X-Tudo Superior #1

Odiados e temidos pelos leitores chorões que não aguentam uma cronologiazinha, os X-Men e suas X-tensões ganham uma coluna X-Clusiva no Arte-Final onde, além de esgotar trocadilhos com “ÉQUIS”, entoar louvores a Chris Claremont e defender que Ororo Munroe é A maior super-heroína da Marvel, vamos falar sobre as melhores histórias, os piores momentos e, é claro, acompanhar o que raios está sendo feito atualmente por Jonathan Hickman e seus pariceiros com nossos mutantes favoritos.

Faça seu check-up com a enfermeira Friedlander, suba a bordo do Pássaro Negro SR-77, ignore o fedor de charuto e venha conosco falar sobre tudo que envolve os fabulosos X-Men!

NO BRASIL

Sim, também foi por isso que resolvemos criar essa coluna. Na verdade, foi mais por isso mesmo, afinal, com o lançamento da nova mensal X-Men, pela Panini, sabemos que muita gente vai estar cavucando online tudo que puder sobre os mutantes, seguindo #XMen sem hífen mesmo e por aí vai. Então, bora começar por aqui, até pra não jogar pá de spoiler na cara dos incautos. Lá pro final da coluna é que vamos falar sobre o que está acontecendo com a franquia X nos EUA.

Esgotada em muitas megastores, chegando aos poucos nas bancas do Brasil por conta da maldita pandemia, X-Men #1 dá a primeira salva de tiros nessa nova fase mutante. Se você já acompanha e sabe de tudo, tenha um tiquinho de paciência, vamos palestrar um pouco com quem não compra importado, nem digital, nem tropeça em versões clandestinas desaprovadas pela moral e os bons costumes. Sim, agora estamos falando com você, leitor que compra a versão impressa, sob as graças da Panini.

Aqui, em uma só revista, temos o que nos EUA foram duas minisséries paralelas e interconectadas, chamadas House of X e Powers of X. Esses títulos estarão presentes nos créditos, claro, traduzidos e adaptados como Dinastia X e Potências de X (não há vergonha nenhuma em admitir que você se passou nessa última, achando que seria Poderes de ÉQUIS, tá certo? Besteira, mas o autor queria mesmo era falar sobre as potências de 10, fazendo um trocadilho com X sendo algarismo romano), nos quais vemos tudo que já ocorreu na história e nas histórias dos mutantes da Marvel sendo respeitado e desrespeitado ao mesmo tempo. No bom sentido, que fique claro.

Sim, continua sendo complicado, mas isso nem é ruim, nem atrapalha nada. Se você conhece tudo de X-Men, vai se sentir afagado e insultado ao mesmo tempo. Se conhece mais ou menos, vai curtir o novo cenário mundial criado pela mais recente tentativa de salvar a raça mutante, feita pelo professor Charles Xavier. E, se não conhece nada, encare como sendo uma história de ficção científica carregada no drama, problemas sociais e com boas doses de aventura.

Jonathan Hickman, roteirista que ficou famoso pela ambição, tom épico, planejamento a longo prazo e uma obsessão medonha por gráficos em suas histórias na Marvel (veja Guerreiros Secretos, Quarteto Fantástico, Vingadores e S.H.I.E.L.D. pra entender do que estamos falando) começou MUITO bem. E olha que o sujeito regurgitou temas/tramas na cara dura, mas também soube simplesmente resgatar o que é essencial aos X-Men. Tudo isso enquanto usou um elemento totalmente inesperado, inédito e absurdamente ultrajante para os leitores de longa data. Pegou uma personagem humana totalmente secundária, decidiu que ela seria muito mais do que sempre foi, daí aloprou de um jeito tão aloprado que ninguém teve forças pra rejeitar ou se opor à ideia.

Basta você saber que, a partir dessa tal ideia maluca, ele conseguiu desfazer e refazer o mundo dos X-Men, criando o tal cenário perfeito pra história que queria contar. E cumpriu o prometido. Interrompeu uma longa era de poucos altos e muitos baixos, afinal, quando foi a última vez em que vimos uma fase sólida, cativante e promissora na franquia X?

