Cavaleiro da Lua #4

4.0

NOTA DO AUTOR

Apesar dos constantes reboots, relaunches, revamps, rebirths e outros tantos “re”, não é fácil acompanhar a maioria dos títulos da Marvel e da DC. São décadas de cronologia, sendo que muitos personagens estão aí há quase 80 anos. A situação só complica quando um personagem sofre mais de uma releitura em pouco mais de uma década, como é o caso do Cavaleiro da Lua. De 2006 pra cá, o Punho de Konshu passou pelas mãos de nomes como Charlie Huston, Brian Michael Bendis e Warren Ellis, cada um dando um tom diferente às aventuras de Marc Spector. No ano passado, Jeff Lemire assumiu a revista naquela que pode não ser a melhor, mas talvez seja sua versão mais interessante.

Lemire, um dos quadrinhistas mais produtivos do mercado americano atualmente, pega o que torna o personagem único (a ligação com mitologia egípcia e as múltiplas identidades de Marc) e constrói, ao lado do desenhista Greg Smallwood, uma trama de suspense que torna esta encarnação da série totalmente diferente das anteriores. A premissa é a dúvida se Marc Spector foi ou de fato é o Cavaleiro da Lua, já que o ex-mercenário acorda em um hospital psiquiátrico onde estaria em tratamento há anos e teria criado a persona do Sr. Lua como uma válvula de escape para sua internação.

O roteiro a todo instante brinca com a percepção da realidade do protagonista: em um momento, ele é surrado por enfermeiros que, logo adiante, revelam-se monstros passando-se por humanos. Marc Spector, também, encontra mais de uma vez com o deus Konshu, que revela a mentira por trás do sanatório e que há uma guerra no panteão egípcio, onde Seth, seu inimigo, cada vez mais ganha terreno no conflito. Enquanto isso, Marc vai encontrando personagens internados no hospital que fizeram parte de seu passado, o que aumenta a suspeita de que realmente há algo errado ali.

E tem a arte. Greg Smallwood desenha demais e te faz demorar nas páginas. Com um traço clássico, detalhado e lindo, Smallwood brinca com a disposição e sequência dos quadros (perceba a construção de quadrinhos formando pontos de exclamação), com a sarjeta, com detalhes nas cenas, com tudo; emula Bill Sienkiewicz nas passagens onde Marc dialoga com Konshu, constrói a tensão através de painéis pequenos que guiam nossos olhos para a próxima ação e ainda cria belas capas para os 5 números deste TPB. As cores corretas de Jordie Bellaire e as participações inventivas de Will TorresFrancesco FrancavillaJames Stokoe representando mudanças de ambiente a fim de questionar (mais ainda) a sanidade de Marc na quinta história completam este primeiro volume do Cavaleiro da Lula de Jeff Lemire.

Mas algumas coisas também incomodam um pouco em Cavaleiro da Lua – Lunático. A primeira delas é o ritmo. Tudo vai muito bem até por volta da quarta história, quando há uma acelerada desnecessária na condução do roteiro que quebra a imersão do leitor e torna o final do arco um tanto anticlimático. Outro ponto é a maneira como a dupla de funcionários do hospital que persegue Marc é apresentada, com um tom meio cartunesco que não combina com o restante da trama. Talvez essa tenha sido a intenção de Lemire, mas soa algo deslocada.

Vez ou outra, Marvel e DC resgatam personagens menores e trazem bons materiais para quem busca histórias bem construídas ou para quem está cansado da mesmice do universo dos colantes. O Cavaleiro da Lua de Jeff Lemire é uma dessas pequenas obras com roteiros e desenhos acima da média que ainda nos fazem manter a atenção em algumas iniciativas das duas majors.

 

  

Roteiro: Jeff Lemire.

Arte: Greg Smallwood, Will Torres, Francesco Francavilla e James Stokoe.

Editor: Jake Thomas.

Capa: Greg Smallwood.

Publicação original: Moon Knight vol. 8 #1-5 (junho a outubro de 2016) e Moon Knight: Lunatic (novembro de 2016).

No Brasil: maio de 2017.

Nota dos editores:  2.7

 

 

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