Terceira edição da mais nova e pretensiosa coluna sobre os mutantes da Marvel começando, então vamos lá sem muitas delongas. Hoje a conversa é sobre os artistas da nova fase no Brasil, os reviews de praxe das revistas nos EUA e uma inevitável passadinha por algum canto obscuro da história X. Então, sai da frente ou se abaixa que tem arremesso especial chegando!
NO BRASIL
Com a estreia dessa nova revista mensal dos X-Men pela Panini, é preciso destacar um aspecto que sempre foi parte do sucesso dos mutantes desde seus primórdios e que volta com força total nessa fase Hickamn: a arte inspirada. Nesse caso, as artes, já que temos dois desenhistas em cada mini original.
Em Dinastia X, o espanhol Pepe Larraz conseguiu superar a si mesmo. O sujeito já havia provado ser um desenhista competente e promissor ao longo dos últimos 10 anos, nas mais variadas revistas da Marvel. Ele sempre teve um estilo limpo, carregado de movimento, sempre evoluindo e melhorando a cada novo trabalho, mas agora com a nova fase mutante, foi além. A primeira história com certeza teria sido um desafio para qualquer artista. O roteiro de Hickman vai dos momentos puramente emocionais, focando nas reações dos personagens e suas interações, passando pela variedade de cenários e ambientações as mais distintas como a tecnovegetação de Krakoa, a opressiva e sinistra estação orbitando o sol, até as inevitáveis sequências de ação esperadas em um gibi X.
Larraz entregou o que se esperava, mas foi além. Realmente fez os pequenos momentos se tornarem marcantes, seja com a sutileza nas expressões faciais de Magneto, seja imprimindo textura e profundidade em cenas como a bizarra eclosão das primeiras páginas, com a desconcertante tranquilidade de Charles Xavier em meio aos corpos “recém-nascidos” aos seu redor, mas foi na grandiosidade e tom épico de toda a edição que o artista brilhou sem dúvida alguma.
É possível ver as influências de Alan Davis, Olivier Coipel, Carlos Pacheco e, obviamente, de Stuart Immonen, no traço de Pepe. Só que não se trata de imitar, pura e simplesmente. É uma mescla honesta de inspiração e criatividade própria, criando um gibi limpo, claro, coerente e extremamente digno de uma estreia desse porte. O que apenas aumenta a responsabilidade do parceiro de Larraz, o brasileiro Rubens Bernardino da Silva, que atende pelo nome de guerra quadrinístico RB Silva.
Em Potências de X, Silva também não esconde sua admiração pelo traço de Stuart Immonen, embora lembre em alguns momentos um pouco do estilo de Terry Dodson. Felizmente, assim como o artista de Dinastia X, não temos um imitador, mas um desenhista completamente capaz de ir das cenas intimistas, como no diálogo entre as versões jovens de Charles Xavier e Moira MacTaggert, aos cenários futuristas e de tecnologia quase alienígena onde acompanhamos duas versões da inteligência artificial Nimrod, com a mesma segurança e competência. As cenas de combate entre sentinelas futuristas e os misteriosos personagens com aparências de mutantes amalgamados, assim como o interrogatório conduzido por Nimrod são os destaques, pela fluidez e impacto emocional da narrativa, além claro, do capricho nos designs e na tecnologia.
E já que falamos tanto do ex-desenhista de Novíssimos X-Men de Brian Bendis, vale um pequeno fuxico envolvendo o nome de Stuart Immonen e de outro artista profissional dos quadrinhos. O senhor Jamal Igle, que desenhou uma fase simpática da Supergirl na DC Comics, há uns 10, 11 anos, fez uma crítica bem ácida (e precipitada), sobre as artes de Pepe Larraz e RB Silva, em meados de 2019, diante dos previews de Dinastia X e Potências de X. Em seu perfil no Twitter, classificou como uma condenável imposição por parte dos editores da Marvel o fato de que os dois novos artistas da franquia X, nessas duas minisséries, seguiam o estilo de Immonen. Disse abertamente que, para serem aceitos nessas séries, os artistas teriam de imitá-lo.
