Quando foi anunciado, em março de 2018, o selo Black Label já nascia grande. Seria o local onde ficariam abrigados todos aqueles títulos clássicos da DC Comics que viviam sendo reimpressos sob a tutela “normal” da editora. Agora eles teriam uma “marca”. Estamos falando aqui de Watchmen, Grandes Astros: Superman, DC: A Nova Fronteira, Reino do Amanhã, Batman: Ano Um, O Cavaleiro das Trevas, A Piada Mortal, Orquídea Negra, entre outros. Material clássico – agora, de luxo – ganhando uma grife própria. Sim, é uma tendência mundial, ainda que as editoras nacionais procurem, quase sempre, extrapolar o conceito.
A DC aproveitou e foi mais além, afirmando que o selo ganharia, também, títulos inéditos e tascou alguns anúncios: Superman: Year One (Frank Miller e John Romita Jr.), Batman: Last Knight on Earth (Scott Snyder e Greg Capullo), Batman: Damned (Brian Azzarello e Lee Bermejo), The Other History of the DC Universe (John Ridley) e por aí vai. Nesse grupo, Miller, Azzarello e Bermejo são os únicos que possuíam trabalhos que entraram no selo. Nada mais justo que chamá-los novamente, na tentativa de criar um clássico imediato . Aí, sim, fomos surpreendidos novamente.
Batman: Damned foi o primeiro a sair e causou mais rebuliço pela nudez frontal de Bruce Wayne do que pela história em si. Superman: Year One chamou atenção pelo desenho de capa de Romita Jr., com um Superman magrelo e anatomicamente problemático. E as histórias? Não sei, essas eu não li. Por outro lado, Batman: Last Knight on Earth eu li as duas primeiras e, meu Deus! As duas primeiras questões que surgiram, para mim, foram: como raios entregam algo desse quilate pro Snyder? Sim, eu sei, ele ainda garante vendas – e não é pela qualidade. Segunda: Snyder não vai largar o osso do Batman? Na real, essa pergunta vale para a DC Comics, não é? De cara, três projetos iniciais envolvem o personagem e mais uns outros orbitam por Gotham City.
Acontece que Last Knight on Earth não é apenas ruim: é ofensiva. Visualmente, é um deleite. Capullo segue em boa forma e entrega um trabalho lindo. Vale a pena ficar folheando as mais de 50 páginas de cada edição dessa minissérie em três partes. E a história? Lembro de pouca coisa, tamanha minha má-vontade a partir da segunda edição. Um mundo pós-apocalíptico, poucos heróis sobreviveram, ninguém sabe o aconteceu, por que aconteceu, o que é real, o que não é, quem sobrou e quem é aliado. Nesse ambiente, acompanhamos Batman para cima e para baixo, carregando a cabeça do Coringa numa garrafa. E o palhaço não para de falar um segundo. Sim, isso mesmo. Um clássico.
Final de setembro, saiu a primeira (novamente em três partes) de Harleen, escrita e desenhada por Stjepan Sejic. Mais uma vez, belos desenhos. Um deleite visual. E a história? Confesso que larguei quase na metade desse primeiro número. Lá vamos nós com mais uma origem da Arlequina, dessa vez num tom mais adulto, pronto e embalado para um capa dura clássico. Sejic apresenta um Coringa galã (sério, um lindão de pele branca e cabelos verdes), não restando muito espaço para uma resistência amorosa. A jovem Harleen Quinzel acabou de se formar, aí tenta arrumar um bom emprego e emplacar sua pesquisa. Advinha onde ela encontra abrigo? Nas Indústrias Wayne, via Lucius Fox. E adivinha onde é sua pesquisa? No Asilo Arkham. Pois é, o resto nós já sabemos (se bem que eu nem terminei a primeira, então vai saber se sabemos mesmo).
Não chega a ser triste, não sejamos tão pessimistas. No entanto, até o momento, vem falhando lindamente a tentativa da DC Comics de criar clássicos em escala industrial. Ao que parece, optar por grandes medalhões não vem funcionando (clássico por encomenda?) e os grandes escritores da atualidade não parecem muito dispostos a usar algumas boas ideias em mais uma história do Batman, da Arlequina ou do Superman. Convenhamos, não é mais tão convidativo quanto foi num passado recente. A oportunidade de manter todo o controle criativo e ser a pessoa por trás de decisões como a venda para outras mídias de um material seu – coisa que a Image oferece melhor – continua sendo mais atrativa. Obviamente, não são todos que emplacam um grande sucesso autoral. Não temos um Brian K. Vaughan em toda esquina (aliás, o que fez Jonathan Hickman voltar a Marvel?).
Olhando de fora, a impressão que passa é que a coisa mais atraente do selo Black Label é a chance de escrever algo (qualquer coisa) com o Batman ou de seu universo. Um novo detalhe na origem, um retcon inútil para chamar atenção, algo “nunca antes feito” (será que existe uma história da Era de Prata em que o Coringa tenha sua cabeça colocada num frasco?), levar o personagem aonde ele nunca foi. Em resumo, vale mais a repercussão do que a própria história. Uma nova era de clássicos para um novo público.
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