100 Anos de Jack Kirby: 1st Issue Special #1 – Atlas

Reza a lenda que o (lendário) editor da DC Comics, Carmine Infantino, percebeu que vários novos títulos vendiam bem apenas na primeira edição, naufragando rapidamente em seguida. Com isso em mente, ele criou a antologia 1st Issue Special, com a proposta de publicar novos personagens pra depois ver no que daria (cabia aos leitores enviar cartas solicitando a continuação daquela história). A revista durou apenas 13 números, indo de abril de 1975 até abril de 1976.

Com uma mente ultra-criativa, Jack Kirby publicou três histórias – e nenhuma delas emplacou: Atlas the Great, Manhunter e Dingbats of Danger Street; respectivamente primeira, quinta e sexta edições. Vale dizer também que apenas dois deles conseguiram superar a maldição do primeiro número: Warlord do Mike Grell (que ficou conhecido aqui por Guerreiro e foi publicado em revista própria pela EBAL e nos mixes da Abril Jovem – especificamente em Heróis em Ação e Superamigos) e o revival dos Novos Deuses do próprio Kirby, escrito por Gerry Conway e Denny O’Neil com desenhos do Mike Vosburg.

Em meados da década de 1970, a intensa, porém, curta segunda passagem de Kirby pela DC Comics estava chegando ao fim. Os seus três números de 1st Issue Special foram um “canto do cisne”, após o cancelamento daquelas que seriam suas últimas publicações pela Editora das Lendas: OMAC, Kamandi, Etrigan the Demon e Kobra. Em 1976, Kirby estava na Marvel mais uma vez. Pela última vez.

Atlas, você já deve saber, foi um dos titãs que invadiu o Olimpo e, fracassada a rebelião, foi condenado por Zeus a sustentar o céu nos ombros. (Atlântida seria uma de suas filhas.) Na versão kirbyana, Atlas é uma espécie de Conan: traficantes de escravos invadiram sua aldeia, sequestraram sua mãe e mataram seu pai, destruindo todo o local. O pequeno Atlas foi o único sobrevivente. No entanto, mesmo criança, ele já possuía uma força descomunal. Chagra passava pelo local e meio que salva a vida do jovem, levando consigo em sua jornada: o objetivo de Chagra é chegar até a Montanha de Cristal e precisa da força de Atlas para tal intento; o “bárbaro”, por seu turno, só quer sua vingança.

Por onde passa, Atlas vai salvando vidas, ajudando os aldeões e colecionando alguns presentes. Nossa história começa numa feira medieval, com Chagra apresentando seu companheiro como o homem mais forte do mundo e desafiando os presentes, em troca de dinheiro. Nisso, uma caravana passa por ali e Atlas fica cara a cara com seu nêmesis, o homem que matou sua família, o maléfico Hyssa. E assim termina essa história, que nunca teve seu fim.

Além de utilizar boa parte da mitologia de Conan, Kirby compõe um cenário atípico: cidades da Antiguidade com uma arquitetura dúbia, ora antiga, ora futurista. Os trajes dos habitantes seguem a mesma linha, misturado com roupas mais simples. Uma oportunidade de ver o Rei numa história que não envolve seres de outros planetas, monstros lovecraftianos e naves espaciais. Ao menos, nesse primeiro número. O que o futuro reservava para Atlas? Jamais saberemos.