X-Tudo Superior #8

Mutantes se afastando cada vez mais dos humanos, mutantes perdidos voltando à Terra pra tocar o terror, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, não há descanso para os homo superior. E assunto é o que não falta nesse nosso oitavo encontro mutuninha do Arte-Final. Bora lá que a conversa é longa…

NO BRASIL

Nada ainda de X-Men #4 nas bancas, portanto cabe mais uma coluna sobre a edição #3, dessa vez focando em um ponto que sempre foi central nas histórias X e agora mudou radicalmente: a moralidade. Os limites morais aceitos e seguidos pelos alunos de Charles Xavier e seus aliados, ao longo de décadas de histórias.

Claro que em outros períodos aconteceram rompimentos pontuais com as “regras”, mas nada tão drástico, sistemático e amplo como estamos vendo agora. Começando pela rejeição ao sistema judicial dos EUA (e, por tabela, das demais nações), demonstrada na forma como Emma Frost entra e sai do Projeto Aquiles, a prisão de segurança máxima para supercriminosos, quando vai retirar Graydon Creed da custódia, praticamente à força, porém sem usar a força. A Rainha Branca ignora protocolos, autoridade e até mesmo tentativas de intimidação, aproveitando a oportunidade para “demarcar território”, expondo o quanto o sistema jurídico e os trâmites legais são irrelevantes para os mutantes e, ainda assim, estão ali para serem usados por eles para dobrar os humanos.

A proverbial papelada ainda foi seguida e usada, mas de uma maneira que serviu apenas para dizer “não estamos mais sujeitos às suas regras, porém podemos usá-las contra vocês”. E lá vai o Dentes-de-Sabre para Krakoa, seus captores humanos impedidos de fazer algo contra, os mutantes respondem apenas a si mesmos e suas novas leis, sua nova moralidade.

O outro ponto, de certa maneira muito mais relevante para a própria cronologia X, veio na forma de continuidade retroativa, o famoso retcon. Por causa das ações de Moira X, Charles Xavier e Erik Lensherr foram os responsáveis por induzir o Senhor Sinistro a coletar, catalogar e armazenar DNA mutante, por volta do primeiro ano de existência dos X-Men. Um tipo de aliança e missão que altera tudo que sabemos sobre a moralidade do Professor X, mesmo com seus muitos pecados e falhas, mostrados em várias ocasiões. Sinistro já havia cometido atrocidades em nome da manipulação genética desde o final do século 19, teve participação direta nas manipulações e sofrimentos encarados por Scott e Alex Summers na infância, além de ser responsável (posteriormente à essa nova parceria com Xavier e Magneto) pela criação do clone de Jean Grey, a piloto Madelyne Pryor, e ter comandado o Massacre de Mutantes nos túneis dos Morlocks. Se o professor e Magneto tinham noção do futuro, sabiam o que Sinistro faria com Jean, Maddy e os Morlocks. Aceitaram portanto, o que lhes pareceu um mal menor, em prol do que acreditavam ser um bem maior? E se não tinham exatamente essas ocorrências detalhadas nas visões de Moira X, então foram parcialmente responsáveis pelos crimes de Sinistro a partir dessa aliança?

E aí chegamos aos Protocolos de Ressurreição. O tal “bem maior” que Charles e Erik buscavam.

Clonagem não é algo estranho para os X-Men, para os mutantes em geral. O Professor X teve uma segunda chance de vida, depois de ser infectado pela Rainha da Ninhada, justamente tendo sua mente transplantada para um corpo clonado por tecnologia Shiar, ainda nos anos 1980. Mas agora o negócio é mais sério. Os planos de Moira X conduziram os eventos para que, primeiro, os mutantes pudessem ter uma paz relativa, um certo descanso da vida em fuga que sempre levaram, ao terem santuário e abrigo em Krakoa. Em grande número, juntos, com o básico garantido, puderam pensar em metas mais elevadas. Os outros objetivos de Moira, Charles e Erik começaram a ser buscados.

Os líderes e os pensadores unidos decidiram usar os dons dos demais para algo além da defesa e do ataque. Não todos os demais, claro, mas um punhado específico, capaz de realizar o milagre da vida através da clonagem do DNA recolhido pelo Senhor Sinistro. Os Cinco, também descritos como a Máquina de Ressurreição, com a participação de Xavier, justificaram a frase de Magneto aos embaixadores ainda no primeiro capítulo de toda essa saga: “VOCÊS TÊM NOVOS DEUSES”. Aí está outro ângulo da moralidade que antes seria questionado, debatido, talvez rejeitado pelos X-Men, mas agora foi aceito e abraçado mesmo com todas as implicações. Não apenas criar vida, mas fabricar e, ainda mais, desfazer a morte, trazer de volta aqueles que deixam o mundo físico (e nesse mundo ficcional, em várias histórias, foram mostrados seguindo para um mundo espiritual), algo que seria prerrogativa de deuses e não de seres mortais. Esse fato apresenta um rompimento total com a moralidade humana, mesmo dos humanos mutantes. Eles buscaram uma nova moralidade para viver um novo tempo.