Bom, teria sido melhor aguardar ao menos as estreias das duas séries. Os caras não imitaram, na melhor das hipóteses, homenagearam Stuart. O que foi bom para os leitores, melhor ainda para os personagens e, infinitamente melhor para Pepe Larraz e RB Silva. O Jamal Igle, alguém me ajude aí se puder, tá fazendo o que mesmo na indústria esses dias…?
NOS EUA
Wolverine #3 e #4
Benjamin Percy consegue ser um pouquinho melhor na nova mensal do Logan, do que na outra mensal mutante que escreve, a X-Force. Pelo menos aqui não tem as papagaiadas cometidas por lá. Só que isso não faz dessa série do canadense com ossos de adamantium um primor, que fique claro. Ele apenas tenta emular o que deve ter lido ao longo dos anos em outros volumes de Wolverine, sem muito brilho criativo. Tem dolorosos jogos mentais de praxe, Logan ferindo quem mais ama, caindo em esparrelas das formas mais idiotas, mas com um desnecessário e mal desenvolvido esforço pra fazer dele escrotãozão. Mas, sei lá, deve ter quem ache massaveio HUEHUEBRBR o Logan fazer do capacete de Magneto um penico. Nossa, como ele é mauzão. Tsc.
Marauders #11
A resolução para a subtrama envolvendo Kate Pryde infelizmente se mostrou uma decepção, em uma série que vinha sendo a melhor da Dinastia X. Foi tudo tão simplório e preguiçoso que teria sido melhor esticar mais, explorar um tantinho mais as reações dos colegas da capitã do navio Marauder ao que ela sofreu, pra dar tempo de bolar uma conclusão mais impactante e satisfatória. Foi tudo tão “EITA POXA, PERA, ERA SÓ FAZER ISSO AQUI Ó, PRONTO, RESOLVIDO” que no mesmo instante que você lê, parece que nem aconteceu nada nas últimas edições, aliás, nem mesmo faz muita diferença o que acabamos de ler nas 15 ou 16 páginas dessa mesma edição. De toda forma, Gerry Duggan tem crédito e pode fazer da retaliação de Emma Frost e companhia contra o atacante de Pryde uma bela sequência de histórias. Veremos.
Empyre: X-Men #3
No terceiro capítulo do tie-in mutante da megassaga/evento do momento na Marvel, a qualidade caiu, as piadas proliferaram, o nonsense imperou. Badumtiss. Se você consegue rir ao imaginar o Anjo cantando um bregão de Neil Diamond para uma idosa no meio de uma guerra incompreensível entre mutantes, zumbis mutantes, vegetais aliens e cientistas invocadas da terceira idade, com uma reviravolta envolvendo uma invasão demoníaca, então vá ler e seja feliz. Depois procure ajuda profissional. Tem algo errado contigo.
ARQUIVOS DA MANSÃO X
O nosso papo de hoje sobre os velhos tempos dos X-Men vai ser curtinho. Dia desses, vagando pelo Twitter, esbarramos em uma conversa sobre a X-Woman que nunca existiu. Ao menos oficialmente, nos cânones mutantes.
Criada por ninguém menos que Dave Cockrum, o cocriador da segunda e mais bem sucedida geração de X-Men, nos anos 1970, a personagem seria uma anfíbia chamada Silkie, que deveria ter estreado por volta de Uncanny X-Men #150, durante o arco em que Ciclope, sua então mais-que-amiga-quase-namorada Lee Forrester e Magneto tiveram uns dias estranhos numa ilha ainda mais estranha. Mas o senhor Cockrum queria ter algum direito (justo) sobre a nova personagem anfíbia, o que não foi aceito pela Marvel. O camarada ficou chateado, guardou o conceito da mutante para si e pouco depois também se afastaria da mensal X.
Tempos depois, com a graphic novel The Futurians, o artista criou uma nova superequipe, na qual utilizou sua personagem verde e aquática, cujo nome foi revelado como sendo Tracy Winters, uma bióloga marinha que teria recebido uma variedade de poderes ligados à vida marinha. A revista foi bem recebida pelos leitores, mas não obteve o devido suporte da própria Marvel, forçando seu criador a publicar 3 edições posteriormente na editora Lodestone Comics, daí a superequipe foi pro limbo. A última notícia sobre Silkie e seus colegas de equipe dava conta que Rob Liefeld teria adquirido os direitos de publicação de The Futurians.
Coitada. Parece que essa daí nunca teve futuro…