Foi há exatamente um ano, após o casamento do meu irmão em Natal (RN). Uma epifania imagética me obrigou a retirar todo o pó da bicicleta ergométrica, lubrificá-la e pô-la em “movimento” antes de providenciar uma bermuda acolchoada de ciclismo para proteger os dois compartimentos onde se encontram meus futuros rebentos. De maio de 2016 a maio de 2017, alternando, posteriormente, entre pedaladas e pesos na academia do prédio em que moro, saí de um quadro de 122 para 94 kgs, melhorando minha qualidade de vida a olhos vistos. Claro, para tanto, exigiu força de vontade e reeducações alimentares ali e acolá, mas o fato que gostaria mesmo de registrar aqui é que nada disso seria possível se não tivesse sido apresentado ao que chamam por aí de “podosfera”.
Sim, os primórdios de uma rotina diária de cerca de hora e meia, não requerem apenas proteções adequadas à suas bolas, exigem também “saco” e a experiência me fez concluir que não há quadrinhos, romances ou seriados suficientes no mundo que lhe ajudem a camuflar o senso de autossabotagem inerente à condição humana. Felizmente, com um fone de ouvido e a prescrição de alguns podcasts por amigos, o que era um martírio acabou se tornando o interregno mais prazeroso do dia, uma pausa voyeurística para ouvir as conversas alheias sobre pautas de interesse. É bem verdade que há programas e programas, e com o tempo eu ia formando uma espécie de “paladar auricular”, decidindo o que apreciava ou não naqueles áudios.
Eis alguns exemplos: humor sutil, sem excesso, pode ser; pretensos humoristas, nem pensar; piada interna só funciona em bate-papos informais, fora dos microfones; todo egocentrismo ou excentricidades são perdoáveis, quer dizer, desde que se tenham bons argumentos para sê-los assim, caso contrário, são apenas paspalhos querendo atenção (e cliques); gosto de discussões sobre quadrinhos focadas em histórias específicas e não em generalidades – “vamos falar hoje de Frank Miller?!” –, especulações infundadas, modinhas hollywoodianas ou, pior, reações ao trailer que saiu hoje de madrugada no YouTube; também dispenso edições intrusivas, fissuradas em Spotify, afinal, o serviço já é creditado na fatura do meu cartão de crédito.
Claro, a convivência diuturna com pontos assim acaba extrapolando o campo do íntimo e vão parar em discussões acaloradas entre amigos, acendendo aquela fagulha que logo teria cacife para virar um incêndio incontrolável: “por que diabo não fazermos o nosso?”. A resposta foi: “simplesmente porque não queríamos”. Marcou-se uma data, e lá estávamos num chat de hangout. Mas, antes, tu deves está se perguntando quem seriam esses tais Jagunços? Pois bem, eis nosso casting: este que vos escreve, a dupla do Gibi Ruim, Dãozinho e Markus (nosso host); Reginaldo Yeoman, ex-BlogZine; o Marlo do Catapop; Yuri Saladino, conterrâneo e amigo “top, top, top”; e nosso “roadie”, o Do Vale, líder da Grande Ursa.
A princípio, em caráter de teste, começamos com um revival aos primórdios da Image Comics, discutindo o Spawn e, pouco depois, a minissérie Superman: American Alien, de Max Landis, com edições praticamente nulas; depois em Heróis Geriátricos, tomo às rédeas do serviço e passo a pesquisar mais sobre a mecânica da coisa, via Metacast ou dicas do Leo Lopes do Rádio Fobia. Há uma melhora considerável, quando passo a usar jumpcuts e filtros do Audacity, nesse terceiro programa, e mais significativa no quarto, com o Demolidor de Ann Nocenti. É bem verdade que enfrento várias limitações no processo, e o hangout, como o próprio Leo Lopes adverte, “é o menos recomendado para quem quer captar sua conversa com boa qualidade, já que o som é ‘estragado’ pela compressão”, mas, por ora, é o que temos para hoje. No quinto programa, uma retrospectiva de 2016 e nossas expectativas para 2017, utilizo um Headset LifeChat LX-3000, e percebo um salto e tanto na qualidade do meu áudio em específico. Algo que me faz ficar, em off, puxando a orelha dos demais Jagunços para também adquiri-lo.
Enquanto editor honorário (ou precário), admito que haja uma “perda de tempo” expressiva nesse trabalho (sempre de tentativa e erro), mas há prazer nisso, nessa faculdade de se organizar a gravação, corrigir “tropeços, engasgos ou respiros”, incrementá-la com trilhas, vírgulas sonoras, trucagens de trechos para dar coesão ao primado do “início, meio e fim”. Há prazer nas discussões pré-pauta – redigidas com maestria ímpar pelo Senhor Yeoman, há prazer na experiência de per si, nas próprias gravações e há, principalmente, um espírito de camaradagem genuína por trás dos microfones. Não sei se estamos nos encaminhando ou já cometemos os erros que citei poucos instantes atrás, mas o fato é que os Sete Jagunços vieram para ficar. E o Arte-Final aqui é o passo seguinte, o primeiro de muitos rumo a uma, com o perdão do trocadilho, “derrota monumental”.