Esse anual do Batman nos presenteou com duas histórias de quatro grandes artistas. Ao invés de uma aventura de mais ou menos 40 páginas, como é o costume nessas edições, tivemos duas histórias com duas duplas geniais: Alan Moore com George Freeman e Max Allan Collins com o saudoso Norm Breyfogle. Achou pouco? A capa original (essa daí acima) é de ninguém menos que John Byrne.
No Brasil, a Abril Jovem publicou ambas as histórias, mas com uma diferença de oito meses entre elas, na segunda série do Batman. Posteriormente, em 2006, a Panini republicou a primeira em Grandes Clássicos DC #9, aquela só com histórias do Moore.
Esse anual com duas histórias possui um fio condutor: vilões apaixonados. Na primeira, Moore e Freeman nos mostra a sina de um desiludido Cara de Barro à procura de uma antiga namorada que o deixou, Helena. Vagando pelas ruas de Gotham em busca de seu amor, acompanhamos os pensamentos líricos e românticos de um apaixonado Preston Payne, o terceiro Cara de Barro. Acontece que Helena é, na verdade, um manequim de uma grande loja de departamentos e o ponto de virada é quando a levam da seção de “roupas para a noite” para a de lingerie. Um desolado Payne a vê naquela situação, quase seminua, e pensa logo em traição. Helena retorna ao seu antigo posto e, em seguida, num desses infortúnios da vida, um segurança noturno furta um lenço de seu pescoço, um presente para sua esposa (que não podia comprar em razão da situação financeira).
Payne flagra o ato e, a distância, pensa ser o segurança o amante de Helena, imaginando até diálogos entre os dois. Premeditadamente, espera que o “casal” se separe e mata o segurança, o deixando irreconhecível, voltando a sua rotina normal com sua namorada.
É no mínimo fantástica a forma como Alan Moore narra essa paixão fulminante do Cara de Barro com um manequim. De início, um casal apaixonado que janta, com conversas à mesa, que tem até mesmo uma vida social naquele ambiente. Em seguida, após a “traição”, um ciumento e violento Payne, que ao ver sua namorada de lingerie, fica transtornado, a ponto de assassinar o segurança da loja. Além disso, Payne “nota” a mudança por qual o casal passa depois do incidente: ele tentou esconder dela o crime, os jantares são silenciosos e Helena parece cada vez mais distante. Moore domina a mente do vilão, mostrando um relacionamento conturbado entre ele e uma boneca, e o que se passa nas mentes de algumas pessoas em situação semelhante.
O desfecho, com Preston Payne preso no Arkham com sua namorada, não poderia ser menos impactante: a situação levou ao fim do relacionamento e, agora, o divórcio é apenas uma questão de tempo e iniciativa.
Na segunda história, Max Allan Collins e Norm Breyfogle apresentam um Pinguim apaixonado e saindo da condicional. Sua namorada, Dovina, é uma admiradora de pássaros e ambos se conheceram trocando cartas em decorrência do interesse em comum. Nesse caso, Collins abusa um pouco do clichê: a pedido de sua amada, o Pinguim procura se regerar e abrir um negócio honesto, fugindo da prisão. Batman é o único que desconfia de suas reais intenções.
Mesmo no formatinho, a arte Breyfogle termina sendo o destaque da história bem qualquer nota escrita por Collins. O desenhista estava em seu primeiro ano como desenhista do Morcego e elementos que seriam o destaque do seu trabalho já podem ser vistos aqui, como as cenas de luta, com grande movimento e ação, e um bom domínio da narrativa, além do porte físico avantajado do Batman, mais troncudo. É sempre muito bom ler uma história do Batman com sua arte.
Roteiro: Alan Moore e Max Allan Collins
Arte: George Freeman e Norm Breyfogle
Editor: Dennis O'Neil e Len Wein
Capa: John Byrne
Publicação original: Batman Annual #11 (janeiro de 1987)
No Brasil: Batman #6 e #13 (fevereiro e setembro de 1988)
Nota dos editores: 2.0