Ok, depois de todo esse blá-blá-blá, resta esperar até a próxima semana, pra dar tempo da revista chegar até uma parcela significativa dos leitores, pra podermos spoilear com força sobre as duas histórias dessa primeira edição paninesca.

Compre sem medo, a cronologia X é sua amiga. Heh.

NOS EUA

Ei, você! É, você mesmo, que acompanha tudo que sai nos EUA já na quarta-feira. Voltaí, já terminamos de falar sobre o gibi brazuca. Deixe de aperreio. Viu as edições de 29 de julho? Altos e baixos, hein?

X-Men #10

Gabriel Summers, o Vulcan, tem seu momentozinho de destaque e foi um traquezinho, não a explosão que se esperava, veja só como caem os poderosos. O cara já foi a maior revelação mutante de uns 12 anos atrás, foi co-criado e desenvolvido pelo aclamado Ed Brubaker, tomou o trono do império intergaláctico Shiar sozinho e com as próprias mãos, protagonizou a “Guerra dos Reis”, sumiu e se tornou um daqueles vilões que todos esperavam retornar em grande estilo pra tocar o terror novamente. Aí reapareceu na fase “Dawn of X” totalmente sequelado, abobalhado, quase um alívio cômico. Todos imaginavam que ele estava sob alguma influência psíquica.

Eis que a verdade foi parcialmente revelada e a história não ajudou em nada. Era o que se previa, não teve nada de muito interessante, olha, foi chatinho mesmo. Uma pena. Hickman pode até surpreender lá pra frente, mas essa subtrama aí tá tudo, menos empolgante.

Cable #2

Gerry Duggan tá bem melhor em Marauders. Com o (agora) adolescente Nathan Summers, parece estar com o freio-de-mão puxado, além de dar a impressão de estar escrevendo menos. Você sabe como é, quando o escritor coloca em três páginas o que poderia contar em apenas uma. Você começa a ler e de repente o gibi acabou. E olha que tem várias subtramas correndo em paralelo. O Cable cheio das namoradinhas, a “mãe” de uma(s) delas indo pedir providências ao pai dele, sequestro de bebê mutante, a tal espada especial e espacial ligado aos Cavaleiros do Espaço do planeta Galador (que só pode ter a ver com o vindouro crossover X of Swords), tudo isso poderia parecer muito para apenas uma edição, mas é tudo tão superficial na maior parte do tempo que nem dá muito interesse genuíno no leitor.

A arte do Phil Noto é competente na maior parte do tempo e muito boa apenas em algumas cenas, a exemplo do encontro de Emma e Scott. Ah, sim, pra você ver como a coisa ainda tá realmente precisando melhorar… Já ia esquecendo de mencionar o que talvez seja a subtrama potencialmente mais importante, a aparição de um Cable mais velho e brutal, em um outro período de tempo. Tudo aponta pra uma rota de colisão. Mas bem que podia ser melhor narrado…

X-Factor #1

Com essa estreia, um padrão está se formando. Alguns dos gibis com menos expectativas nesse Dawn of X, estão se mostrando os melhores e mais bem desenvolvidos. Foi assim com Marauders de Gerry Duggan, Hellions de Zeb Wells, até mesmo com as histórias de New Mutants feitas por Ed Brisson e agora vemos a roteirista Leah Williams contar uma história competente e fazendo mais do que isso, explorando melhor o novo status quo dos mutantes melhor do que seu próprio arquiteto, Jonathan Hickman.

Do começo ao fim, o ritmo é ágil, cadenciado, indo das caracterizações às interações com uma habilidade admirável, mantendo sempre o tema principal em evidência (mutantes que investigam supostas mortes mutantes), dando palco também pra outros setores de Krakoa (os Cinco foram tão bem apresentados que podiam ser parte do elenco fixo dessa mensal), até mesmo abordando obviedades que todos estavam ignorando, a exemplo da parceria entre Lorna e… Krakoa! Tudo isso e ainda teve um cuidado caprichado na utilização dos poderes dos integrantes do novo X-Factor. Por fim, talvez a maior promessa esteja na indagação que Lorna faz a Magneto sobre a imagem que o pai faz de sua personalidade. Se a personagem questionou isso, é sinal de que a roteirista fez a mesma questão ao se preparar para escrever a série – e isso É um ótimo sinal…

ARQUIVOS DA MANSÃO X

Em agosto de 1990, uma das mais belas e tristes histórias dos X-Men concluiu um pequeno crossover envolvendo três equipes mutantes e o Quarteto Fantástico. Em Uncanny X-Men Annual #14, a quarta e última parte da saga “Days of Future Present” encerrou de forma melancólica diversas sub tramas importantes para a mitologia X ao longo dos 10 anos que a antecederam.

