X-Tudo Superior #2

Bem-vindos ao mais novo hub de informações, reviews, reminiscências e converseiro inútil sobre tudo que é X e mutante nos quadrinhos, seja você leitor de longa data ou um recém-convertido. Neste nosso segundo encontro, vamos falar sobre a estreia no Brasil da nova fase dos X-Men, comentar sobre as mais recentes edições da franquia lançadas nos EUA essa semana e, aproveitando a comemoração do Dia dos Pais, falar umas verdades bem duras sobre os papais mais irresponsáveis dos quadrinhos… Sim, eles mesmos, os X-Men!

NO BRASIL

Como falamos em nossa conversa anterior, na estreia da coluna, a Panini acabou de lançar a nova mensal X-Men, para publicar Dinastia X e Potências de X, dando início à aguardada fase de Jonathan Hickman aqui no Brasil. Fomos pacientes e demos tempo pra você comprar a revista, portanto, não tem desculpa pra reclamar de spoilers.

OK, TÁ BOM, OLHAÍ: AVISO, AQUI TEM SPOILER PESADO! Pronto, leia por sua conta e risco.

Logo na primeira história de Dinastia X, a sensação pro leitor é de não saber mesmo o que está acontecendo. Não é que a narrativa seja confusa ou fique mal explicado o que está acontecendo. Tudo está bem claro, os mutantes mais uma vez estão se agrupando, estabelecendo uma comunidade, exigindo para si o respeito que merecem, inclusive como um povo, uma nação. Isso é compreensível ao longo da narrativa. Mas o que raios está acontecendo com os mutantes, melhor dizendo, com o Professor Xavier e seus X-Men?

Já na sequência de abertura, vemos o professor X agindo de uma forma que deixou muito leitor perguntando a si mesmo “Mas é o Xavier mesmo…?”, além de estar em um cenário bizarro, testemunhando um fato mais bizarro ainda, com casulos se rompendo e pessoas saindo deles, engatinhando sobre fluidos viscosos e… bom, É algo bizarro, mesmo pros X-Men. Diria até mesmo… SINISTRO, entendam como quiserem.

E aí, somos apresentados à parceria mais óbvia e ao mesmo tempo inesperada de todos os tempos, na mitologia X. A (suposta) ilha mutante Krakoa, originalmente inimiga e predadora de mutantes, tornando-se aliada, moradia, pátria e, principalmente, mantenedora de uma nova nação exclusiva para os homo superior.

Quem lê X-Men há um certo tempo lembra que ilhas e mutantes estão interligados desde que a própria Krakoa proporcionou o incidente que levou Xavier a formar a segunda e mais popular equipe X, nos idos de 1974, depois com a introdução retroativa da ilha de Genosha, onde os portadores do gene X eram escravos, mas que passou a ser (por pouco tempo) um país governado por Magneto até o genocídio de mais de 16 milhões de mutantes conduzido por Cassandra Nova, uma entidade que se diz irmã de Charles Xavier. E, em um período mais recente, os X-Men “criaram” um ilha-refúgio ao lado da cidade de São Francisco, batizada de Utopia, onde tentaram estabelecer uma nação mutante sem muito sucesso.

Portanto, Hickman está se mantendo coerente com a história dos X-Men, enquanto eleva o tom da coisa toda. E o tom, agora, é sério. Aí já temos mais um ponto divergente do que sempre vimos da equipe e dos ideais de Charles. Ao invés de ilusões românticas de convivência, heroísmo ou isolamento, os mutantes agora seguem uma linha pragmática. Política, economia, saúde, jogos de poder. Esqueça os discursos de utópicos de coexistência pacífica pela união e esperança. Agora, o professor Xavier, seus alunos e seus aliados, resolveram falar de negócios. Os mutantes querem comprar a paz.

Usando os recursos de Krakoa, além do resultado da soma de inúmeras mentes mutantes privilegiadas (e seus poderes, claro), foram desenvolvidas e ofertados certos produtos farmacológicos únicos, derivados da vegetação (mutante?) da ilha, capazes de verdadeiros milagres para os homo superior e, seus novos “clientes”, a humanidade.

Cura de doenças mentais, um antibiótico universal e um medicamento que aumenta a expectativa de vida de um homo sapiens em 5 anos. Tudo isso a partir de flores de Krakoa, cujas propriedades foram sintetizadas e acondicionadas em pílulas. Oferecidas às nações humanas em troca de salvo-conduto e liberdade para os mutantes dos países que aceitarem o acordo, deixando-os livres para seguir pra Krakoa. Ah, sim, essas nações também precisam reconhecer a nova ilha-nação mutante como país soberano. Bom negócio, hein?

