X-Tudo Superior #9

São tempos de esperança para os mutantes, mas tem algo sinistro por trás de tudo isso. Vamos falar hoje sobre um dos mais hediondos personagens da Marvel, que agora é revelado como um chapa dos grandes líderes mutantes. Afinal, o Senhor Sinistro era mesmo tão inimigo assim dos X-Men?

NO BRASIL

A saga binária que se divide entre Dinastia X e Potências de X está prestes a ser concluída no Brasil pela Panini com a publicação de X-Men #4 e, por tudo que já vimos até agora, um personagem em especial conseguiu destaque controverso, dúbio, conflitante e, não poderíamos perder a piada, SINISTRO. É, ele mesmo, Nathaniel Essex, o Senhor Sinistro. Com os planos malucos de Jonathan Hickman, esse cientista amoral sofreu várias alterações, algumas delas compreensíveis diante das mudanças causadas por Moira MacTaggert, outras difíceis de conciliar com sua história mesmo com as manipulações da escocesa-agora-revelada-como-mutante.

Puxar Sinistro para uma condição de aliado à serviço de Charles Xavier foi uma sacada esperta de Jonathan Hickman. Claro que isso gera comentários entre os leitores, afinal, é um dos personagens mais hediondos da Marvel, agora trabalhando com os mutantes que são, digamos, gente boa. Além disso, rende duas situações previsíveis porém úteis para as histórias. Atritos e conflitos constantes causados por rancores antigos e desconfianças inevitáveis… E a certeza de que Sinistro vai aprontar alguma das suas, mais cedo ou mais tarde. Ele é um excelente personagem mau, pra deixar as histórias previsivelmente imprevisíveis.

Só que, para quem conhece a história de Essex, tem muito desencontro com essa nova fase X. Não que ele tenha tido um primor de continuidade, nas suas três décadas e poucos anos de existência. Quando surgiu, era um vilão canastrão, caricato, de visual constrangedor, com motivações meio nebulosas, pra não dizer mal ajambradas. Foi apresentado como o mentor intelectual do Massacre de Mutantes, responsável por reunir e enviar os Carrascos para exterminar os mutantes alojados nos subterrâneos de Nova Iorque. Apelidados de Morlocks e liderados por Calisto, sob as ordens de Ororo, os pobre coitados foram encurralados, caçados e executados aparentemente para atender a vontade de Sinistro de eliminar mutantes que ele julgou indignos. Nesse ataque, também vimos Sinistro enviando a mutante sem forma física, codinome Maligna, que tomou posse da mente de Lorna Dane, a Polaris. E, em outro fronte, atacou Madelyne Pryor, quase matando a clone de Jean Grey e sequestrando o então bebê Nathan Summers.

As ações de Sinistro levariam à dois outros conflitos, direta e indiretamente. Por conta do Massacre, Ororo buscaria restaurar seus poderes (que haviam sido retirados pela tecnologia do também mutante Forge) e assim envolveria os X-Men em uma guerra sobrenatural contra o Adversário, uma entidade mitológica dos nativos norte-americanos, mostrada na saga A Queda dos Mutantes. Tempos depois, Madelyne, revoltada com o abandono de seu marido Scott Summers e desesperada para saber o que havia acontecido com seu filho Nathan, aceitaria um pacto demoníaco com Nastyrth e Sym, que planejavam tomar o Limbo do controle de Illyana Rasputin, dos Novos Mutantes. Foi a fagulha que acendeu a saga Inferno.

Depois de tudo isso, Sinistro perderia cada vez mais relevância ou importância, até que uma minissérie já na segunda metade dos anos 1990 explicaria suas origens, motivações e elos com a raça mutante. E que bela história, infelizmente subestimada e injustiçada. Aqui no Brasil, As Novas Aventuras de Ciclope e Fênix contaram, em uma minissérie de duas partes, a trágica história de um cientista do século 19, Nathaniel Essex, atormentado pela condição humana, os limites morais da sociedade e o que considerava amarras responsáveis por limitar a ciência. Inconformado pela perda de um filho, cada vez mais distante de sua esposa gestante e até mesmo dos laços mais básicos com as demais pessoas, Essex passou a usar indigentes e vítimas de deformações, muitos deles mutantes, para seus estudos e experimentos, com a ajuda de marginais auto intitulados como “Os Carrascos”.