Embora essa edição tenha literalmente dezenas de heróis, é justo dizer que a protagonista de fato e de direito é Rachel Summers. Toda a história da personagem, envolvendo a linha temporal na qual os mutantes terminam sendo exterminados por sentinelas em um futuro próximo (criada por Chris Claremont e John Byrne no arco em duas partes “Days of Future Past” na mensal Uncanny X-Men) convergiu para esse desfecho ao mesmo tempo cataclísmico e intimista.

Tem batalhas cheias de pirotecnias, reviravoltas, viagens no tempo, forças cósmicas em ação… Mas o ponto que mais impactou os leitores foi o aspecto emocional desse pequeno conto sobre desesperança, amores perdidos e solidão.

Com roteiro de Chris Claremont e desenhos de Arthur Adams, essa edição mostrou a despedida final de uma versão adulta de Franklin Richards, filho de Reed e Susan do Quarteto Fantástico e o (à época) tão aguardado primeiro encontro de Rachel e Jean Grey. Sim, também tivemos momentos menores, mas importantes para o período, como o retorno de Tempestade aos X-Men e o primeiro contato de Gambit com o que havia da equipe em atividade (Forge e Banshee, pra ser mais preciso, únicos a manter o legado enquanto os demais estavam desaparecidos) e até mesmo uma suspeita que seria descartada ou esquecida, de que Ahab e Cable pudessem ter um vínculo inesperado, mas os momentos em que Rachel aparece e interage com Franklin, com seu irmão Nathan, (ainda um bebê), com Scott e Jean, além de confrontar o vilão Ahab, são os verdadeiros destaques.

Os leitores conheciam sua história. Uma sobrevivente e refugiada vinda do futuro, uma órfã que encontrou um pouco de esperança com os X-Men, para logo ser arremessada em outro sofrimento terrível durante um conflito envolvendo a mutante-parasita Selene e quase ser morta por Wolverine, acabou sequestrada por Espiral e Mojo, para só depois ter um período de relativa paz com o grupo Excalibur. Mas esses mesmo leitores sempre aguardavam pelo desfecho prometido, o encontro com seus pais, que nem mesmo sabiam que tinham uma filha.

Infelizmente, mas coerente com a triste sina da personagem, todos os encontros ou reencontros terminaram de forma trágica ou lamentável. Franklin revelou ser apenas um “fantasma” psíquico, o último grito de um dos mutantes mais poderosos da Marvel pouco antes de ser morto por sentinelas no futuro, existindo apenas para alcançar mais uma vez os tempos em que foi feliz como criança e reencontrar seu grande amor uma última vez antes de se desfazer.

Scott não soube como lidar com a presença da filha recém-descoberta, além de ficar chocado com o fato de que ela havia sido usada por Ahab como uma caçadora de mutantes. Jean reagiu da pior forma possível, ao saber que Rachel representava um futuro onde os mutantes seriam erradicados. Pior ainda, quando as duas se encontraram, a moça tinha assumido o nome e os poderes da entidade que lhe assombrava, a Fênix.

Por fim, Rachel foge desconsolada, enquanto todos ficam sem palavras para lhe confortar.

Claro, tudo isso seria superado ou mesmo se tornado sem muita importância para outros roteiristas e para as gerações posteriores de fãs dos mutantes. Mas para todos que acompanharam o drama de Rachel Summers desde a sua estreia em Uncanny X-Men #141 até a conclusão da sua jornada nove anos depois em Uncanny X-Men Annual #14, ficou a lembrança de uma das mais tristes e envolventes histórias da mitologia X.


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