Já em questões mais mundanas, na falta de termo melhor, o outro laço moral desfeito ocorreu no âmbito político. Geopolítico, na verdade. Para o reconhecimento de Krakoa como uma nação-estado diante da Organização das Nações Unidas, foi preciso o uso de manipulação psíquica por parte de Emma Frost. A Rainha Branca induziu embaixadores à votar favoravelmente pela causa mutante. Sim, existem antecedentes, como a ocasião em que Magneto usou controle mental a partir de circuitos em seu capacete para manipular a mente de um juiz e do júri em seu julgamento por crimes contra a humanidade, na minissérie X-Men versus Vingadores, de Roger Stern, Marc Silvestri e Keith Pollard. Mas o mestre do magnetismo reconheceu estar errado, sentiu até mesmo remorso por seus atos. Agora, além das ações de Emma Frost terem repercussões globais, o próprio Charles Xavier aprovou a atitude e agradeceu o que considerou um sacrifício feito pela Rainha Branca. Esse ato não deixa dúvidas de que o líder dos X-Men, assim como a população mutante que agora o segue, optaram por uma moralidade completamente alheia aos interesses dos homo sapiens.

Se os mutantes da Marvel sempre foram descritos como uma raça à parte dos humanos, hoje finalmente seguiram um caminho que os coloca acima e bem distanciados da humanidade. Resta vermos o que mais vai mudar com essa nova moralidade dos homo superior.

NOS EUA (ALERTA DE SPOILER, ALERTA DE SPOILER, DEPOIS NÃO RECLAME!!)

Começou a primeira megassaga unindo os vários títulos mutantes da fase Jonathan Hickman. Com um componente místico e extradimensional fortíssimo, usando a tal guerra de Apocalipse contra invasores demoníacos há milênios como ponto de partida, o que vai mexer com as origens de Krakoa, mas também com as tramas desenvolvidas na mensal Excalibur, mostrando os jogos de poder de Opal Luna Saturnyne para o Omniverso Marvel. Tudo é MUITO ambicioso, inclusive pela quantidade de capítulos, 22 ao total. E os dois primeiros já foram publicados, começando com…

X OF SWORDS #1

O nome da saga, literalmente significa Dez de Espadas. Uma das cartas do tarô, que serve tanto para apontar um dos focos da história (o uso de 10 espadas de poder por 10 mutantes para tentar deter os invasores que retornam) como para criar uma estética conceitual de acontecimentos previstos por esse jogo divinatório com baralho especial. O primeiro capítulo foi épico, grandioso, dramático e sangrento. Vários frontes são mostrados. Cable já se coloca duplamente na linha de combate, usando a espada espacial que adquiriu em sua revista própria, quanto tomando o controle de uma estação espacial, de uma certa agência agora desativada, que atendia pelo acrônimo E.S.P.A.D.A., pois a zoeira mutante não tem limites. Já Apocalipse tem interesse especial pelos acontecimentos, inclusive pela possibilidade de reencontrar mutantes que considerava perdidos desde que uma a contraparte de Krakoa, chamada Arakko, foi lançada na tal dimensão demoníaca. E entre esses mutantes, estão seus quatro filhos, que convenientemente são os Quatro Cavaleiros do Apocalipse originais.

Combates, traições, reviravoltas, um duelo/arena é proposto e agora os mutantes de Krakoa precisam enfrentar os mutantes de Arakko em uma disputa até a morte, usando as tais dez espadas de poder. Mas mutantes não temem mais a morte, certo? Certo? Vejamos o que o segundo capítulo mostra quanto à isto…

X-FACTOR #4

Apocalipse e Rictor, pra lá de detonados, são levados às pressas para Krakoa, em busca de tratamento e cura depois de serem feridos nos combates. Já o boa-praça Santo Vaccaro, o mutante revestido de rocha conhecido no Brasil como Pedreira, foi morto na outra dimensão. Aí o caldo engrossa. Os protocolos de ressurreição não funcionam como deveriam, Pedreira é ressuscitado, mas não da forma como deveria. Em uma belíssima sacada dos roteiristas, interpretaram a morte de um mutante no mundo extradimensional de Opal como algo semelhante à passagem pelo Portal do Destino, artefato místico dado por Roma, antiga chefe de Opal, aos X-Men na saga A Queda dos Mutantes, no final dos anos 1980. Antes, quem passasse pelo portal teria uma segunda chance de vida, renascendo com outra trilha no destino, muitas vezes sem recordação da vida anterior. Pois agora, morrendo no tal mundo místico, o mutante até pode ser ressuscitado pelos Cinco, só que é uma versão inteiramente nova, possivelmente até uma variação multiversal extraída de seu universo e incorporada em seu novo corpo.

Na prática, o mutante de Krakoa que morrer no tal combate das Dez Espadas contra os mutantes de Arakko e os invasores demoníacos não vão mais poder retornar à vida pelos Protocolos de Ressurreição, seu corpo clonado receberá uma versão totalmente nova e desconhecida de sua mente. Ao final, Polaris usa partes das rochas do Pedreira que morreu definitivamente para criar um memorial que também servirá de local para rituais nesse combate que se aproxima. Uma profecia implantada na mente de Lorna descreve os prováveis mutantes destinados a usar as espadas de poder. Como não poderia deixar de ser, Illyana Rasputin e sua espada mística são os primeiros a se alistar no combate. A guerra está prestes a começar…


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