Claro, se isso não criasse conflitos e não atiçasse os inimigos dos mutunas, não teríamos as histórias que a franquia pede. E tome atrito com governos, sentimentos antimutantes acionando milícias absurdamente armadas, até mesmo super-heróis coçando a cabeça e dizendo “Olha, vai dar merda…”, principalmente com o OUTRO probleminha logo ali na esquina. Uma anistia ampla e total aos mutantes “malignos”, os que sempre cometeram crimes, inimigos dos próprios X-Men. Pronto, tá montado o palco pra bagaceira rolar.

E aí você se pergunta, “Mas, afinal, como tudo isso aconteceu? E por que é que eles nunca tinham pensado nisso?” A resposta vem na segunda história dessa edição da Panini, com o primeiro capítulo de Potências de X. E aí o caldo engrossa.

Hickman foi muito mais ambicioso (e ousado mesmo) nesse segundo capítulo. Não apenas porque se propôs a contar quatro histórias em quatro períodos de tempo diferentes, com o jovem Xavier na época em que idealizou seu sonho de coexistência pacífica, depois com o Xavier chefe-de-estado de Krakoa, além de mostrar o destino dos mutantes em dois futuros, um onde a guerra foi praticamente perdida pelos homo sapiens e outro onde os moradores do planeta Terra vêem os poucos mutantes ainda vivos como uns bichinhos interessantes que sobraram da raça inteira. O que realmente foi ousado da parte do Hickman foi voltar pras raízes dos X-Men.

Ele inventou de mexer com quem tava quieta, na sua, uma das coadjuvantes tradicionais dos X-Men, a Dra. Moira McTaggart. Você acha que conhecia a finada doutora? Pois espere pra ver o que foi feito dela…

NOS EUA

Giant-Size X-Men: Fantomex

Quem leu a boa e curta fase escrita por Charles Soule em 2017 na mensal Astonishing X-Men, viu o retorno do Professor X e o adeus de Fantomex, o que criou uma subtrama obviamente promissora no universo mutante. Xavier estava morto desde o final de Vingadores versus X-Men, quando Scott Summers usou a Força Fênix pra matar o careca. Soule trouxe a essência do professor (que estava no plano psíquico, refém do Rei das Sombras) e colocou no corpo de Fantomex, que por sua vez ficou dando um tempo no lugar deixado por Xavier. Claro que a expectativa era de que em algum momento Fantomex voltasse, Xavier tivesse de arrumar outro corpo, etc.

Ta vendo esse resumo acima? Pois bem, é o único lugar onde você verá menção a isso, pois no gibi que saiu recentemente, estrelado por Fantomex, tem nem menção da trama. O que é frustrante. Com o Professor X protagonizando essa fase atual criada por Jonathan Hickman, todo mundo que acompanha regularmente os mutantes ficou se perguntando quando abordariam o rolo Xavier/Fantomex. E com o anúncio dessa edição dedicada ao personagem criado por Grant Morrison, bem, não fazia sentido acreditar que teria outra coisa na história.

Mas tudo não passou de uma edição sobre a origem revisada e ampliada do Fantomex, de um clone dele que tomou o controle do ambiente artificial onde nasceram, chamado de O Mundo, pra no final servir como a segunda parte de outro gibi, Giant-Size Jean Grey/Emma Frost, no qual Tempestade foi alvo de uma armadilha aparentemente mortal. Agora Ororo precisa de ajuda e calhou de ser o Fantomex o mais indicado pra ajudar. “Continue in Giant-Sized X-Men: Storm”, pra decepção de quem queria ao menos uma página dizendo “E AÍ XAVIER CONSEGUIU OUTRO CORPO, FANTOMEX VOLTOU PRA TERRA E SÓ”, afinal, custava nada fazer isso, Hickman? Tsc.

Empyre: X-Men #1 & #2

Tem um evento rolando agora nos EUA, protagonizado pelo Quarteto Fantástico, os Vingadores, as raças Kree, Skull e Cotati, na tradição de grandes sagas espaciais da Marvel. Bem legal, divertido e cheio de tie-ins como deve ser. Aí inventaram de jogar os X-Men no balaio, o que fez sentido e rendeu boas ideias.

Na primeira edição, usaram bem tudo que a saga permite, sem deixar de fora a conveniente situação atual dos mutantes, hospedados em uma ilha senciente cuja vegetação serve de um tudo. Caso você não lembre ou não saiba, a raça alienígena Cotati é composta de vegetais humanoides. Entendeu agora, né? Pois Jonathan Hickman fez uma história de estreia muito boa, com todos os elementos bem equilibrados, afinados e com um bônus, se divertindo pra caramba no processo.

