Ás Inimigo: Um Poema de Guerra

5.0

NOTA DO AUTOR

Pergunta recorrente entre colecionadores: “qual item da tua coleção tu salvaria em caso de incêndio?”

Eu não saberia responder. Minha coleção de histórias em quadrinhos não é tão vasta, mas tudo o que tenho possui um grande valor sentimental. Porém, há aquelas consideradas especiais, seja pelo caráter histórico, seja por estarem ligadas a algum momento da minha vida. Talvez esse gibi fosse Ás Inimigo: Um Poema de Guerra.

Saiu por aqui nos idos de 1995 pela editora Abril, em um serviço de compra por telefone. Lembro de ser caro e de não caber no orçamento de um garoto de 11 anos. Só fui ler Ás Inimigo: Um Poema de Guerra já adulto, quando um primo-irmão, já falecido, a encontrou em um sebo de Curitiba, se bem me lembro. Herdei a edição quando ele se foi, em 2012. O Ás Inimigo do título se trata do piloto de avião alemão fictício Hans Von Hammer, “O Martelo do Inferno”, que combateu na Primeira Guerra Mundial, criado pelo roteirista Robert Kanigher e pelo desenhista Joe Kubert em 1965, para a DC Comics. No início dos anos 90, o escritor e pintor George Pratt pariu Um Poema de Guerra, com dedicatória ao avô “velho louco bonachão que podia soltar no ar grandes baforadas de nostalgia e humor com seu cachimbo, desfiar longas lorotas sobre os tempos do boom petrolífero e, ainda assim, ter os dois pés firmemente plantados no chão”.

A história tem início com Von Hammer sendo abordado por um jornalista inglês que está preparando uma matéria sobre veteranos de guerra alemães. No decorrer do quadrinho, ambos compartilham experiências (Edward Mannock, o jornalista, serviu no Vietnã) e falam sobre morte e vida, escolhas, medos e compaixão. A certa altura, em uma das páginas duplas mais lindas do gibi, Von Hammer recorda de uma noite de Natal durante a Primeira Guerra, onde soldados ingleses e alemães confraternizaram em meio às trincheiras, enquanto bebiam rum e falavam sobre suas famílias.

 

 

Ás Inimigo: Um Poema de Guerra é daqueles poucos casos em que fica complicado dizer qual o melhor, se roteiro ou arte. George Pratt equilibra tudo muito bem. Ao mesmo tempo em que cria cenas viscerais de combate e demonstra controle absoluto da narrativa e conhecimento do tema tratado na obra (basta verificar as batalhas aéreas, na neve, na lama, e os sketchs ao final da edição), brilha nas cenas de conversas entre Von Hammer e Mannock. Pratt acerta nos ângulos, na clareza da narrativa, no texto que parece piegas muitas vezes, mas funciona.

Publicado uma única vez no Brasil e difícil de ser encontrado, é para ser lido e relido sempre que possível. Talvez, hoje, pareça só mais um conto de guerra tentando tirar algo de construtivo de tanta destruição causada pelo homem, mas é forte, tocante, bonito e atemporal, pois trata de ouvir e contar histórias. Histórias de guerra, se for o caso. Afinal, cada um tem a sua.

 

  

Roteiro: George Pratt.

Arte: George Pratt.

Editor: Kevin Dooley.

Capa: George Pratt.

Publicação original: Enemy Ace: War Idyll (outubro de 1990).

No Brasil: agosto de 1995.

Nota dos editores:  3.6


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