Chegamos à quarta edição da revista mais querida dos anos 1990 da Editora Abril. Nessa edição, temos duas histórias da Mulher-Maravilha do George Pérez (as edições originais de Wonder Woman #18 e #19).
Aqui, o Pérez continua contando a viagem da Diana pra Grécia e como ela se recuperou depois de ter desmaiado na última edição. Antes disso, ele mostra um acordo entre os principais deuses olimpianos, Zeus, o deus dos céus, Poseidon, o deus dos mares, e Hades, o deus do submundo. Eles se encontram e decidem construir um novo Olimpo juntos.
Voltando pra Mulher-Maravilha, ela parece estar se recuperando bem, mas ainda sem saber o que houve. Apenas que naquela ilha que eles passaram tem muita magia. Descobriram que lá mora uma rica excêntrica que nunca sai de lá. Apenas seu empregado sai duas vezes por ano pra comprar mantimentos. Porém, alguma coisa estranha está acontecendo no lugar. Os nativos estão se comportando de forma estranha. Todos temem a “bruxa da ilha” e querem que a Diana vá pra mais longe possível de lá, com medo de alguma represália da tal bruxa.
Contudo, não adianta e vemos vários habitantes do local se transformando em uma mistura de homens com animais (parece que esse era um tema recorrente, e já vamos ver mais na história do Homem-Animal). Diana acaba salvando Vanessa de um incêndio e vê que ela está com um pergaminho. As criaturas encontram elas e começa uma luta entre Diana e os homens-animais. Na página seguinte descobrimos quem é a “bruxa da ilha”: Circe.
Circe acaba conseguindo prender a amazona e como todo bom vilão de história em quadrinhos, conta toda a sua história e seus planos. Ela acaba falando um pouco sobre mitologia, da guerra dos titãs com os olimpianos e da energia liberada, que deu origem aos Novos Deuses. Diana acaba descobrindo porque do interesse de Darkseid nela (não queria casar com ela como em Superamigos). O vilão acreditava que os olimpianos eram descendentes dos Novos Deuses de Nova Gênese e Apokolips. Circe está prestes a matar a Maravilhosa quando Hermes intervém e acaba libertando-a. Ela fica sem saber direito o que aconteceu e a Circe some.
O ritmo da história melhorou muito desde as primeiras publicadas em DC 2000. Todo o pano de fundo que o Pérez cria com mitologia deixa tudo muito mais interessante. É legal também comparar com o que o Brian Azzarello e o Cliff Chiang fizeram nos Novos 52. O Pérez foi bem mais conservador na caracterização, com aquelas imagens que costumamos ver em esculturas gregas clássicas. Eu prefiro a versão mais recente. O Poseidon retratado como uma criatura marinha de verdade é muito mais legal.
De qualquer forma, essa foi uma ótima reintrodução dessa personagem na mitologia da Diana.
A segunda história da revista é uma curta com a origem da Flama Verde, que ficou mais conhecida aqui como Fogo. Beatriz Bonilla DaCosta é brasileira (provavelmente da capital, Buenos Aires, mas diz que cresceu nas praias do Rio de Janeiro) e usava seus talentos pra se livrar de encrencas.
Começou como modelo, tirando fotos de biquíni, quando foi convidada pra ser dançarina numa boate do Rio. Depois de ser despedida por ter acabado com o negócio da venda da boate, decidiu que o melhor emprego pra ela seria no SNI (Serviço Nacional de Inteligência) como agente secreta do governo brasileiro. Mas ela acaba sendo muito desleixada e, numa missão em que vai resgatar o filho do seu antigo patrão, o Seu Chico (?!?!?), ela acaba disparando sua arma de piroplasma, provocando uma grande explosão. E é assim que ela consegue seus poderes.
Aparentemente, no começo, ela não podia virar uma chama verde viva, ela só conseguia cuspir um fogo verde. Com esses novos e maravilhosos poderes, ela consegue fugir antes que a polícia local chegue e acaba se juntando aos Guardiões Globais, que eram uma Liga da Justiça baixa renda, desde que sua identidade permaneça secreta.
Impressionante a visão que os norte-americanos têm (ou tinham) do Brasil. Começa com o nome chicano. Bonilla que vale só o Héctor. Depois mostra a brasileira como uma mulher fútil, não muito inteligente, que só sabe ganhar a vida com o corpo. Durante a passagem dela pela Liga da Justiça Internacional, essa imagem foi ainda mais reforçada (lembro de uma história em que todos os membros corriam risco de serem despedidos, e ela passa algum tempo com a pessoa responsável, a portas fechadas, e sai não só com o emprego garantido, mas com um aumento de salário). Só muito tempo depois a DC tentou transformá-la numa verdadeira agente secreta, com habilidades dignas do James Bond.
Mas o fino realmente ficou pro final. A segunda edição de Homem-Animal aprofunda ainda mais a história desse herói lado B. Ele continua com a investigação da massa disforme que apareceu nos Laboratórios D.E.L.T.A., que na verdade são vários macacos fundidos num único organismo. O chefe do laboratório conta que alguma coisa invadiu a instalação, uma barata gigante. Buddy garante que consegue rastrear, desde que tenha acesso a um cachorro pra duplicar seu olfato.
O herói segue o rastro até a cidade, mas perde a trilha. Ele resolve parar pra almoçar e acaba conhecendo o Super-Homem, que o viu ali e resolveu parar pra falar oi. Tão rápido como ele chega, o Azulão sai voando para impedir uma catástrofe qualquer. Quando o Homem-Animal liga pra esposa falando que conheceu o Kal-El e ela quer que ele o convide pro jantar, aparece uma criatura meio homem, meio rato, e começa a lutar com nosso herói. Achando que a linha caiu, a mulher do Buddy pega a filha Maxine e vai com ela pros bosques que ficam próximo à casa deles. Lá, ela encontra com um grupo de caçadores nada amistosos.
Voltando à luta, ela é bem sangrenta pros padrões da época. O tal homem-rato é bastante forte e ágil, e tá dando uma surra no Buddy. Ele não tem nenhum animal ao redor para absorver as habilidades. Consegue captar as de um louva-deus, a força e a velocidade, mas isso não foi suficiente. Com um rápido golpe, o homem-rato acaba decepando o braço do Homem-Animal, que é deixado sangrando até a morte, terminando assim a edição.
O nível da história que o escocês Grant Morrison está contando é altíssimo. Impressionante como todos esses autores da chamada Invasão Britânica pegaram personagens descartáveis e criaram runs inesquecíveis, como foi o caso do Neil Gaiman em Sandman e Alan Moore em Monstro do Pântano. A forma como o Morrison termina essa edição nos deixa muito apreensivos com o que vai acontecer e como o Buddy vai se safar dessa. Não é todo dia que o herói é deixado sem um braço pra sangrar até morrer sem ser de forma gratuita.
Vamos ver como ele consegue se livrar na próxima edição, que contará com mais uma história da Mulher-Maravilha e a volta do Xeque-Mate.