Até conseguiu usar dois pontos que estavam encostados desde que começou a comandar a franquia mutante: o papel da Feiticeira Escarlate no universo Marvel e na história recente dos homo superior, e Genosha, a antiga nação mutante que foi devastada por sentinelas na fase Morrison. Tem ação, tem humor, tem boas sacadas, ou seja, gibizaço. Aí veio a última página, um certo grupo de IDOSAS CIENTISTAS FISSURADAS POR VEGETAIS E…

Bom, conheço pelo menos uns 3 leitores brasileiros que ficaram bufando de raiva com essa última parte aí da primeira edição. Mas vamos logo pra segunda. A qualidade cai um pouco, tem muito humor, tem ação, mas não tem o mesmo ritmo e cadência da primeira edição. Tem momento que parece uma enrolação. É legal, ainda, só que não tanto. Enfim. Esperemos a conclusão.

ARQUIVOS DA MANSÃO X

O Dia dos Pais acabou de passar, então, esse texto chega atrasado, o que de certa forma é adequado pra o que vamos abordar. Atrasos, desencontro, ausência… Enfim, pais relapsos. Portanto, vamos falar a verdade: por mais que gostemos dos heróis ou anti-heróis mutantes da Marvel, temos que admitir… Eles tem os piores pais dos gibis de super-heróis.

Começando pelo fundador dos X-Men. O professor Charles Xavier, que mesmo sendo conhecido como o telepata mais poderoso da Terra, nunca foi capaz de cuidar, educar ou mesmo tratar corretamente os problemas mentais de seu filho, David Haller, codinome Legião, também telepata, mas acometido de um grave transtorno de personalidade. David já causou toda sorte de problema por causa de sua condição, desde deflagrar o evento conhecido como “Era do Apocalipse”, até mais recentemente servir de peão ao mutante Nate Grey, que já foi conhecido como X-Man, vindo justamente da realidade “criada” por Legião na tal “Era do Apocalipse”. O rapaz é uma bomba-relógio e cadê o papai X pra assumir a responsa?

E já que falamos de Nate Grey, temos muito material pra explorar no quesito problemas parentais envolvendo esse sujeito, com todos os seus “parentes”. Mas bora do começo mesmo. Quando um piloto chamado Christopher Summers foi abduzido por alienígenas, teve início um ciclo bizarro de sofrimento envolvendo pais e filhos. Seus dois filhos menores escaparam caindo de para-quedas nos EUA, mas ele foi levado para o Império Shiar, onde viu sua esposa ser assassinada, depois fugiu e se tornou um fora-da-lei espacial, se juntando à um bando de rebeldes, aqui no Brasil chamados de Piratas Siderais. OK, não podemos dizer que era só voltar pra Terra e procurar os filhos, o cara tava lá na baixa-da-égua, mas que ele acabou ficando mais empolgado com a vida de aventuras espaciais, ah, isso ficou. E os meninos se lascaram demais por isso. Acabaram em um orfanato, onde sofreram muito, foram separados, depois cada um descobriu ser mutante; foram inclusive manipulados por um tempo pelo geneticista amoral que seria inimigo dos X-Men um dia, o sinistro Nathaniel Essex, que por acaso atende pela alcunha de Senhor Sinistro.

Scott Summers, o mais velho, tornou-se um dos alunos de Charles Xavier e esse papo todos já sabem. Alex Summers também se uniria ao grupo, mas de forma mais errática. Eis que Scott se apaixonaria por uma colega mutante, Jean Grey, que eventualmente seria dada como morta, deixando o coitado na saudade, até que ele conheceu uma sósia, Madelyne Pryor, com quem se casaria e teria um filho. E é nesse ponto que todo esse nosso blá-blá-blá faz sentido. Quando o pequeno Nathan Christopher Charles Summers tinha poucos meses de nascido, a supostamente finada Jean Grey retornou. Ela não havia morrido, mas esse é um rolo que nem devemos mexer agora. Basta dizer que Scott ABANDONOU Madelyne e o bebê, ficou ao lado de Jean e logo depois a esposa e o filho de Scott desapareceriam após atacantes anônimos quase matarem os dois. Ela foi parar em um hospital, o bebê foi sequestrado.

Tudo isso teria a ver com as maquinações do “pai” de Madelyne, o Senhor Sinistro. Pois é, o infeliz tinha planos de juntar o material genético de Scott e Jean, para criar um mutante omega sob seu controle, mas a suposta morta de Jean fez com que ele usasse uma clone da ruiva para chegar junto em Scott, o que deu certo de alguma forma já que os dois casaram e tiveram o bebê (e sim, a mãe inconscientemente deu o nome do Sinistro ao filho. o sujeito se chamava Nathaniel Essex, lembra? Enfim…), o que rendeu o fruto esperado, bastava somente ir lá e colher. O que criou uma bela confusão. Só que o fato importante aqui é, Scott, de certa forma um filho abandonado pelo pai, acabou fazendo pior com seu próprio filho. Christopher não teve muita escolha, embora tenha se reencontrado e deixado Scott já na fase adulta, quando os X-Men se envolveram em questões dos Shiars. Mas Scott literalmente abandonou o bebê Nathan, por uma ex-namorada!