Mas a obsessão e a genialidade de Nathaniel também atraíram a atenção de um ser ancestral, com uma falta de humanidade superior à do cientista. En Sabah Nur, o Apocalipse, concedeu tudo que ele queria, mas ao custo de sua humanidade. Inclusive, em um sentido mais literal, já que inseriu o gene X no DNA de Essex, fazendo dele uma mutação, embora não fosse um mutante de nascença. Um ancestral de Scott Summers escaparia das garras de Sinistro, mas isso levaria ao ponto mostrado em outras histórias, em que Ciclope e Destrutor, ainda crianças, teriam sido capturadas e manipulados por Essex.

Mais de uma década depois dessa mini, vimos uma nova abordagem de Sinistro, por Kieron Gillen na mensal Uncanny X-Men, mostrando uma cidadela ocupada por centenas de cópias de Nathaniel Essex, optando por uma mudança em seu comportamento e personalidade, mais afetado, irônico, beirando a insanidade non-sense. E nessa mistura e na soma de retcons, vemos agora que, pelo menos desde os tempos em que Charles Xavier estava iniciando sua Escola Para Jovens Super-Dotados, tanto ele quanto Magneto sancionaram as ações do Senhor Sinistro, colocando-o em papel ativo, porém sigiloso, em um dos aspectos mais impactantes no plano de longo prazo que resultaria na criação da nação de Krakoa. É onde tudo se torna de um cinza tenebroso, onde a própria história do personagem se contradiz.

Começando pelo momento em que Nathaniel Essex recebe DNA mutante em seu corpo. De acordo com a história da minissérie escrita por Peter Milligan nos anos 1990, foi Apocalipse quem transformou o cientista em um super-humano aprimorado, inserindo o gene X e refazendo todo seu organismo. Agora vemos o próprio Sinistro dizer que mexeu com DNA de algum mutante e criou uma cópia de si que foi aprimorada como um amálgama homo sapiens/homo superior, mas ainda mais volátil e imprevisível do que ele mesmo ou suas outra cópias. Logo a seguir, esse Sinistro mutante mata o Sinistro que seria o líder da comunidade de sinistros, diante de Charles e Magneto. Esse, então, seria o mesmo personagem que clonaria Madelyne Pryor, causaria a tragédia do Massacre de Mutante, além de provocar indiretamente os eventos A Queda dos Mutantes e Inferno. Também ficou estabelecido que o mutante do qual o DNA foi extraído para criar esse Sinistro foi John Proudstar, o primeiro Pássaro Trovejante, que morreu na primeira missão oficial da segunda equipe dos X-Men.

Se Jonathan Hickman queria atrair a atenção dos leitores de longa data, só isso já bastaria. Mesmo para uma superequipe de heróis acostumada a conceder segundas chances ou mesmo aceitar ajuda de mutantes criminosos, terroristas e assassinos sociopatas, tentando alcançar um bem maior, essa associação com o Senhor Sinistro foi além de qualquer escala. Ele não apenas causou problemas e sofrimento para vários alunos de Xavier, ao longo dos tempos, mas atuou diretamente em um dos mais cruéis ataques à raça mutante, mantendo também um constante “trabalho” de pesquisas genéticas totalmente condenáveis ao redor do mundo, em laboratórios que são verdadeiros pesadelos de tortura e abominações.

Agora ele é revelado não apenas como um dos mais importantes elementos dos planos de Xavier, Magneto e Moira, como passou a ser aceito livremente em Krakoa, com um bônus surpreendente. Nathaniel Essex faz parte do Conselho de Krakoa, o grupo de 12 representantes que literalmente reúne o poder de legislar, julgar e governar a nova nação mutante. Em meio à todo o drama, ação, pirotecnia e revelações das sagas Dinastia X e Potências de X, o fato de que o Senhor Sinistro foi mais do que “anistiado”, na verdade foi sancionado com muita antecedência, desde os primórdios dos X-Men e passou impune por todos os seus crimes e atrocidades, para agora ser recompensado com um status invejável, talvez esteja escapando à atenção dos leitores.

