Independente do segmento da cultura pop, a sequência sempre será um desafio para a obra. Álbuns de música, filmes e livros que fizeram sucesso na sua primeira aparição, terão sempre a incômoda sombra da comparação lhes perseguindo. O jogo em questão sofre disso. O ano era 2013, e o estúdio NetherRealm, mais conhecido pela produção dos Mortal Kombat para PS3 e Xbox 360, apresenta ao mercado Injustice: Gods Among Us. Jogo de luta que aproveita a mecânica dos jogos anteriores do estúdio, utilizando os personagens do Universo DC. Apenas essa frase já seria boa para vender o jogo, porém, podemos adicionar a ela um modo história que coloca o último filho de Krypton como antagonista principal. Tal campanha e a dinâmica de jogo fez com que Gods Among Us se tornasse um dos principais lançamentos daquele ano.
Devido ao sucesso de crítica e vendas, a confirmação de uma continuação era questão de tempo. Dito e feito: em 2016, NetherRealm e WB Games repetem a parceria e anunciam Injustice 2. Lançado apenas para os consoles da nova geração em maio deste ano, o jogo replica a jogabilidade do seu antecessor e adiciona novas funções, que aumentaram a complexidade de uma simples partida. A opção de luta única não se resume a apenas escolher seu personagem favorito, mas, também, por exemplo, escolher qual indumentária ele utilizará durante o combate ou quais habilidades extras o mesmo terá. Um descuido nessa seleção pode resultar em uma derrota.
O jogo desenvolve o combate usual em duas dimensões, por outro lado, o cenário em 3D disponibiliza objetos para interação durante os rounds. As arenas apresentam uma divertida transição de cenários (com easter eggs), e até são úteis, dadas as intrusões das locações durante os combates. A permanência do medidor super no canto inferior da tela informa o jogador a possibilidade de realizar golpes com maior dano e, quando totalmente preenchido, libera a opção do supergolpe: após apertar R2 + L2, caso não bloqueado pelo oponente, o seu lutador irá iniciar uma sequência de movimentos e golpes indefensáveis, e isso, é claro, durante animação exclusiva para cada personagem.
Em relação ao menu de seleção de personagens, novas adições foram feitas, além dos já esperados Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Flash e Lanterna Verde, há mais vinte e três lutadores, sendo quinze novos para a série Injustice, como Monstro do Pântano, Nuclear, Atrocitus, Gorila Grodd e o Pistoleiro. DLC’s para a adição de Darkseid (já disponível), Estelar, Capuz Vermelho (também disponível) e Sub-Zero serão ofertados para os jogadores. “Skins Premium” para personagens, também, podem ser obtidas, transformando a Supergirl em Poderosa, Flash em Flash Reverso, Robin em Asa Noturna, Hal Jordan em John Stewart, entre outros.
“Cada Batalha Define Você” é uma das frases utilizadas na divulgação de Injustice 2. Ela se dá devido um novo sistema, responsável pela já citada maior complexidade do jogo. Lutas vencidas dão para o seu personagem recompensas, como vestuário, armamento e skins exclusivas, estas além de modificar a aparência do seu herói, irão modificar atributos como força, defesa e velocidade, e ainda aumentar sua resistência ou seu dano em luta contra algum personagem específico. Essa novidade faz com que toda uma estratégia tenha de ser feita com base no seu oponente, antes de iniciar uma luta.
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Um trunfo do primeiro Injustice foi o modo história, que aliado a um enredo bem construído e, de certa forma, original, consegue a façanha de trazer algo novo para o gênero luta; e isso é exatamente o que a aludida sequência tenta reproduzir. E, cá entre nós, Injustice 2 já ganha pontos por agregar à versão nacional as vozes do Timmverse – a exemplo de Guilherme Briggs, como Superman. Além disso, o potencial dos consoles da nova geração aperfeiçoa a qualidade das animações apresentadas entre as lutas no modo campanha.
A história aqui, menos inspirada que a antecessora, tem início com a destruição de Krypton por Brainiac; e através dos olhos de Kara Zor-El, somos testemunhas dos últimos instantes do planeta, bem como o exato momento em que a personagem é colocada em uma cápsula shuttle rumo à Terra. Em outra espaçonave está o seu primo mais famoso, porém a viagem de Kara logo é desviada por destroços do mundo recém-destruído. Finda a introdução, o plot principal tem seu lugar dois anos após os acontecimentos de Gods Among Us.
Entrementes, em uma das Terras Paralelas¹, Batman tenta manter a paz após derrotar o Regime do Superman, mantendo-o preso em uma jaula com luz solar vermelha, contudo uma nova ameaça ao planeta surge quando Brainiac descobre que ainda há um kryptoniano vivo no universo. Essa, inclusive, é também a premissa da nova fase (ainda inédita por aqui) da série em quadrinhos online; sucesso de público e crítica, e que conta até o momento com sete TPBs e dois HCs publicados no Brasil.
¹ Dessa vez, o conceito de Multiverso é pouco explorado no modo história, e só ganha espaço mesmo em outras opções do jogo, a serem abordadas a seguir.
O plot principal interessante deixa os secundários menos atrativos, os motivos de lutas entre personagens antes do regime autocrático e da antiga resistência, o pouco aprofundamento d’A Sociedade liderada pelo Gorila Grood, além da inclusão de personagens desnecessários a história, como o Coringa – quem jogou o primeiro, sabe o porquê –, faz com que a campanha do primeiro jogo seja superior como um todo, embora a presença de finais alternativos dê conclusões acima da média em ambos os casos.
Mas o jogo não é feito só de modo campanha: existe o multiplayer, com bom servidor e uma quantidade respeitável de jogadores online, com rankeamento de acordo com os pontos ganhos nas lutas. Uma das grandes novidades é o modo Multiverso: nele, o Irmão Olho construído pelo Batman, vasculha e alerta sobre ameaças às infinitas Terras, então, diferentes desafios são lançados periodicamente; nesses, vale dizer, há modificadores tanto no estilo de luta dos oponentes quanto nos cenários. Como recompensa pelos desafios, é possível abocanhar desde créditos para compras dentro do jogo, até Caixas Maternas, com novos gadgets para batalha.
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Apesar de ser um pouco inferior ao antecessor no modo história, Injustice 2 ganha mesmo é na assombrosa variedade de opções no modo jogo. Segue sendo um game obrigatório não apenas para fãs de jogos de luta, mas, sobretudo, para os leitores do Universo DC. O modo história dura cerca de 3 horas, porém os ilimitados desafios e lutas multiplayer online, faz com que na relação “custo x diversão” o bolso do jogador saia em vantagem. A mídia física e digital está disponível para PS4 e Xbox One com valor médio de R$ 239,99; a edição especial conta ainda com o blu-ray da boa animação Liga da Justiça Sombria, lançada no inicio deste ano, pelo mesmo valor.