E isso teria um desfecho pior, algum tempo depois. Madelyne acabou morrendo em outro conflito, o bebê ficou aos cuidados de Scott e Jean, pra logo ser alvo de um ataque de Apocalipse, que o contaminou com uma variante do vírus tecno-orgânico da raça alien Tecnarca. Scott optou por mandar a criança para o futuro, aos cuidados de desconhecidos, na esperança de salvá-lo. Não abandonou, exatamente, mas condenou o garoto a outros sofrimentos. Algum tempo depois, a Marvel decidiu que o bebê seria na verdade o anti-herói Cable, que passou a conviver com os X-Men já em sua fase madura, la pelos seus 50 anos, vindo do futuro. Um rolo, uma barafunda, um dos nós que dão razão ao chororô de leitores chateados com a cronologia mutante.

Curiosamente, o criador de Nathan C. C. Summers, um certo roteirista chamado Chris Claremont, sempre defendeu que o bebê e Cable NÃO seriam o mesmo personagem, tanto é que na série X-Men Forever, de 2009, situada em uma linha de tempo paralela, o garoto teria voltado aos cuidados de Scott, curado do vírus tecno-orgânico, inclusive aparecendo lado a lado com Cable. Mas, no universo 616, a versão que vale é a de que Ciclope é o pai de Cable. O próprio Cable também teve sua cota de culpa paterna, quando viu seu filho acabar como inimigo, ao ser dominado pelo vilão Conflyto e não ter alternativa além de meter bala no rapaz. Papai Cable é bruto, digaí? Mas esse é outro imbróglio daqueles, bora deixar quieto ou vamos escrever sobre isso até o Dia dos Pais de 2021.

Pra concluir esse fuxico e encerrar o Casos de Família Mutante, dois personagens que são gente boa, gostamos deles, mas são dois irresponsáveis quando a conversa é filho.

Colossus, o russo Piotr Nikolayevich Rasputin, bom moço, tímido e na dele, tem lá sua presepada escondida nas florestas da Terra Selvagem. Durante a fase Claremont/John Byrne, o personagem passou uns dias entre os nativos da região onde dinossauros e outros seres pre históricos convivem. E se sentindo livre das amarras da civilização, teve uns momentos mais íntimos com uma moça chamada Nereel. Depois pegou a estrada e nunca mais apareceu pra saber como estavam as coisas. Somente em uma história dos anos 1990, no anual de Uncanny X-Men que fez parte da saga “A Guerra do Alto-Evolucionário”, foi que ficamos sabendo do desfecho do namorico de Colossus e Nereel. Ela engravidou do russo e deu à luz um garoto, ao qual batizou de Peter. Pois mesmo diante de tudo isso, o Piotr se fez de besta, papeou, enrolou e nem mesmo perguntou “olha, mas quem é mesmo o pai desse garoto, minha consagrada?”, apenas deu adeus e pegou de novo a estrada.

E parece que a Terra Selvagem é propícia pra irresponsabilidade mutante. Wolverine aprontou das suas por lá. Em uma história escrita por Walt Simonson e desenhada por Mike Mignola, o nanico canadense conheceu e se envolveu com uma, na falta de termo melhor, mulher das cavernas chamada Gahck, que se apaixonou por ele. Ao final da história, a moça é mostrada com um pimpolho nos braços, dando a entender que era filho de Logan. Só por ser a Terra Selvagem, o sujeito achou que não precisava usar preservativo? Mau exemplo é esse, seu Logan?

Bom, tem também outro filho dele, esse deu muito problema e, talvez por ter sido criado pelo péssimo roteirista Daniel Way, nem empolgue muito um parágrafo extenso. Basta dizer que eles superaram os problemas e o rapaz agora esteja aparecendo na promissora mensal nova do X-Factor.

De toda forma, ainda tem muitos outros pais mutantes que não merecem presente no Dia dos Pais. Tem até uma suspeita de que Magneto seja pai de Zala Dane, uma vilã do terceiro escalão que vivia lá pela Terra Selvagem e tentou roubar os poderes de uma filha do sujeito, a Polaris, cujo nome é Lorna… DANE. Mas essa trama nunca foi explorada e talvez jamais seja. Por enquanto fica só nisso mesmo, um boato, um fuxico, um caso de “ei, será que ELE é o pai DELA?”, na história dos mutantes da Marvel.


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