas e sequências de ação como poucos. Há splash pages grandiosas e as lutas são de um dinamismo admirável, considerando o traço econômico do autor.

Ainda sem o ranço homofóbico e misógino que tomou conta de sua escrita em anos mais recentes, Miller se mostrava até bastante progressista, dando o co-protagonismo a uma mulher negra forte e honrada, a chefe de segurança da Aquarius, Casey McKenna, décadas antes de isso virar bandeira política. A crítica social e ambiental é contundente, mas não freia o avanço da história, que cresce em tensão a cada capítulo – e, apesar da massa de texto, não há palavra desperdiçada em demonstrações fúteis de macheza (sim, All-Star Batman & Robin, estou falando de você).

Embora pareça pronta para virar filme ou (melhor ainda) série, a última vez que alguém falou em adaptar Ronin foi o SyFy, há sete anos. Desde 2014, porém, não houve qualquer desenvolvimento neste sentido. Independente das razões para a suspensão, entenda que nem todo quadrinho precisa ser adaptado para TV ou cinema. Não é sacrifício algum – é até bastante prazeroso, acredite – sentar no sofá para desfrutar de Ronin no papel, em vez de numa tela.

 

  

Roteiro: Frank Miller

Arte: Frank Miller

Editor: Jenette Kahn

Capa: Frank Miller

Publicação original: Ronin 1-6 (1983-1984), DC Comics

No Brasil: Panini Comics

Nota dos editores:  4.5


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