O dinamismo de Jon Davis-Hunt

Muito provavelmente, precisaremos começar do começo: quem diabos é Jon Davis-Hunt? O próprio, em seu site oficial, se apresenta como “Video Game Designer and comic book artist”. Talvez o pessoal dos games tenha jogado algo criado pelo artista britânico. Porque nos quadrinhos a coisa é um pouco mais complicada (na real, é curta: ele produziu pouca coisa até o momento; mas desde 2008 está na área). Tem algumas capas, material espalhado na 2000 AD, Transformers entre outros.

No Brasil é mais fácil: só foram publicadas três obras suas. Em duas delas, na extinta revista Juiz Dredd Megazine, publicada pela Mythos, entre 2013 e 2015. Sendo mais específico, na edição #4 (imagem abaixo), apenas a capa é dele. Já na edição #18, ele ilustra uma história do agora badalado Tom Taylor (Homem de Ferro, Terra Dois, Injustiça – Deuses Entre Nós). Não me pergunte muito: essa revista estava fora do meu radar orçamentário e não li nenhuma edição.

A terceira foi publicada aqui em novembro de 2017. Trata-se de Sala Imaculada, publicada pela Vertigo/Panini e com roteiros da Gail Simone. Tenho a impressão que esse encadernado passou batido por muita gente. Eu mesmo o vi na banca e deixei de lado: Vertigo não anda inspirando confiança por esses tempos. Só não ficou totalmente alheio porque falamos (no caso, Vítor falou) sobre ele num Pilha de Gibis (ouça AQUI). Nesse caso, cabe mais uma pergunta: por que falar de um artista que nunca tive contato com sua obra? É agora que a coisa fica boa!

No final de 2016, saiu a notícia de que o escritor Warren Ellis ficou encarregado de reestruturar o Universo Wildstorm, criado por Jim Lee ainda no século passado. Nascido como um estúdio de Lee e posteriormente um selo, comprado pela DC Comics ainda nos anos 1990, o Universo Wildstorm possuía sua própria dinâmica e dele tivemos contato com obras seminais dos quadrinhos na virada do século (vou ficar só em Authority, um dos meus preferidos). Com os Novos 52, todo esse universo passou a fazer parte do Universo DC (UDC) – aqui ganhou até uma revista mensal própria, EDGE, na qual saiam os novos Stormwatch, Bandoleiro e Vodu. Por uma série de razões essa empreitada não foi pra frente e o Universo Wildstorm ficou sumido. É aí que entra Warren Ellis.

Em fevereiro do ano passado chegou The Wild Storm #1 (aguarde um 7 Jagunços sobre o primeiro ano da série). Nunca havia lido nada desse universo. Sei quem é o Bandoleiro (quem não curte seu visual?), os nomes Vodu e Devota não me eram estranhos, assim como os Demonitas e outras personagens cujo nome ouvi falar casualmente. Mas esse desconhecimento nunca foi (ou não deveria ser) motivo para alguém deixar de lado e tinha o nome do Ellis envolvido, então vamos lá! Por que, não? Meu Deus, foi a melhor decisão que tomei em 2017.

Primeiro, porque ninguém faz ficção científica de qualidade, tecnológica, com conceitos tão absurdos e reais, com muito dispositivo eletrônico como o Ellis. O que o cara cria de apetrecho eletrônico massa não é brincadeira! E não é só arma maluca com nome estiloso, não. Me ganhou de cara. Contudo, não estou aqui para falar da série (quer saber mais? Clique AQUI e leia esse belo texto do Reginaldo Yeoman).Foram os desenhos do Jon Davis-Hunt que conquistaram de cara. Não apenas o traço, o estilo, que gostei bastante de cara. A sintonia da dupla criativa é algo absurdo, um daqueles momentos em que texto e arte casam perfeitamente, mostrando porque amamos tanto os quadrinhos. A essência está aqui. Um depende do outro, complementa o outro, casa perfeitamente com o outro. Sabe quando você não consegue imaginar outro artista para um gibi? É o caso aqui.

E isso acontece num roteiro que, além da ficção científica, é bem generoso nas cenas de ação com doses cavalares de violência. Nesse momento, Jon Davis-Hunt mostra a que veio. O cara simplesmente cria quadros e mais quadros com uma narrativa cinética, dinâmica, viva. Cinematográfica. É simplesmente fantástico. São lindas sequências de tirar o fôlego, de coisa que você não anda vendo nem no cinema, nem na TV. Além disso, o cara capricha na violência gráfica, com sangue jorrando nas páginas pra deixar qualquer fã alucinado.

Nesse post não contém nem 10% do potencial da arte de Davis-Hunt. Ao longo das 12 edições, temos sequências e mais sequências de encher os olhos, passagens memoráveis (escute o vindouro 7 Jagunços e ouça o Mauro falando de uma passagem específica, um flashback espetacular). Vamos torcer pra que a Panini lance esse material logo aqui. Mais leitores merecem esse deleite visual.

Eu falei das capas?


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