Unay

3.5

NOTA DO AUTOR

Um gênero que foi retomado com toda a força nos quadrinhos brasileiros é o terror. O país sempre teve tradição com esse tipo de história – a censura foi determinante pra derrocada do gênero. Somente algumas décadas mais tarde que ele foi retomado com força, com a iniciativa de autores independentes e de editoras como a Draco, por exemplo.

Na esteira disso temos o gibi Unay, roteirizado e produzido por Carlos Felipe Figueiras e com desenhos de Daniel Araújo, João Miranda, Erik Judson e Crow Kid. O projeto, uma antologia com 4 histórias, foi financiado através do Catarse. Todas as histórias da antologia tem o terror como pano de fundo. Elas também seguem uma ordem cronológica, apesar de não terem ligação entre si. Começa no século XVI, com a história que dá nome ao gibi, e passa pelos séculos XIX, XX e XXI. Com exceção da última história, todas também tem um quê místico, abordados de diferentes formas.Em “Unay”, Carlos Figueiras se junta a Daniel Araújo e conta um suposto encontro entre incas e uma tribo indígena brasileira. Orgulho e um certo choque de culturas dão o tom da história, em especial na maneira como os incas, mesmo enfraquecidos pela enorme viagem, conseguem se impor à tribo brasileira. Eles ajudam a derrotar os inimigos dos brasileiros e conquistam a confiança deles, mas os incas têm um objetivo oculto naquilo tudo. Os desenhos do Daniel são irregulares; ele alterna traços sujos, com muitas linhas e hachuras com traços mais limpos e simples. Ele usa esse recurso para alternar os pontos de vista dos brasileiros e dos incas.

Na segunda história, “Fuga”, ilustrada por João Miranda, é a mais violenta de todas. Se passa numa senzala em plena época da escravidão no Brasil. Os escravos fazem um ritual para tentar combater os maus tratos que vinham sofrendo. Os desenhos do João traduzem bem o desespero e o terror que Figueiras quis passar nessa história.

“O Ciclo”, desenhada por Erik Judson, é a mais psicológica das histórias. Conta a história de quatro adultos numa viagem de metrô em São Paulo. Mas o metrô vai por uma linha esquisita e começa a acontecer coisas estranhas e o próprio grupo passa a agir de modo estranho. Os desenhos do Judson casam bem com a proposta desse terror psicológico.

A história que fecha o gibi é desenhada pela Crow Kid e conta o dia anterior de quatro núcleos de personagens diferentes de um acontecimento que mudará a história do mundo. Eles não tem qualquer ligação entre si, e essa é a mais mundana das histórias dessa antologia. Foi a que mais gostei dos desenhos também. A arte da brasiliense Crow Kid é limpa e expressiva. Perfeita pra história que se passa nos dias atuais, com um terror que está no subconsciente de milhões de pessoas.

Ao final de cada capitulo, tem um pequeno texto com a biografia dos artistas e Carlos Figueiras conta como foi a ideia de criação daquela história específica. No final, o processo de criação de cada história, com uma página do roteiro, estudos e rascunhos das páginas, com comentários do roteirista de como o processo foi feito.

Num geral, é uma boa antologia de terror. Alguns temas são bem batidos, mas mesmo assim é executado de maneira satisfatória. O destaque da edição é realmente a última história, por ser um tipo de terror que me agrada mais e também pelo traço que é muito bonito. Caso tenha perdido o prazo de apoio no Catarse, você pode entrar em contato com o autor e adquirir seu exemplar.

 

  

Roteiro: Carlos Felipe Figueiras

Arte: Daniel Araújo, João Miranda, Erik Judson e Crow Kid

Editor: Carlos Felipe Figueiras

Capa: PJ Kaiowá

Publicação original: outubro de 2018

No Brasil: 

Nota dos editores:  3.5


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