Homem-Aranha: Peter Parker Especial

As primeiras histórias da revista Peter Parker: The Spectacular Spider-Man foram publicadas na mensal do Homem-Aranha, que foi recentemente zerada pela Panini após o final da longuíssima fase do Dan Slot. Para adiantar o serviço, eles publicaram o final em dois encadernados (a imagem acima é a capa do volume 2. A imagem abaixo é a capa original que serve de base para o volume 1). O roteirista e desenhista Chip Zdarsky encerrou sua passagem na premiada edição 310 (e a revista ainda teve mais uns números publicados com outra equipe criativa). Caso você pesquise no original, verá que a fase dele começa com uma numeração baixa (1-6) e, em seguida, pula para a edição 297, porque a Marvel aproveitou a numeração original, que se aproximava do número 300 (e foi assim até o final). Se você acompanha a Marvel de uns anos para cá, deve ter se acostumada com essas mudanças repentinas de numeração para aproveitar números redondos.

Falando em Marvel, cabe falar da Panini. Ainda que seja louvável publicar esse material em dois encadernados lançados em banca, com capa cartão e um preço convidativo (R$ 18,90 e R$ 23,90 respectivamente), os erros editoriais são vergonhosos, de tão bobos e de fácil resolução. No primeiro volume não há separação das histórias (exceto por uma mensagem no final dizendo que terminou e, na página seguinte, tem informando a edição original no rodapé) e no segundo eles usam uma imagem genérica do Aranha para fazê-lo. Há duas pequenas coisas: nas edições mensais originais, na página em que vem o expediente da revista, temos um diálogo do escritor (com ele mesmo) que dá aquela resumida na história até ali, com muito bom humor – e a Panini suprimiu isso, exceto na primeira edição de cada volume; aproveitou o embalo e suprimiu também o expediente, então você não sabe quem são os artistas (e são vários e não apenas aqueles indicados na capa). Não custava nada, convenhamos. Não vou me alongar mais nisso porque falamos bastante a respeito num 7 Jagunços.

Em resumo, Peter Parker se envolveu com Riri Williams, sua “irmã”, Teresa Parker, reapareceu (fugindo de uma ramificação maligna da S.H.I.E.L.D.), esqueceu de um encontro com o Tocha Humana, conheceu Mason, o irmão do Consertador, enfrentou o Rei do Crime e foi azucrinado por J. Jonah Jameson. O Consertador bolou um plano gigantesco, envolvendo uma raça alienígena que pretende libertar todas as inteligências artificiais da Terra e, de quebra, exterminar a humanidade. Nisso, nosso heróis envolveu-se numa viagem no tempo, encontrou consigo mesmo no passado e, é claro, bagunçou toda a realidade futura. Se você gosta desse tipo de história, vai adorar essas dois encadernados. No entanto, não é só isso.

O Peter Parker do Zdarsky é o herói que você conhece: determinado, altruísta, que fará de tudo para salvar a todo mundo, mesmo que para isso tem que perder a sua vida. O autor mergulha fundo na personalidade do personagem e explora todas suas facetas, sua força e sua fraqueza. Mostra também um lado do Consertador que não conhecíamos, tudo sem soar piegas ou melodramático. Porém, o melhor de tudo é a relação entre Parker e Jameson. Numa edição lindíssima, o agora bloqueiro e ex-editor do Clarim Diário, “obriga” o Homem-Aranha a concedê-lo uma entrevista exclusiva. Com muita relutância, ele topa e ambos ficam cara a cara num apartamento. Talvez seja uma das sequências de diálogos mais francas dos gibis nos últimos anos e culmina em algo que talvez você não queira ou esperava, mas que ficou crível. E foi necessária.

Chip Zdarsky faz sua declaração de amor ao Homem-Aranha e mostra que é como nós: um cara apaixonado pelo personagem. Ao fim de sua passagem, na edição 310 (na qual ele escreve e desenha e que acabou de ganhar o Prêmio Eisner), usa um subterfúgio bem batido (e que também foi utilizado por Dan Slot ao final de sua passagem): um cineasta está fazendo um documentário sobre o impacto do Aranha na vida das pessoas comuns de Nova York e colhe vários depoimentos que é um resumo fiel e sensível do que o herói é e representa. O Tio Ben fez uma grande diferença em sua vida, não adianta – e a Tia May fez um trabalho excelente com esse garoto do Queens.