Não vamos nem falar sobre o quanto isso é incompatível com tudo que sabemos sobre o professor Charles Xavier. O mais chocante é ver que o roteirista colocou Magneto, vítima dos nazistas na Segunda Guerra Mundial, de braços dados com um geneticista amoral, que é basicamente um humano aprimorado com DNA mutante roubado, que é declaradamente responsável por extermínios, genocídio e laboratórios que usam pessoas como cobaias. Talvez seja uma falha no planejamento do próprio Hickman. Ou, talvez, seja algo mais. Um indicativo de que esses realmente não são mais os X-Men como sempre os conhecemos…

NOS EUA – X OF SWORDS CONTINUA

WOLVERINE #6

E lá vai Benjamin Percy com sua canastrice estragar o que poderia ter sido dois bons capítulos da saga. Na mensal do Logan, já começa com ele intimidando Krakoa (?), depois atochando as garras no Samurai de Prata PORQUE SIM, daí vemos um novo personagem ser mostrado com toda sutileza que seria de se esperar desse roteirista. Pelo menos a arte do fã do Greg Capullo compensa. Logan parte em busca da espada Muramasa e tudo só pode seguir pra choro e ranger de dentes. Bom, não se salva muita coisa. Bora logo pra sequência…

X-FORCE #13

A gincana mutante em busca de espadas de poder segue em frente, agora com Logan nos quintos dos infernos procurando pela mística espada Muramasa. Eu não vou mentir que acho Benjamin Percy um roteirista fuleiro. Então perdoe a minha má vontade. PENSE NUMA HISTÓRIA CHATA E CHEIA DE VÍCIOS SÁDOMASOQUISTAS. Ok, já entendemos que o Logan tem fator de cura e até mesmo uma tendência autodestrutiva. Mas já encheu isso de botar o sujeito sendo mutilado, esfolado e moído a cada dois quadros. Além de tedioso é ridículo. E dessa vez foi pior, ele acabou sendo… Sei lá, derretido? Toda a musculatura foi escarafunchada do coitado e ficou somente o esqueleto de adamantium lá deitado com os olhinhos, OS OLHINHOS preservados, enquanto o corpo se refazia músculo por músculo. Ainda que se argumente que teve um componente místico ou sobrenatural aí, por ele estar em uma filial do inferno, a coisa toda foi idiota. Besta e direcionada pra quem tem problemas, só pode. Outra coisa, ele levou não sei quantos dias pra realizar isso. O que criou um puta furo no esquema geral da saga, mas isso a gente vai ver no próximo review…

MARAUDERS #13

Aí, sim. Uma história. Não um amontoado de palavras inúteis e sequências que nem fazem muita diferença, torturando o leitor até a última página. AQUI SIM TEM GIBI DOS BONS. Vita Ayala conseguiu contar em 22 páginas o que parece um arco inteiro. Ororo se vê em um dilema, ao precisar da espada mística que está destinada a ser empunhada no combate contra os invasores de Arakko, pois a arma pertence ao reino de Wakanda. O problema é que a retirada da espada pode causar graves consequências religiosas, políticas e sociais no país do Pantera Negra. Entre o dever para com Krakoa e os seus sentimentos por T’challa e seus familiares, Tempestade não tem escolha e parte determinada a trazer a lâmina sagrada dos wakandanos. Do começo ao fim, temos uma história que pode facilmente figurar entre uma das melhores de Ororo e dos próprios mutantes. Não há desperdício de diálogos, de interações ou de sequências.

E tudo é contado com total coerência. Inclusive em pequenos detalhes, como o cuidado em usar um aspecto bem próprio da personagem, seu passado e habilidade como ladra, servindo para a invasão e literalmente furto do artefato em um cofre-bunker de Wakanda. Embora a maior parte das interações tenha sido entre Ororo e Shuri, irmã de T’Challa, com uma intensidade narrativa primorosa, o rápido “embate” entre a senhora dos ventos mutante e o rei de Wakanda teve um impacto ainda maior, justamente por não acontecer nenhum conflito físico ou antagonismo. Eles orbitam um ao ao outro, sem repelir, porém sem se permitirem aproximar. O estrago está feito e mais uma vez os compromissos desses dois heróis e amantes causa um afastamento. Vamos ver o quanto isso vai durar… Ah, sim, Ororo resolve tudo isso em cerca de 24 horas, pela urgência e desespero da situação. O rapaz lá que escreve Wolverine botou o personagem zanzando por 3 dias ou mais. Até nisso, seu Percy??


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